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Repetência,  alfabetização e aprovação escolar
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Não se você deseja, mas eu quero muito poder ver na internet as provas aplicadas aos professores paulistas. Segundo o editorial Mestres reprovados( FSP,27 de jan.) 40% dos mestres submetidos ao exame de certificação foram reprovados, ou seja, obtiveram nota abaixo de cinco, mas diante da falta de professores muitos desses reprovados serão chamados para preencher a necessidade de levar adiante a programação letiva escolar pública de 2010 – o que você pensa dessa situação? Concordaria em deixar que seu filho ou parente recebesse a orientação de quem não está suficientemente habilitado a ministrar aulas? A reportagem Pesquisa revela o que o Brasil pensa da escola pública, de Tatiana Duarte e Anna Simas, publicada em 2009 na Gazeta do Povo , continua estabelecendo excelente reflexão, caro leitor.


Veja que o Brasil tem a 15º maior taxa de repetência entre 150 países

A REPROVAÇÃO ESCOLAR provoca certamente muitos problemas, mas considero justo, quando um professor comprometido seriamente com o seu trabalho, depois de inúmeras tentativas metodológicas, vê-se obrigado a reprovar um estudante, afinal, diante de exigências conceituais e de aplicações da teoria a criança ou o jovem não demonstra a autonomia necessária, nada mais natural do que mantê-lo vinculado à série, por meio de uma dependência de disciplina. É claro que em proporções diferentes temos muitos casos de reprovados nos testes de trânsito, no exame da OAB e nem por isso, as pessoas e os pais dos candidatos se descabelam.

Gosto da idéia de dependência por disciplina, porque oportuniza ao estudante o cumprimento de uma dupla jornada de obrigações para levar adianteo compromisso com a dependência e prosseguir com as disciplinas do ano ou semestre em questão. É um aprendizado disciplinar à responsabilidade estudantil e uma solução pedagógica eficiente.

NESTE ANO DE 2010 estou particularmente interessada na 1ª série do ensino fundamental; quero ver por que nossas crianças e jovens leem tão mal e escrevem com inseguranças. Tenho um duplo interesse nessa questão: uma pesquisa pessoal de alcance pedagógico e a redação de um livro para ser usado na 1ª série do EF. Vou puxar muitas conversas com o maior número de professores e crianças da 1ª série, examinar o material de apoio e avaliar o que leem e escrevem. Já tenho, entretanto, algumas hipóteses para a falta de autonomia com a leitura e a escrita; veja se você concorda comigo, prezado leitor:

> A maioria dos professores das primeiras séries não sabe alfabetizar, em razão da má formação obtida na universidade ou faculdade que habilita profissionais ao magistério. A solução? Rever as disciplinas preparatórias dos cursos de pedagogia, que habilitam os profissionais ao magistério das séries iniciais do ensino fundamental ou reativar os cursos de ensino médio equivalentes ao antigo curso de formação de professores, êxito histórico pedagógico deixado de lado pelas administrações públicas das três últimas décadas.

> Há insufiência de estímulos no ambiente educacional – A escola precisa ser um espaço de estímulos culturais constantes; recepção simpática e acolhedora, arquitetura que indicie preocupações educativas, corpo docente bem preparado aos desafios anunciados em panfletos, sites ou momentos políticos, festejadíssimos pelos gestores públicos. Sem estímulos suficientes as crianças e os jovens encontrarão fora da escola o que lhes prenda a atenção e desperte a curiosidade. A solução?– Bem aplicar as verbas educacionais na escola. Remunerar condignamente o corpo docente. Criar, erguer e manter espaços estimulantes de leitura no interior da escola. Interagir com a comunidade residente na rua e no bairro, afinal a escola é o espaço convergente de leitura e de escrita; faz parte da comunidade, o que implica em segurança e vizinhança atenta a tudo e a todos.

É PRECISO CRIAR OS HÁBITOS de perguntar, conferir, reclamar e aplaudir- Dentre as observações visuais que os pais devem priorizar ao visitar uma escola pública ou particular estão: conferir na secretaria as menções à formação dos professores, as condições de espaço aos alunos nas salas, a biblioteca, o pessoal de apoio à leitura e o seu acervo, a área de lazer e convivência para o recreio, entre outras, de igual importância. Não basta apenas matricular uma criança ou um jovem sem examinar primeiramente se a escola está preparada para recebê-los satisfatoriamente.

A RESPONSABILIDADE É DE TODOS – A repetência escolar tomada como última providência não exime a Escola, a Família, o Estado e a Sociedade da parcela de descompromissos. Se a cada ano os indices diminuem, ótimo, mas vamos ver como foram alcançados? Sem alfabetizar satisfatoriamente as nossas crianças os jovens do futuro continuarão a seguir um trajeto que eu conheço muito bem: ao final do ensino médio os que podem pagar buscam um pré-vestibular e um curso de redação, enquanto os que por força da condição material e da formação escolar pública deficiente fogem dos vestibulares públicos e aguardam as oportunidades do programa de bolsas para engrossar as fileiras dos cursos universitários pagos. É contraditório.


Veja a situação dos adolescentes no Paraná, segundo censo escolar do ano passado

TRÊS QUESTÕES PARA INTERAGIR:

1- Você concluiu o ensino médio em escola pública ou particular?

2- Participou de um pré-vestibular ou fez curso de redação?

3- Conseguiu ser aprovado em universidade pública?

NÃO DEIXE DE LER:

> As boas e más notícias da educação, do jornalista Rogério Galindo GP.

> Despesa com educação sobe 10% em 2010, de Fernando Jasper e André Lückman
, na Gazeta do Povo de hoje

> Procura em queda na UFPR, de Tatiana Duarte e Paola Carriel, na GP, de 8/11/2009.

> Em defesa da escola pública, do colega professor Jarbas Novelino, no Boteco Escola.

O mais interessante de tudo, prezado leitor, é que o poder de mudar o que não funciona bem, sugerir alternativas, viabilizar novos conceitos, participar, cobrar, reconhecer acertos e se indignar com tudo que é estupidamente injusto no panorama educacional brasileiro, paraneense e curitibano está nas nossas mãos, mas a maioria ignora a força que detém para empreender alterações na vida coletiva.

Até a próxima!

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