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Expo Milão 2015 apresenta um prato cheio para o futuro
De entrada, escorpiões salteados no azeite. Prato principal, ensopado de larvas de vespa. De sobremesa, um cupcake com gafanhoto. Esse cardápio fictício que, à primeira vista, lembra mais a receita de um caldeirão de bruxas, tem grandes chances de se tornar realidade para alimentar a população mundial nas próximas décadas. Pelo menos, é uma das tendências apontadas pela Expo Milão 2015 “Alimentar o planeta, energia para a vida”, realizada de maio a outubro, na Itália. A feira discute a capacidade de a Terra gerar alimentos para todos os habitantes no futuro. Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até 2050, serão em torno de 9 bilhões de bocas para alimentar. No evento, 148 países apresentam novidades em tecnologia de alimentos e alternativas para suprir essa necessidade.
Ainda vistos com estranheza pelos brasileiros e pela maior parte do mundo ocidental, os insetos já são consumidos com regularidade em muitas regiões do planeta. A FAO calcula que, em média, 2 bilhões de pessoas já os inseriram definitivamente no cardápio, principalmente em países asiáticos. Siri Manachan, do estande da Tailândia, disse acreditar que muitos desses insetos poderão ser oferecidos na gôndola de congelados: “No futuro, o consumo de comidas congeladas será cada vez maior. Certamente ainda haverá oferta de alguns produtos frescos, principalmente itens locais, mas os congelados devem prevalecer pela praticidade”.
Mas, se o ensopado de larvas de vespa não cair bem, será possível optar por hambúrguer de algas marinhas com uma porção de batatas fritas cultivadas em terreno salino. O cultivo das algas – uma poderosa fonte de proteínas – faz parte do projeto AlgaePARC (Algae Production and Research Center). Os estudos são desenvolvidos pela Universidade de Wageningen, na Holanda, país que conquistou críticas positivas na Expo 2015 por apresentar ideias criativas para o futuro. Mariana dos Santos, uma brasileira de São Paulo que visitava o estande da Holanda, gostou do sanduíche – uma mistura de algas e soja torrada –, mas acha que ainda precisa melhorar: “É gostoso, mas tem um sabor forte que não consigo identificar”. Em recente declaração dada à imprensa europeia, Mark Kulsdom, fundador da The Dutch Weed Burguer, que comercializa o produto, reconhece que o hambúrguer tem um pouco de “gosto de oceano”, mas argumenta que estão aperfeiçoando os métodos de preparação.
Nas próximas décadas, as fontes de água doce também deverão ser mais escassas. Por isso, a alternativa é buscar possiblidades de culturas resistentes ao sal, sobretudo, em países rodeados por água do mar, como a Holanda. A empresa Zilt Proefbedrijf desenvolve opções para cultivar alimentos resistentes à terra salina. Por enquanto, as batatas já mostraram resultados positivos. Agora, os testes deverão continuar com outros tipos de legumes e com verduras.
E se a Terra não der conta do recado, os holandeses já pensam em soluções interplanetárias. A ideia é criar condições para desenvolver um sistema agrícola em Marte. A Universidade de Wageningen está trabalhando em um projeto piloto para o cultivo de 14 espécies de plantas reproduzidas em solo artificial, com características similares às do chamado planeta vermelho. Yannich Vicent, do estande da Holanda, diz que a expectativa é desenvolver, em dez anos, um sistema de cultivo completamente adaptado ao solo marciano.
Já Sara Rupeis, representante do movimento Slow Food na Itália, acredita que não é preciso ir tão longe para saber como nos alimentaremos: “Acho que é uma visão muito radical. É possível descobrir novos alimentos por aqui mesmo”, responde com um sorriso tímido. Para Sara, em vez de escorpiões, algas ou verduras marcianas, é preciso provar primeiro o convencional: “No futuro, precisaremos descobrir e divulgar o cultivo de novos alimentos, diversificar a produção e evitar o desperdício, para que não se esgotem aqueles já existentes”, pondera.