Pessoas
Entrevista: Dudu Sperandio
Foram exatos 3.149 quilômetros de bicicleta entre o litoral paranaense e a cidade de Tocopilla, na costa chilena. Um total de 35 dias de viagem (Paraná, Paraguai, Argentina e Chile), paradas em 26 cidades, temperaturas negativas, 45 graus C de calor, são números que o chef Dudu Sperandio não vai esquecer. O comandante da cozinha do Ernesto Ristorante, em Curitiba, terminou, na última semana, sua jornada saindo do Oceano Atlântico rumo ao Pacífico.
Perdeu 18 quilos ao todo – parte deles durante os preparativos para a viagem. No caminho encontrou dificuldades de clima, comunicação, cansaço físico, muita gastronomia e histórias.
Ao longo do caminho teve o pneu rasgado, fez amigos, pedalou com um brasileiro que estava fazendo o percurso de bicicleta da Argentina até o Canadá. Pensou em desistir em dois momentos: quando o frio apertou e quando a subida era muito íngreme. Mas conseguiu e logo que chegou em Curitiba concedeu entrevista ao Bom Gourmet.
Como surgiu a vontade de fazer a viagem?
Na verdade, quando eu era criança, tinha entre 8 e 10 anos, ouvi a história de um primo de uma amiga da minha mãe que foi até o Chile de bicicleta. Fiquei com isso na cabeça e sempre quis fazer essa viagem. Quando eu tinha 15 anos eu dei um nome: “Do Atlântico ao Pacífico de bicicleta” e consegui realizar pela primeira vez em 2010. Como foi maravilhosa a primeira, eu quis dar continuidade e fazer a segunda edição.
Na verdade, quando eu era criança, tinha entre 8 e 10 anos, ouvi a história de um primo de uma amiga da minha mãe que foi até o Chile de bicicleta. Fiquei com isso na cabeça e sempre quis fazer essa viagem. Quando eu tinha 15 anos eu dei um nome: “Do Atlântico ao Pacífico de bicicleta” e consegui realizar pela primeira vez em 2010. Como foi maravilhosa a primeira, eu quis dar continuidade e fazer a segunda edição.
Qual foi exatamente o roteiro que fez?
Saí de Caiobá, em Matinhos, no dia 26 de dezembro e fui até Foz do Iguaçu, passando por Guarapuava, Irati e várias outras cidades. Depois, parti para Assunção, no Paraguai. Entrei em solo argentino e cruzei o país de leste a oeste subindo a Cordilheira dos Andes na divisa com o Chile. Terminei na cidade chilena de Tocopilla.
Por que você escolheu este roteiro?
O que eu sabia era que queria passar por Assunção. Depois fui pegando dicas de onde era mais bonito, do que tinha de mais legal para ver. Num primeiro momento, eu acabaria em Chañaral (Chile). Só que fiquei sabendo que as estradas no caminho estavam muito ruins e muita gente me falou que eu deveria conhecer San Pedro do Atacama e passar pelo Paso de Jama [caminho pelos Andes], que é o roteiro mais difícil de todos, porém o mais bonito.
O que o Paso de Jama teve de tão difícil?
A altitude. O ar é muito rarefeito. Pedalei por 80 km acima de 4 mil metros.
Onde você teve vontade de desistir?
Teve um trecho na Argentina que é uma reta de 850 km, com temperaturas que variavam de 40 a 45 graus C durante o dia e de 25 a 30 graus C durante a noite. Foi muito duro passar por ali. A vegetação não muda. Outro momento difícil foi também na Argentina, no deserto de sal, onde a temperatura variava de -4 graus C, de manhã, a 28 graus C, à tarde. Isso no mesmo dia. Uma noite tive que dormir no deserto, em um saco de dormir, e passei muito frio.
Para enfrentar estas diferenças de clima, o que levou na mochila?
Uma segunda pele que protegia do calor e do frio, um casaco bem leve, mas que esquenta bem, e uma jaqueta pra cortar o vento, que era minha roupa de frio. Levei também peças sobressalentes para a bicicleta. A preparação do equipamento é muito importante, o resto você vai adaptando.
Como era a sua rotina? Pedalava quantos quilômetros por dia?
Variava muito. Quando fazia muito calor, eu começava a pedalar lá pelas 10 horas e aguentava até às 14 horas. Almoçava e ficava parado até às 17 horas, porque o calor era insuportável. Depois ia até às 20 horas. Isso durou uns 8 ou 10 dias no meio da viagem. Fora isso, consegui pedalar o dia todo. A ideia era sair e pedalar pelo menos 4 horas, aí descansar no almoço e depois dava sequência até onde eu queria chegar.
Como era a sua rotina? Pedalava quantos quilômetros por dia?
Variava muito. Quando fazia muito calor, eu começava a pedalar lá pelas 10 horas e aguentava até às 14 horas. Almoçava e ficava parado até às 17 horas, porque o calor era insuportável. Depois ia até às 20 horas. Isso durou uns 8 ou 10 dias no meio da viagem. Fora isso, consegui pedalar o dia todo. A ideia era sair e pedalar pelo menos 4 horas, aí descansar no almoço e depois dava sequência até onde eu queria chegar.
Onde você comia? O que de mais inusitado você encontrou?
A gastronomia do Paraguai é incrível. Eu adorei a chipa [biscoito tradicional semelhante a um pão de queijo]. Por todo o caminho no Paraguai tem as chipeiras. Em Assunção, estive em um restaurante chamado Lido, que é o segundo mais antigo da cidade e fica na praça principal. As moças atendem mal, mas ele é muito concorrido pelos paraguaios. Lá, comi uma sopa de suribi (peixe) com queijo cremoso que lembra uma mussarela de búfala. Estava muito gostoso. Experimentei também o tamalli, que lembra uma pamonha no sabor, e a humita, que parece uma pamonha no visual, mas é recheada com carne-seca. Na Argentina, além das empanadas, comi carne de lhama e achei bem interessante.
Como foi a volta?
Voltei de Tocopilla de ônibus, depois peguei carona de caminhão-cegonha paraguaio. Passei 27 horas dentro do caminhão. Depois peguei ônibus e carro até chegar à Curitiba.
Qual e quando será a próxima viagem?
Vou esperar um ano e meio, mais ou menos, e quero fazer o roteiro de Tocopilla até San Francisco (Estados Unidos) para fechar as duas viagens.
Qual e quando será a próxima viagem?
Vou esperar um ano e meio, mais ou menos, e quero fazer o roteiro de Tocopilla até San Francisco (Estados Unidos) para fechar as duas viagens.
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