Mercado e Setor
Moradores da região Sul querem voltar logo aos restaurantes, mas gastando menos
Com otimismo embora também com uma preocupação maior com o futuro, os moradores da região Sul do país devem ser os primeiros a voltar a frequentar bares e restaurantes ainda neste ano -- e com uma frequência igual ou maior do que antes. É a avaliação do especialista Sérgio Molinari, da consultoria paulista Food Consulting e colunista do Bom Gourmet Negócios, com base em uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) que avaliou o comportamento dos consumidores.
Fazendo um paralelo da evolução da pandemia do novo coronavírus na região Sul e no o restante do país, Molinari acredita que a retomada dos negócios no setor de alimentação fora do lar será mais rápida nos três estados por conta da baixa taxa de contágio, o que deve provocar uma flexibilização das regras de isolamento social já a partir do final de maio e começo de junho. O mesmo deve ocorrer com a região Centro-oeste do Brasil. Os dados foram apresentados durante uma live transmitida nesta quarta (13) pelo Sebrae Paraná.
No entanto, o cenário pessimista de grandes impactos econômicos no setor, como o fechamento definitivo de 20% das operações antes da reabertura e a expectativa de que outros 20% não sobreviverão até o final do ano, segue igual ao nacional de acordo com o estudo feito Abia.
Para Molinari, os 60% de negócios de alimentação que sobreviverem irão encontrar um consumidor com vontade de voltar a socializar o quanto antes (47% em menos de um mês e 24% em até dois meses), mas preocupado se a renda vai durar no médio prazo -- a expectativa é de que esse cenário mais limitado deve se estender por pelo menos seis meses.
De acordo com ele, o foodservice sempre teve uma sensação de consumo imediata, e não de médio prazo. Agora isso é quebrado por conta da preocupação das pessoas com o emprego e a renda pelo menos até o final do ano.
Poder aquisitivo
O cenário de mais otimismo para retomar a vida social somado à preocupação com os gastos cria um dilema para os empreendedores de foodservice do Sul do país: cobrar menos com contas operacionais mais altas pelo menos até o final do ano.
Molinari afirma que 74% dos moradores da região Sul querem voltar a consumir igual ou até mais do que antes da pandemia, mas pagando menos por isso -- 59% deles levarão em conta o preço acessível e econômico como fator de escolha do bar ou restaurante. E isso ainda é combinado com o fato de que os clientes só irão a lugares que se mostrem preocupados com as medidas de proteção, higiene e segurança alimentar para evitar qualquer risco de contágio pela Covid-19.
Na prática isso quer dizer que os estabelecimentos terão de diminuir para um terço a capacidade de atendimento, reforçar a higienização de mesas, cadeiras e balcões, treinar as equipes para uma melhor comunicação com o cliente sobre as medidas de proteção adotadas, e ainda segurar os preços dos pratos. Se um produto era vendido por R$ 30, por exemplo, ele terá de baixar para R$ 25, e assim por diante.
Molinari afirma que quem acredita que dá para retomar os negócios rapidamente com as mesmas práticas de antes "está correndo um grande risco de se queimar e não ficar no mercado". Para ele, adaptação é a palavra da vez, seguida pela liquidez.
Negócios certeiros
A pesquisa apresentada também revelou que negócios tradicionais como pizzarias, restaurantes self-service, lanchonetes, atendimento à la carte e fast-food continuarão sendo os motores do consumo pós-pandemia no Sul do país -- mas a maioria deles com hábitos e costumes diferentes do que antes.
As lanchonetes perderam a preferência de quase um terço dos consumidores, passando de 51% para 35%, pela sensação de que não são tomados os devidos cuidados de proteção e higiene principalmente nas pequenas operações de rua. Já os restaurantes self-service viram a aderência cair pouco (48% para 42%), mas com um aumento da rejeição aos estabelecimentos que não adotarem medidas de segurança eficazes -- 78% dos moradores dos três estados se preocuparão ainda mais com a sensação de limpeza e higiene no local.
Em Curitiba, por exemplo, os restaurantes self-service estão permitidos a funcionar somente no formato de rotisseria, com um balcão fechado onde apenas o atendente tem acesso aos pratos.
Por outro lado, as hamburguerias entraram na preferência dos consumidores pós-pandemia por serem uma lanchonete com cara de restaurante, o que traz uma sensação maior de segurança e higiene. Os restaurantes orientais também serão mais frequentados, por conta dos cuidados que já são tomados com o preparo dos pratos.
As operações de delivery de alguns destes nichos também terão um futuro promissor na retomada da economia. Molinari explica que 68% dos moradores do Sul pretendem continuar utilizando este serviço mesmo depois que os restaurantes reabrirem, consumindo principalmente pizzas (82%), hambúrgueres (57%), lanches variados (40%), pastéis e salgados (17%) e comida japonesa (13%).
No entanto, o preço acessível, a limpeza e higiene da comida, o frete grátis, o preço total adequado (expectativa e realidade) e a fidelização serão levados em conta na hora da escolha -- além da presença em aplicativos de marketplace.
O cenário pós-pandemia do novo coronavírus será de bares e restaurantes aprimorando sua capacidade de praticar vários tipos de vendas e atendimento, com algum grau de tecnologia incorporado ao negócio -- especialmente no contato com o consumidor. Já este só vai se aproximar dos estabelecimentos e marcas em que confiar mais e sentir segurança em não se infectar pela Covid-19.