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O que significa ser conservador? Parte 1
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Esperando respostas do engenheiro do tempo
Mesmo angustiado, consciente, revoltado
Acreditava que os nossos problemas
Fossem embora com o tempo

(Dissidentes)

 

A crescente insatisfação com o Governo Federal vem reunindo diversos opositores sejam eles liberais, esquerdistas mais radicais, republicanos e “conservadores”.

Chama a atenção o número de pessoas que se dizem conservadoras. Sob este rótulo encontram-se os defensores do militarismo, dos bons costumes, da família tradicional, etc.

Muitos dos que se afirmam conservadores usam o rótulo como se ele se referisse a uma “ideologia do bem”, que luta contra o mal, no caso a corrupção, o comunismo, a degradação dos valores da família.

Mas, o que significa ser conservador?

O conservadorismo não é uma ideologia (ou uma teoria da justiça), como é o liberalismo, o igualitarismo, o republicanismo, o utilitarismo, o feminismo, etc.

O conservadorismo pode ser entendido em dois sentidos, que se interrelacionam.

Pode ser um posicionamento em relação a uma ideologia, ou um meio para se atingir um fim. Em qualquer das acepções o conservadorismo não é um fim em si.

O conservadorismo, como posicionamento, prega a preservação de uma ideologia de caráter moral (para a vida privada) ou político (para a vida pública).

Um kantiano convicto defende o conceito patrimonialista (tradicional) de família, ao reconhecer que: “A união sexual de acordo com a lei é o casamento (matrimonium), isto é, a união de duas pessoas de sexos diferentes para a posse por toda a vida dos atributos sexuais recíprocos.” (KANT, E. Metafísica dos Costumes, p. 122).

Este Kantiano, assim como alguns religiosos, sente-se afrontados por outras formas de união e de relacionamento amoroso entre estas pessoas. São, portanto, conservadores, em relação à doutrina moral que eles acreditam ser a verdadeira (em termos de certo e errado para a vida privada).

Mas, a questão, como afirma John Rawls em seu Liberalismo Político, é que numa sociedade democrática moderna não existe uma doutrina moral absolutamente verdadeira, em razão do pluralismo moral, religioso e filosófico. Aliás, tal perspectiva ressoa nos arts. 1º, V, 3º, IV, 5º, VI, VIII e 19, I da Constituição do Brasil.

Portanto, esta primeira acepção de “conservadorismo” é problemática. Seja porque diz respeito à vida privada (e, portanto, não pode ser transportada para a esfera pública como se fosse a última palavra em termos de valores), seja porque ninguém tem o direito de impor sua vontade moral à força. Não é que tais valores não possam participar do debate público. É que eles não poderão ser impostos, devendo passar pelo crivo do debato democrático.

Então, dizer-se conservador em relação a certa doutrina somente faz sentido para a própria pessoa que a professa. Mesmo no seio da família, um “conservador” somente poderá propalar/impor seus valores aos filhos menores de idade, pois, os emancipados (capazes) tem o direito de formarem sua convicção de vida boa, sem que uma autoridade paternal(ista) interfira nas suas escolhas.

Aliás, muitos desses conservadores conseguem promover “acoplamentos” práticos “interessantes” em suas proposições, como se fosse possível unir o ideal de liberdade kantiana com a direção de consciência religiosa. Tudo isso é misturado no liquidificador das convicções pessoais, juntamente, com os movimentos “anticorrupção”.

A par dessa miscelânea, esses conservadores sentem-se ainda mais inspirados a levarem a bandeira da Justiça adiante, pelas ruas da cidade.

Mas, para ser contra a corrupção não é necessário ser um kantiano, um religioso ou um liberal. Ateus, agnósticos, utilitaristas, comunistas, ou mesmo pessoas que não tem um posicionamento ideológico bem construído são contra a corrupção!

Em suma: o conservadorismo como sinônimo de bons costumes (morais), que luta contra a corrupção não tem mais chances de ser a melhor coisa para vida pública, do que qualquer outra posição ideológica, que também luta contra a corrupção.

Mas, não é somente deste conservadorismo sobre o qual devemos refletir. Há outra visão conservadora (política), a ser considerada. Este é o assunto do próximo post.

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