Pessoas
Francês viaja em busca de iniciativas sustentáveis
O francês Bruno Pison trabalhava como gerente de desenvolvimento sustentável de uma empresa de alimentação que fornecia alimentos para mais de quatro mil escolas de seu país. Seu trabalho era, antes de tudo, pensar em como minimizar o desperdício de alimentos, reciclar o lixo e ter uma matéria-prima de qualidade, que tivesse viajado pouco até chegar à mesa. Seu interesse por iniciativas sustentáveis aumentou e ele, que participava de coletivos como o Make Sense [uma rede de contatos que se mobilizam para realizar projetos sociais pelo mundo], elaborou o projeto Food Sense Tour, uma viagem de 400 dias ao redor do globo em busca de iniciativas sustentáveis e culinária responsável. Ao encontrar essas ideias, ele coloca cada uma delas em contato, formando uma rede mundial. Sua jornada começou em outubro de 2013 e em julho Bruno chegou ao Brasil, depois de ter passado por mais de 20 países, entre eles Rússia, Mongólia, China, Filipinas, Indonésia, Austrália e Nova Zelândia. Bruno deixou Curitiba há duas semanas, encantado com as possibilidades e com destino para Foz do Iguaçu, Bolívia, Paraguai e Peru. “Vou tentar fazer todo o trajeto de ônibus”, disse.
Quais são seus planos quando terminarem os 400 dias viajando pelo mundo?
Eu não quero saber, não quero focar em um tópico e sim tentar ver tudo. Isso não significa que eu não tenha ideias, tenho bastantes e anoto todas. Uma delas é escrever um livro educativo sobre sustentabilidade, com um pequeno chef viajando pelo mundo, encontrando várias pessoas e em cada país ele exploraria um tópico sobre alimentação sustentável. Este é um dos projetos que quero realizar.
O que você considera a sua principal descoberta nessa viagem?
Ah, muitas! Em Melbourne [Austrália], eu conheci um restaurante que está aberto há 14 anos e você paga quanto quiser. Chama-se Lentil as Anything. Se você não quiser pagar, você não paga. Esse restaurante funciona por causa da generosidade das pessoas. A maior parte são voluntários, as pessoas que servem a comida ou as que pegam os vegetais de supermercados e entregam no restaurante. Há histórias lindas, como algumas pessoas que chegam à cidade e não tem como pagar pela refeição e então procuram trabalho e quando recebem o pagamento dão US$ 5 mil para o dono, essas coisas, para retribuir o que receberam. No Brasil eu fiquei muito feliz ao encontrar o Disco Xepa [movimento em São Paulo que preparada refeições com alimentos que iriam para o lixo mas que ainda estão em condições de uso], porque sou integrante do Disco Soupe na França. E ver que há Disco Xepa no Brasil é muito legal para mim. Isso tem que crescer mais. Na França nós fizemos 150 Disco Soupes em seis meses e aqui fizeram 6 em seis meses. Se todo mundo se envolver mais, poderia ser melhor, ter mais iniciativas assim [no Brasil].
Existe alguma dificuldade nessa sua busca pelo mundo?
Encontrar pessoas é muito fácil para mim. E o que quero mostrar é que você não precisa procurar muito para encontrar alguém fazendo coisas positivas sobre alimentação sustentável. Há muita coisa em todos os lugares, você só precisa achar uma pessoa em cada lugar e ela vai indicar outras. Por exemplo, estou em Curitiba e uma menina me mostrou um projeto contra o desperdício de comida. Posso voltar para ficar mais duas ou três semanas e conhecerei ainda mais gente. Aconteceu o mesmo em São Paulo e Rio de Janeiro. Essa viagem está me mudando muito. Estou tentando ver tudo pelo lado positivo. Por exemplo, em Bali [Indonésia], roubaram meu telefone. Mas eu sabia que seria furtado pelo menos uma vez algum dia, então eu estava preparado, havia salvo todas as fotos. É irritante, mas passa. Conheci tanta gente interessante que isso é só um dano material.
Você fala muito sobre vegetais, mas e sobre carnes, leites e ovos? E a produção e o descarte destes alimentos?
Na verdade, eu falo muito sobre vegetais porque é mais fácil de aproveitá-los. Em cada país é diferente, alguns aproveitam melhor. Esta é uma questão difícil porque a indústria da carne frequentemente é acusada de impactar demasiadamente o meio ambiente. Eu não sou vegetariano, eu como carne, porque você aprende a gostar de carne, mas nós podemos reduzir o consumo, já é um bom jeito. Geralmente você come e não sabe o que está comendo, não é consciente da origem do seu alimento. Algumas pessoas me explicam: “quando eu estou comendo eu sei o que esse alimento fará no meu corpo, o que fará por mim, seja um peixe ou vegetais”. Aqui [em Curitiba] tem um restaurante que se chama Clorofila e eles fazem produtos macrobióticos. Eu não sabia o que este tipo de produto. E são interessantes, eles focam em grãos integrais, arroz, arroz, arroz [risos]. E vegetais e acho que peixe. É muito interessante.