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João Paulo II pegou ideia de Niels Bohr sobre a complementariedade das culturas e lhe deu uma nova dimensão, mais completa. (Fotos: Reprodução / Eric Feferberg/AFP)
João Paulo II pegou ideia de Niels Bohr sobre a complementariedade das culturas e lhe deu uma nova dimensão, mais completa. (Fotos: Reprodução / Eric Feferberg/AFP)| Foto:

Vale muito a pena ler esse ensaio da cientista Stacy Trasancos publicado no National Catholic Register sobre o pensamento do papa João Paulo II e do físico dinamarquês Niels Bohr. Seu ponto de partida é o fato de ambos terem repetido uma mesma frase sobre a complementariedade das culturas humanas, com 60 anos de diferença entre eles. A referência está tanto no número 3 da encíclica Fides et Ratio, de 1998, quanto em um discurso feito por Bohr em 1938 (confira lá no finzinho da página 30).

(Essa não é a única coincidência a unir o papa e o físico. Trasancos lembra que, durante a Segunda Guerra Mundial, o jovem Karol Wojtyla trabalhava na fábrica da Solvay, empresa fundada por um químico belga que também usou seu dinheiro para patrocinas conferências científicas das quais participavam as melhores mentes da época, como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Max Planck e Niels Bohr)

Mas, apesar de usarem a mesma frase, João Paulo II e Bohr não estavam pensando exatamente na mesma coisa. Trasancos explica que Bohr, ateu, falou guiado por uma compreensão cientificista do mundo, pela convicção de que seria a ciência seria a salvadora do mundo, em uma época na qual começava-se a vislumbrar a possibilidade da construção de uma bomba atômica e em que o racismo nazista ganhava espaço. Na Fides et Ratio, a frase aparece depois de uma descrição dos esforços das primeiras culturas em oferecer as respostas para as questões clássicas que atormentam a humanidade. “Enquanto o físico usou a ciência para descrever a natureza humana, o Santo Padre diz que é da natureza humana fazer ciência”, diz Trasancos. O cientificismo que guiava Bohr e outros em seu tempo, e segue forte hoje, exclui dessa “complementariedade de culturas” qualquer coisa que remeta a algo fora do mundo visível e observável. O próprio esforço filosófico tem seu reconhecimento ameaçado por essa visão de mundo. Diante dessa ameaça, João Paulo II recupera a ideia de Bohr, mas completando-a, dando cidadania não só ao esforço científico, mas também à filosofia e à teologia como ferramentas na busca pela verdade.

Pequeno merchan

Além de editor e blogueiro na Gazeta do Povo, também sou colunista de ciência e fé na revista católica O Mensageiro de Santo Antônio desde 2010. A editora vinculada à revista lançou o livro Bíblia e Natureza: os dois livros de Deus – reflexões sobre ciência e fé, uma compilação que reúne boa parte das colunas escritas por mim e por meus colegas Alexandre Zabot, Daniel Marques e Luan Galani ao longo de seis anos, tratando de temas como evolução, história, bioética, física e astronomia. O livro está disponível na loja on-line do Mensageiro.

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