Produtos & Ingredientes
Produtos empacotados esquentam mercado de orgânicos
95% é o mínimo de ingredientes orgânicos que um alimento processado deve apresentar para receber a certificação de “produto orgânico”. Se for 70% ou mais, o rótulo poderá exibir “com ingredientes orgânicos”
Caminhando por um corredor de um supermercado de Curitiba, um sinal aponta para a gôndola repleta de pacotes esverdeados, onde se lê “Orgânicos”. Estão lá pacotes de aveia, de biscoitos, farinhas, açúcares e salgadinhos; ao lado, produtos integrais, sem glúten e sem lactose. Aparentemente, produto orgânico, no supermercado, ainda é nicho.
O panorama tem mudado na capital paranaense desde fevereiro de 2009, quando o Mercado Municipal inaugurou o setor de Orgânicos no segundo piso. Só nos quatro primeiros meses de 2014, o volume comercializado pelos boxes do setor (contando frutas, legumes e carne) foi de 304 toneladas, cerca de 17 toneladas a mais que o mesmo período do ano anterior. “O crescimento dos orgânicos é a principal oportunidade no Brasil: movimentamos US$ 1,5 bilhões, enquanto no mundo são US$ 65 bilhões”, calcula Antonio Rapetti, proprietário do box Natural Market. O crescimento do Mercado não para: a estimativa da Secretaria Municipal do Abastecimento é que as vendas do setor de orgânicos cresçam 30% ao ano.
Mesma média do setor de orgânicos do Grupo Pão de Açúcar, que há 20 anos trabalha com o nicho. Em 2006, o grupo lançou a marca Taeq e uma linha de orgânicos – atualmente, são cerca de 250 itens, como sucos, geleias, azeite, chás, iogurtes, ovos e verduras comercializados em todas as unidades do supermercado. A devida atenção está sendo dada aos orgânicos não só em grandes redes: pela capital, pipocam novos armazéns e empórios naturais. Um deles é o Organic Lovers, aberto em 2012 no Batel, que além de mercearia, tem sua própria linha de refeições congeladas. A engenheira agrônoma Erminia Fineschi passou dois anos prospectando o mercado curitibano e planejando a loja. “Eu tripliquei meu mix de produtos em dois anos. Estou sempre procurando novos produtos e quero tornar a loja um minimercado”, diz. Não há um público específico em sua mira: “Eu sempre tento manter um preço mais próximo possível do produto convencional para que os orgânicos entrem na casa de todo mundo”.
E há demanda, principalmente depois de 2011, quando a lei brasileira entrou em vigor. “Antes de 2011, apenas um terço dos certificados emitidos pela Ecocert eram para o regulamento brasileiro, a maioria era para exportação. Hoje a relação se inverteu: dois em cada três certificados emitidos por nós é para a norma brasileira”, cita Vanice Schmidt, da Ecocert Brasil. “Às vezes a pessoa precisa arranjar matéria-prima ou readequar processos tecnológicos para ter um produto adequado à certificação”, completa Danilo Pereira, da Tecpar Cert. Para o mercado de alimentos processados, Vanice percebeu um aumento na variedade nos últimos cinco anos em todo o Brasil. Nesse período, em Curitiba, inúmeras iniciativas surgiram, como a gastronomia agroecológica da chef Amanda Marfil. “Não trabalhamos com receita, mas com ingredientes”, define Amanda. Suas escolhas são sempre por produtos integrais e orgânicos e ela só trabalha com frutas e legumes da estação. Desde setembro de 2013 Amanda mantém uma barraca de lanches na feira orgânica do Passeio Público, para onde leva, por semana, 120 tortas, 60 pães, 200 salgadinhos, bolachas e palitos salgados e 100 quilos de massa fresca.
Claudia Capeletti, proprietária da Amábile, é veterana: está na feira de orgânicos do Passeio há 11 anos e também participa da feira da Praça do Japão (quintas de manhã) e no Complexo Santa Cândida (quarta à tarde). Sua barraca tem 12 produtos diferentes, entre pães, bolos, molhos, massas, barra de cereais e granola. “Desde que comecei, vejo que hoje temos mais procura. Cada vez mais clientes que estão interessados no cuidado com a saúde. Por isso temos o cuidado de não acrescentar açúcar em nossos pães integrais e para alguns clientes faço produtos sem glúten”, conta Claudia, citando outro nicho em crescimento.