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A ciência torna obsoleta a crença em Deus? – Parte 10: Jerome Groopman
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Antes de entrarmos no assunto desse post, algumas notícias curtinhas:

O debate sobre o criacionismo nas escolas, que eu comentei na segunda-feira, continua rolando solto. Confesso que deixei escapar o texto do Maurício Tuffani publicado domingo no Laudas Críticas (observação: por que nessas horas todo mundo, eu inclusive, recorre ao teto da Sistina?), em que ele comenta os dois artigos do Tendências/Debates da Folha de S.Paulo, publicados sábado (não dou o link porque são apenas para assinantes). Recomendo vivamente a leitura do Tuffani.

Agora todos vocês podem ler apenas os textos que escrevi sobre as respostas da Templeton. Logo abaixo do cabeçalho do blog você encontra, em “Seções”, a pergunta “A ciência torna obsoleta a crença em Deus?”. Clique lá e você verá todos os textos publicados até o momento sobre esse assunto.

Ontem foi dia de amigo secreto da redação; a Carol Olinda me deu O mundo assombrado pelos demônios, do Carl Sagan (estava na minha wish list). Além disso, a editora Loyola me mandou Galileu: pelo copernicanismo e pela Igreja. Assim que eu ler cada um deles, contarei minhas impressões no blog.

Mas agora vamos ao que interessa.

Entramos na contagem regressiva para o fim dos comentários às respostas que 13 personalidades deram à pergunta da Fundação John Templeton. Depois dessa, só faltarão três. A próxima resposta é a de um médico judeu, professor de Harvard e autor de vários livros, alguns deles transformados em séries de televisão.

Jerome Groopman: não, de forma alguma

Ao longo de todo o seu ensaio, Groopman gira em torno de uma idéia central, que poderíamos resumir de forma muito irreverente no já famoso “cada um no seu quadrado”: religião e ciência cuidam de coisas diferentes, e por isso não é necessário que uma contradiga a outra. Não deixa de ser a teoria dos “magistérios não-sobrepostos” de Stephen Jay Gould.

www.jeromegroopman.com
Jerome Groopman diz que ciência e religião atuam em esferas diferentes.

Groopman dará, em seu texto, vários exemplos dessa coexistência pacífica e da não-interferência entre as duas esferas: “A ciência usa a lógica e métodos experimentais para medir e descrever o mundo material. Ela produz conhecimento sobre o funcionamento de moléculas, máquinas, da mitose e do momento. A ciência não tem avaliação moral, é neutra. A tecnologia de DNA pode servir para levar à cura do câncer e para criar armas bacteriológicas. É apenas a aplicação que se faz da ciência que ganha uma dimensão moral”, diz. E, por outro lado, os conceitos de certo e errado não vêm da ciência, e sim da religião, ou mesmo da falta dela, pois o ateu não deixa de ter seu sistema de valores. “A ciência não ensina como tratar o próximo como a si mesmo, vestir os nus, alimentar os famintos, honrar pai e mãe, ou por que é errado mentir, roubar e matar”, acrescenta Groopman. Em resumo, são verdades diferentes. As científicas podem ser verificáveis em laboratório; as religiosas são questão de crença.

O problema, diz o médico, está nos extremos: o fundamentalismo, substantivo freqüentemente associado apenas à religião, está dos dois lados. Groopman admite que há, sim, pessoas religiosas que querem impor suas práticas religiosas ao mundo. Ele cita os casos dos Estados Unidos e do Oriente Médio, onde os wahabitas pretendem impor a lei islâmica sobre a lei civil. Mas, por outro lado, os fundamentalistas ateus são rápidos em rotular como ingênuas, infantis e neuróticas as pessoas que têm alguma religião. Na raiz disso tudo, aponta Groopman, está o medo da diversidade.

O médico ainda faz um desafio aos ateus. Diz que mesmo um cientista crente, como ele, pode ter dúvidas, mas que essas dúvidas não deixam de ser uma base para a fé, citando um teólogo protestante. Groopman diz que “os ateus deveriam, de vez em quando, questionar sua descrença em Deus, já que ela não é questão de prova, mas de crença subjetiva da parte de cada um”. Eu incluiria os agnósticos nesse desafio. Que me desculpem os que se definem assim, mas minha tendência é ver agnósticos como, na prática, ateus. Nunca conheci um agnóstico que, declarando que o homem não é capaz de afirmar com certeza se Deus existe ou não (é o que define o agnóstico, certo?), optasse por viver como se Deus existisse.

Embora essa tese exposta por Groopman seja bastante conciliatória, e satisfaça os que se preocupam com a aparente “guerra” entre ciência e religião, eu particularmente acho que não é suficiente. Para mim, ciência e religião podem e devem interagir e cooperar, e não apenas manter uma espécie de convivência pacífica morando em apartamentos diferentes onde cada um faz o que quiser. Mas ela de fato responde à pergunta, e Groopman finalizará dizendo que “a ciência não ameaça a religião, e a fé não precisa rejeitar a ciência. Nenhuma delas se tornará obsoleta”.

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O site oficial de Jerome Groopman tem tudo o que você precisa saber sobre ele. Biografia, informações sobre os livros, programas de televisão, e até um blog, que teve sua última atualização em 2007.

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