Produtos & Ingredientes
Qual é o futuro da alimentação? Veja o que diz a culinarista Gabi Mahamud
Poucos sabem, mas estamos construindo, exatamente agora, o que chamamos de quarta revolução industrial. Nos últimos 250 anos, as três revoluções industriais mudaram o mundo e transformaram a maneira como os seres humanos criam valor. Em cada uma delas, as tecnologias, os sistemas políticos e as instituições sociais evoluíram juntos, mudando não somente as indústrias, mas também a forma como as pessoas se viam em relação umas às outras e ao mundo natural. Por isso, gosto de dizer que uma revolução industrial é, na verdade, uma revolução social também.
A sociedade se transforma e junto transformam-se a indústria, a tecnologia e a sociedade. É quase como o paradoxo do ovo e da galinha: não se sabe quem veio primeiro, mas sabe-se que são interdependentes.
No que tange a gastronomia, espera-se que as novas tecnologias revolucionem a saúde e a produção agrícola através da biotecnologia – que consiste, de forma bem resumida, na integração das tecnologias digitais aos tecidos biológicos (aqui podemos citar: utilização de bactérias para produzir resinas, leitura genética para descobrir probabilidades de desenvolver determinadas doenças, entre outros). Alguns estudos já estão testando o uso de sensores de solo e clima, drones e sistemas de imagem para monitorar e prever a produção agrícola.
Se ligarmos esses dados à leitura do DNA da colheita poderemos desenvolver um esquema de gestão de colheita e de seleção de variedades que seria capaz de atender à demanda de alimentos por qualidade, quantidade e até pela funcionalidade dos mesmos.
Nessa mesma linha de “customização”, já vemos por aí a disseminação do exame genético que é capaz de te dar diretrizes do que não comer, qual o melhor exercício físico para o seu biotipo, probabilidade de desenvolver possíveis doenças etc. Eu mesma já fiz e descobri uma sensibilidade ao glúten por causa dele. Na minha opinião, num futuro não muito distante, empresas utilizarão essas leituras para preparar refeições customizadas e específicas para as suas necessidades. E, por que não, imprimir essas refeições numa impressora?
O fato é que precisamos estar atentos e abertos a essas mudanças, mas também devemos nos lembrar que é nosso papel pensar em como acolher as parcelas mais desfavorecidas da população nesse progresso pois, se por um lado ele vem trazer inúmeros benefícios, por outro, ele pode trazer também ainda mais segregação.
A pergunta que fica é: como eu, no lugar de conforto em que me encontro, posso abraçar o desenvolvimento social e tecnológico fruto da quarta revolução industrial, gerando um retorno socioambiental positivo e cuidado para não acentuar a desigualdade? Enquanto pensamos, vamos comer chocolate porque, afinal, é Páscoa e o assunto pode ir longe.
** Gabi Mahamud é chef e culinarista, autora do blog e livro best seller Flor de Sal, e fundadora do projeto social GoodTruck.