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Bela Gil: “Não existe comida proibida”
Chame do que quiser, mas “radical” não cola na moça. Bela Gil, apresentadora do programa Bela Cozinha do canal GNT, disse preferir comer bacon de um porco criado solto a um biscoito sem glúten industrializado. Mesmo alvo de críticas nos últimos tempos – a melancia na brasa, a merenda da filha, as gafes na gravação –, nada tira seu sorriso do rosto. “Essa da melancia foi uma surpresa enorme, porque eu nunca imaginei que seria tão polêmico. Eu coloco abacaxi na grelha, então coloco melancia também”, riu.
Para ela, é urgente discutir a alimentação natural, mesmo que em meio a piadas. “Começar a inserir esse papo de maneira mais leve e criativa é importante porque põe em pauta o assunto para pessoas que não ligam muito para alimentação. Acho o saldo positivo”.
Bela estudou Culinária e Nutrição e Ciência dos Alimentos em Nova York e esteve em Curitiba para uma aula magna no evento Parada Truck, em junho, onde preparou risoto de funghi e salada de frutas ao forno para convidados. Na Pedreira Paulo Leminski, ela falou com exclusividade ao Bom Gourmet:
A merenda da sua filha acendeu um debate sobre comida para criança. O que você pensa deste mito de que o paladar infantil é afeito a salgadinhos e refrigerantes?
A alimentação está dentro da educação. A gente ensina a criança a olhar para os lados antes de atravessar a rua, a ler, a andar de bicicleta, ensina a falar “por favor” e “obrigado”, então a gente tem que ensinar a comer também. Muitas pessoas acham que a alimentação não é tão importante, que é muito complicado ou que toma muito tempo. Assim como você ensina seu filho a ser uma boa pessoa, tem que criá-lo para que seja totalmente independente da indústria. A criança chega aos 15 anos de idade e sabe se virar na cozinha, não fica tão doente, não precisa depender de uma lasanha congelada para jantar.
Seu processo de criação de receitas parte de um ingrediente ou de uma técnica?
Eu sempre procuro misturar textura, temperatura, sabores, mas o principal é sempre a comida natural. Outro dia eu falei que prefiro comer um pedaço de bacon de um porco que vive solto do que um biscoitinho sem glúten de pacotinho com trezentos ingredientes que eu não conheço. Eu parto do princípio de a comida ser o menos processada possível. Minha culinária é muito comparada à vegetariana, porque a maior parte dos meus pratos são veganos, mas eu não sou a favor de um hambúrguer de soja industrializado. Não gosto de rótulos.
No ano passado viralizou uma lista de gifs com alguns momentos desconfortáveis dos seus convidados no programa. Como funciona a produção, existe uma pesquisa anterior ou é feita uma provocação?
Essa lista foi feita com momentos da primeira temporada, que a gente fez querendo mostrar uma coisa bem real. A gente não faz um questionário quando convida alguém para jantar na nossa casa, faz? Calhou de ter em algumas gafes no programa. Eu poderia ter regravado, mas eu quis mostrar que era real. A questão do [músico] Arlindo Cruz que não comia pipoca nem dendê: eu queria falar sobre essa restrição por causa da religião porque tem muito a ver com cultura, eu quis mostrar isso. Mas as pessoas sempre levam pro lado mais sarcástico.
O Bela Cozinha mostra estilo de vida, diferente de outros programas de culinária do Brasil. Você acredita ter mostrado que alimentação saudável não é apenas uma dieta?
Estou tentando mostrar para as pessoas que comer bem é uma escolha de vida. Sou muito a favor de a pessoa se conhecer e entender o que faz bem para ela naquele momento. Para uma pessoa saudável não existe uma comida proibida. Ela tem que saber como aquilo a afeta e para isto ela tem que estar sempre bem, sempre limpa, para quando ela comer algo que seja um pouco demais ela sinta isso e reflita.Tem muita gente que não tem cons ciência de que está vivendo mal.
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