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Vivemos acuados pelo medo. Medo de sofrer um acidente, da bala perdida, da catástrofe, de ser traído, de perder o emprego, de perder alguém querido.

Diariamente os telejornais do mundo mostram cenas chocantes. Vulcões em erupção, tsunamis, crianças vítimas dos próprios pais. Ficamos atônitos. Sensibilizados com a dor dos familiares dessas vítimas e, certamente, agradecidos por não ver ali nenhum conhecido. É nestes momentos que paramos para repensar os relacionamentos e refletimos sobre a morte.

A morte é a única certeza que se tem na vida. É uma realidade difícil de ser compreendida porque pouco se sabe sobre ela e, pouco estamos interessados em discutir o assunto. Simplesmente porque acreditamos que ela pertence aos outros, esquecemos que um dia chega para todos, inclusive para nós mesmos. Na nossa cultura ocidental a morte é tratada como tabu. Somos educados para temê-la. Vivemos a cultura da ciência, do culto ao corpo e do prolongamento da vida.

O ser humano pode buscar seu próprio desenvolvimento e amadurecimento emocional. No decorrer deste processo ele se depara no dia a dia com situações de conflitos que geram angústias cruciais: a frustração, a angústia da finitude, a morte. É preciso aprender a refletir e a pensar a respeito dos sentimentos dolorosos da existência humana. Quem consegue entender que tudo pode terminar de uma hora para outra, passará pela vida com menos aflições. Certamente, não convém ficar se preparando para algo desconhecido, até porque a velhice implica numa natural aproximação da morte. O que para alguns gera angústia, para outros transparece alegria de viver.

O filósofo existencialista Heidegger dizia que: “uma existência autêntica só se torna possível quando os homens interiorizam o pensamento da morte, quando compreendem não apenas que todos os homens são mortais, mas que têm de morrer suas próprias mortes e, que ninguém o pode fazer por eles. Então eles podem ser livres para viver suas próprias vidas, não como um ser qualquer, mas como eles próprios”.

Entretando, quando a morte bate na porta da nossa família, ou quando alguém se depara com a proximidade do fim, muita gente busca nos dogmas da religião, através da fé, explicações e força para lidar com a impermanência das coisas e aceitar a transitoriedade da vida. Quando isso acontece a primeira reação é a não aceitação de que tenha batido no endereço certo. É tentar negá-la, fugir, sentir medo da dor e da frustração de perceber que não se tem o controle da sua existência. Ela vem, com ou sem aviso e leva a quem mais amamos, filhos, pai, mãe, marido, mulher, amigos.

A perda de um ente querido traz mudanças radicais em nossas vidas no âmbito afetivo e estrutural, pois vínculos importantes são rompidos. Quanto maiores e mais fortes forem os laços de dependência, mais difícil será a elaboração da perda.

Quem tem dificuldade para aceitar e falar sobre a morte precisa entender que nada nesta vida é permanente. Que estamos aqui de passagem. Que é agora e não depois que devemos ajudar ao próximo, para amanhã não sentir a dor do remorso. A racionalidade excessiva, às vezes, pode prejudicar os relacionamentos pessoais. Por isso, é necessário tentar ser menos exigente e mais afetuoso com as pessoas que fazem parte do nosso cotidiano. Lembrar sempre de dizer às pessoas queridas o quanto as amamos. Assim, quando a saudade invadir nosso coração, teremos somente boas lembranças e a certeza de que contribuímos para a alegria e felicidade de quem nos deixou para sempre.

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