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Cinco princípios da “evolução teísta”
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Da primeira vez que Ted Davis, professor de História da Ciência, foi mencionado aqui no blog, ele descrevia o “concordismo”; desta vez, escrevendo novamente no site da Fundação BioLogos, Davis oferece uma descrição do que chama de “evolução teísta”. E se, em junho, deixei claro que não podia aceitar o concordismo, os princípios que Davis descreve agora são muito mais palatáveis. Em poucas palavras, a evolução teísta é a noção de que os processos evolucionários foram usados por Deus para criar a variedade de seres na Terra, inclusive os humanos.

Mas não foi assim que o termo surgiu: o primeiro a empregá-lo foi o geólogo canadense John Dawson, em 1877, e ele recusava tanto a transformação de uma espécie em outra quanto o surgimento dos humanos pelos processos de evolução. No entanto, chamava a atenção para algumas coisas interessantes que eu nunca tinha reparado. Na descrição bíblica do quinto dia da criação, Deus diz “Pululem as águas de uma multidão de seres vivos” (Gn 1,20) e, depois, “Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie” (Gn 1,24); a mesma coisa ocorre no terceiro dia, quando Deus diz “Produza a terra plantas, ervas (…)” (Gn 1,11), e Dawson usa essa linguagem, em que Deus “manda a terra criar”, como evidência de que não se tratava de atos diretos de criação divina, e sim de uma criação indireta ou “criação por lei”. Não sei até que ponto esse argumento tem força, inclusive porque o mesmo relato bíblico, depois da ordem divina para que “a terra crie”, usa expressões como “Deus criou os monstros marinhos” (Gn 1,21) e “Deus fez os animais selvagens” (Gn 1,25). Curiosamente, no caso das plantas o palavreado usado é “A terra produziu plantas” (Gn 1,12). E não precisamos nem falar do caso do ser humano, em que Deus diz “Façamos o homem” (Gn 1,26) (todos os textos são da edição em português da Bíblia Ave Maria, e os itálicos são meus; conferi com o texto latino da edição típica da Nova Vulgata, da Libreria Editrice Vaticana, e as expressões são as mesmas. Não sei quanto ao hebraico).

Reprodução

O terceiro dia da criação, segundo a visão de M.C.Escher: na Bíblia, Deus não faz diretamente as plantas, mas manda a terra fazer. (Imagem: Reprodução)

Davis lembra que outros intelectuais usam o termo “criação evolucionária” para colocar mais ênfase no ato criador de Deus, que ocorre por meio das leis da evolução, mas no fundo meio que dá na mesma. Davis prefere “evolução teísta” não porque prefira a ênfase na evolução, mas porque o termo já é historicamente consolidado. A seguir, ele lembra cinco pilares básicos desta posição. O primeiro é o de que a Bíblia NÃO é uma fonte confiável de conhecimento científico sobre a origem da Terra e do universo, incluindo os seres humanos, porque ela nunca teve a intenção de ensinar sobre ciência. Isso é algo com que muitos grupos evangélicos norte-americanos ainda não aprenderam a lidar, afirma Davis. E o segundo princípio completa o primeiro: a Bíblia É uma fonte confiável de conhecimento sobre Deus e as realidades espirituais. Davis recorda aqui a frase que Galileu atribuía ao cardeal Baronio, para quem “a intenção do Espírito Santo é ensinar como se vai ao céu, e não como vai o céu”, e lembra que críticos da evolução teísta aprovam esse tipo de atitude quando se trata do movimento dos planetas, mas a recusam quando se trata da evolução.

Os três princípios seguintes são derivados dos dois primeiros, mas Davis diz que eles merecem comentários à parte. No terceiro, por exemplo (Evidência científica é irrelevante para a Bíblia, porque ela simplesmente não é um livro de ciências), o professor comenta o erro tanto de crentes que buscam na ciência comprovação do que diz a Bíblia, quanto de ateus que buscam na ciência fatos que desmintam a Bíblia. Teorias científicas nem apoiam nem ameaçam o tipo de conhecimento oferecido pela Bíblia, conhecimento esse que é descrito nos dois últimos pilares da evolução teísta: a história da criação em Gênesis 1 é uma confissão de fé no criador verdadeiro, escrita para refutar o panteísmo e o politeísmo, e não para contar como Deus efetivamente criou o mundo e, por último, a Bíblia diz QUE Deus criou, e não como Ele criou, e aqui Davis ressalta que a crença num Deus criador não deve ser vista como substituto para explicações científicas a respeito do universo, da Terra ou da vida no planeta.

É claro que olhar a evolução como o mecanismo pelo qual Deus exerce sua atividade criadora envolve uma visão de mundo no qual as leis da evolução atendem a um propósito; muitos não concordarão com isso, mas é preciso estar consciente de que a discussão sobre acaso ou propósito já escapa do campo da ciência, pois pertence à filosofia. Para quem só aceita como verdadeiro aquilo que pode ser comprovado por meio das ciências naturais, será impossível adotar como definitiva qualquer uma das duas visões, tanto a da existência de um propósito quanto a do acaso absoluto.

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