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“A comida simples é a melhor”, decreta musa britânica da cozinha
A apresentadora e cozinheira inglesa Nigella Lawson, de 53 anos, está no Brasil pela primeira vez. Em uma viagem de pouco mais de uma semana para lançar seu livro Na Cozinha com Nigella – Receitas do Coração da Casa (Best Seller, 512 páginas, 99,90 reais), ela conversou com o Bom Gourmet — que foi a São Paulo especialmente para entrevistá-la — sobre o lançamento e sobre culinária.
Bem humorada e simpática, mas sem perder a tranquilidade inglesa, Nigella contou que começou a cozinhar porque a mãe a obrigou e ensinou. E ela tomou gosto. “Na faculdade, não havia muita gente que sabia cozinhar e eu sabia. Costumava ir ao mercado e comprar grandes sacos de cebola e aí eu era a rainha da sopa de cebola. Fora o fato de que, quando você é estudante, você está sempre tentando evitar o trabalho, e eu achava fascinante estar na cozinha, então era lá que eu ficava. Nunca pensei que um dia viveria disso porque achava que era algo totalmente normal cozinhar tanto”, conta.
Ao contrário do que muita gente pensa, Nigella não tem formação em gastronomia (mas, sim, em Línguas Modernas e Medievais). Também nunca trabalhou como cozinheira profissional. No seu currículo constam apenas as ocupações de garçonete, ainda na faculdade, jornalista e crítica de gastronomia.
Essa é sua primeira vez no Brasil, o que achou até agora?
Por enquanto vi pouco e fiquei no engarrafamento a maior parte do tempo. Quero voltar com mais tempo livre e com meus filhos. Mas sempre tive essa imagem do Brasil na minha cabeça e foi bom ter chegado aqui e ver que as coisas são mais ou menos como eu tinha imaginado. Até agora não conheci ninguém de quem não tenha gostado, o que é sempre um bom sinal. Talvez eu esteja errada, mas sempre senti que teria algo na minha personalidade em comum com os brasileiros, somos ambos bastante apaixonados, gostamos de falar bastante.
Já provou alguma coisa?
Comi feijoada, que eu amei. E quero muito ir a uma churrascaria, porque adoro carne. Uma vontade que eu tenho é a de comer na casa das pessoas, porque sinto que é lá que está a comida mais tradicional. Tudo que eu comer em um restaurante será um pouco diferente. Se você vai à Inglaterra, por exemplo, restaurantes não vão te dar a ideia exata da gastronomia inglesa. Ah, também comi uma coisa que adorei: batata baroa. Quero plantá-las na minha horta em casa em Londres.
Fale um pouco sobre o livro. É um tipo um pouco diferente de livro de receitas, certo? Tem um pouco sobre a sua vida, sua rotina e até seus filhos…
Sempre escrevo sobre a minha vida porque queria escrever um livro que refletisse de verdade como é minha rotina na cozinha, como eu cozinho. Tem receitas para fazer de forma rápida e prática, porque nem sempre tenho tempo de ficar horas na cozinha. E também tem aquelas para os momentos — nos finais de semana, por exemplo — em que você quer cozinhar. Nunca fui uma pessoa muito esportiva, gosto mesmo é de ficar cozinhando, de me dar o direito de colocar algo para cozinhar durante quatro horas. Tentei dar uma visão honesta dessa minha relação com a comida. Quis também trazer um pouco de história e da minha história com essas receitas, do que minha mãe e minha avó me passaram e do que aprendi em minhas viagens (o que não é muito, um pouco dos Estados Unidos e da Itália). Basicamente, é a história da minha vida na cozinha.
Falando na Itália, você já morou lá e tem um programa de TV sobre culinária italiana (o Nigelíssima). Fale um pouco sobre ele, já que ele vai estrear no Brasil em breve.
Não é um programa exclusivamente sobre culinária italiana, uma vez que não sou italiana. É basicamente sobre como essa cultura me inspirou, tanto é que eu falo bastante disso também nesse livro. Por outro lado, também acho que preciso ser fiel as minhas raízes. Eu sempre serei inglesa e preciso trazer isso na minha cozinha também. Quem me ensinou a cozinhar foi minha mãe, e naquela época todos pensavam que a cozinha francesa é que era a melhor, então é claro que tenho esses traços mais tradicionais também… Em resumo, tem um pouco de tudo.
Você sempre ressalta o quanto gosta de receitas simples. Também considera isso uma parte da sua personalidade na cozinha?
Sim! Mas também faço por necessidade. A maioria das pessoas que escreve receitas ou livros de receita são chefs de cozinha. Então tudo é fácil para eles. Eu não sou profissional, então para mim as coisas não são tão fáceis. Tanto é que escrevo nas receitas recados como ‘não se preocupe, vai dar certo’, porque sou uma pessoa comum, que passa pela ansiedade de não saber se a receita vai funcionar. Um chef profissional não. Ele sabe que vai dar certo. Então eu penso em coisas que vão fazer a minha vida mais fácil. E imagino que isso vá fazer a vida das outras pessoas mais fácil também.
Você fala que gosta muito de improvisar e que não desperdiça comida, é algo que você gosta de incentivar nos seus leitores?
Sim. Não sou de fazer discursos, mas eu não jogo comida fora. E porque gastar dinheiro comprando mais coisas quando você pode improvisar com as coisas que já tem (a não ser que já estejam estragadas, claro)? E às vezes as comidas que eu mais gosto são aquelas que eu fiz porque tinha meio frango sobrando e eu preciso pensar de forma criativa no que fazer com ele.
Lendo seus livros, a impressão que temos é que você se diverte muito cozinhando. Para você, isso é importante?
Sim, acho que é importante e me divirto bastante, mas não o tempo todo (sempre temos a bagunça para limpar depois, não é verdade?). Não quero idealizar. Quem trabalha na cozinha sabe o quão cansativo e estressante pode ser. Minha avó, por exemplo, era uma cozinheira maravilhosa, mas ficava muito irritada cozinhando. O que eu tento é fazer com que essa experiência seja o mais agradável possível, porque acho que é uma parte importantíssima da vida e porque me dá prazer. Se eu não sei fazer uma receita complicadíssima, então não vou fazer, não tenho essa necessidade de complicar as coisas. Comida simples é a melhor, de qualquer forma.
Você não gosta que as pessoas te chamem de chef, é verdade?
É verdade! Porque eu não sou uma chef. Acho que ser chef é uma tarefa particular que eu não exerço, que significa liderar várias pessoas na cozinha e etc. E eu nem gosto de liderar pessoas — não gosto muito de ser mandada, nem de mandar. E um chef é um profissional, eu não sou uma profissional, sou uma amadora apaixonada pela cozinha.
Uma coisa que os leitores do Bom Gourmet realmente gostariam de saber: você tem algum segredo para parecer mais jovem do que é e mesmo para cuidar da pele?
Sobre a pele, acho que tive um pouco de sorte com a genética. Também bebo de 3 a 4 litros de água por dia e nunca tomo sol. Nunca, nunca, nunca. E também como muito bem. Acho que muitas mulheres passam fome para emagrecer e acho que isso faz com que os rostos delas pareça muito mais velho do que de fato é. É o que eu penso e é também a minha desculpa para comer bem. Sobre ser jovem, fico feliz em parecer mais jovem, mas, de fato, não gostaria de ser jovem de novo. Estou melhor agora.