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Gina, a mulher iludida
| Foto:
Duke Wellinton
Maia Piva é Gina, no monólogo de Alexandre França.

“Só é livre quem se acostuma com a solidão. Eu tento me acostumar, é bem diferente”, diz Gina. Ela tem cinquenta anos e está só, como a Mulher Desiludida de Simone de Beauvoir. Mas se Murielle reage com amargura e destruição, a loucura de Gina é outra: inventar envolvimentos amorosos que nunca existiram, enxergar paixão em olhos que apenas a fitam, na mão que pressiona por um instante sua clavícula.

O monólogo escrito por Alexandre França para a personagem é transpassado por um imaginário feminino novelesco, em que o estranhamento vem do contraste com o cenário masculino e os ternos dispostos em uma arara. A atriz Maia Piva consegue aparentar mais idade do que tem (ainda que não chegue aos cinquenta), e com seu belo timbre seduz ao público e a si mesma especialmente nas falas nuançadas em que se arma de suavidade e romantismo. Já em seus descontroles, recorre à aceleração do discurso, e algumas arestas se perdem.

Gina e Murielle, nenhuma das duas tem autoconsciência ou noção do efeito de suas ações sobre os outros. O que pode explicar estarem sozinhas. O aprofundamento emocional da personagem de Beauvoir é incomparavelmente maior. Mas Gina, a iludida, tem ao menos humor.

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