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Virada, só que ao contrário
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A história estava indo bem. Em 2010 aconteceu a primeira Virada Cultural em Curitiba. Um público estimado de 200 mil pessoas saiu às ruas — ignorando aqueles que dizem que gostamos mesmo é de nos entocarmos em casa — para ver Erasmo Carlos, Mart’nália, Pato Fu, Paulinho da Viola e Arrigo Barnabé, as atrações principais.

Poucas pessoas disseram que não foi um sucesso absoluto. Isso porque o clima ajudou, não houve incidentes, segundo a PM, e as atrações musicais tinham muito valor – ver Paulinho da Viola em ação é um privilégio, Arrigo Barnabé com a Orquestra à Base de Sopro foi incrível e Erasmo Carlos – um setentão, quem diria – provou que o rock do país ainda vive.


Virada Cultural de 2010. E nem tinha o aviso “naõ pise na grama.”

Veio 2011. O evento engrandeceu, viva. Almir Sater e Jair Rodrigues fizeram o papel dos medalhões. Marcelo Jeneci foi a surpresa muito bem-vinda — “estamos ligados no que rola por aí”, parece ter sido a mensagem — e Ultraje a Rigor divertiu a todos. Houve até o caso de um maluquete, empolgado demais, que subiu na estátua do nosso saudoso Barão do Rio Branco para cantar “Marylou” como se não houvesse amanhã. E aí surgiu um indício de problema.

O público foi maior do que na primeira edição. Em alguns shows, estava apertado mesmo, e algumas pequenas confusões surgiram – o que precisa ser levado em conta quando falamos de milhares de pessoas nas ruas de uma cidade, com sol a pino batendo forte e cervejas geladas à venda.

Cristiano Castilho
“Eu tinha uma galinha que se chamava Marylou.”

Talvez esse seja o principal motivo para que as atrações musicais anunciadas para a Virada deste ano tenham sido tão decepcionantes: a precaução em relação a possíveis problemas decorrentes da multidão que saiu às ruas no ano passado, e que vai sair neste ano, nos dias 10 e 11 de novembro.

Se for isso mesmo, e não uma derrapada da curadoria, é uma prova de que convivemos com o sucesso de eventos desse tipo de um lado e a falta de coragem e preparação/infra-estrutura de outro. É como se nós (prefeitura, Fundação Cultural e entusiastas) atingíssemos um limite. Queremos ir além, mas, “olha, não dá.” O que aconteceu durante o pré-carnaval deste ano pode ter influência também. Por isso, a Virada de 2012, ao menos em Curitiba e na teoria, é um grande passo atrás nessa história toda.

Cauby Peixoto tem 81 anos. Ângela Maria, 84 (e há dúvidas). Cauby anda mal das pernas, literalmente. Por isso o ideal seria fazer um show em um teatro. É melhor para ele e para seu público, também da melhor idade. O mesmo com Ângela Maria, que certamente lotaria uma casa média, com poltronas confortáveis. As outras atrações são Zeca Baleiro (que fez show em Curitiba há alguns dias) e Arnaldo Antunes, cujo último disco de inéditas é de 2009. Há ainda Kleiton & Kledir e Roberto Menescal…

Divulgação

Em relação às atrações locais, quase mais do mesmo. É sempre bacana ver bandas com um trabalho sólido como Nevilton, Banda Gentileza e Crocodilla tocarem para uma pequena multidão, mas há um punhado de outros grupos querendo sua vez. E se sua própria cidade não lhes dá espaço, fica difícil.

Looking on the bright side, temos que comemorar o avanço da chamada Virada Cultural Paraná — que envolve outras áreas além da música e da qual a Virada faz parte — a quatro outras cidades do Paraná (Foz do Iguaçu, Maringá, Campo Mourão e Cianorte).

Em Curitiba, a Corrente acontece de 3 a 11 de novembro, com 300 atrações em 95 espaços. Então combinado: às 21 horas do dia 10 de novembro, te espero pra cantar “Conceição.” Ou não.

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