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Panpepato e povitica: pães italianos e croatas que ganharam o Brasil
O panetone, doce natalino mais famoso da Itália, é apreciado também no Brasil e em muitos outros países. Mas no país da bota há muitas outras sobremesas para celebrar as festas de fim de ano. Uma delas é a gubana del Natisone.
Praticamente desconhecida no Brasil, ela é produzida nos vales do Natisone, na região do Friuli-Venezia-Giulia, no Nordeste da Itália. A região faz fronteira com a Eslovênia, outro país onde é difundida. O doce, com pequenas variações se encontra também na Croácia, Sérvia e até Albânia.
O nome gubana deriva provavelmente de guba, que em esloveno significa “dobra”. O doce tem dobras e formato redondo. Sua existência é conhecida pelo menos desde 1409 quando a sobremesa foi servida durante um banquete para o papa Gregorio XII.
“A massa é parecida com a do pandoro [primo do panetone, sem passas e frutas cristalizadas], mas leva menos fermento”, explica o padeiro italiano Andrea Toscani, que está no Brasil há 11 anos e há sete meses é dono da Confraria dos Pães, em Curitiba. “No recheio vai fruta cristalizada, nozes, biscoitos embebidos no rum e chocolate”, diz o padeiro. A massa leva também slivovic (licor de ameixa) e bastante manteiga e baunilha, ingredientes bem presentes também no panetone e que dão aquele gosto típico do Natal.
Toscani usa levain e faz duas fermentações. Depois assa por 30 minutos até a casca ficar dourada. Ela ainda é polvilhada com açúcar de confeiteiro. Ao todo o processo de produção leva cerca de 24 horas. O doce está disponível diariamente na loja até o Natal e custa R$ 20 (a unidade de 500 g).
Na comunidade croata de São Paulo a tradição desse doce é mantida viva. “Nunca comemos panetone na minha casa. Ainda hoje, todo Natal comemos esse doce”, conta a psicóloga Eliana Maria Ban de Andrade, neta de croatas emigrados ao Brasil em 1897, quando o país ainda pertencia ao Império Austro-Húngaro. No país balcânico o doce é chamado de povitica (se pronuncia “povitza”).
“A receita original tem recheio de chocolate e nozes, mas minha avó, que morava no interior de São Paulo, fez uma adaptação brasileira: ela recheava com goiabada e passas e ainda hoje eu preparo o doce com essa receita”, explica Eliana.
A massa é fina, leva manteiga e canela, mas não tem essência de baunilha como no caso do panetone. A massa é aberta num grande círculo, depois é enrolada como um rocambole e no final ganha formato redondo, parecido com panetone.
Panpepato
Outro doce tradicional das festas natalinas na Itália é o panpepato, que como o nome sugere é um pão com pimenta-do-reino. A inusitada sobremesa é típica de algumas regiões do Centro da Itália, sobretudo da Emilia-Romagna, e dependendo do lugar sofre pequenas variações.
“A massa é feita com uma mistura de farinhas (nozes, avelãs e amêndoas), chocolate, gengibre, mel e até uma pitada de pimenta-do-reino”, diz Toscani. Uva passa e frutas cristalizadas moídas são adicionadas à massa, que em seguida é colocado na forma e assada. Por não levar água, o doce, que mais se parece com um biscoito, pode ser conservado por muito tempo sem perder as qualidades. O padeiro vende a unidade de 150 g por R$ 7,50.
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