Produtos & Ingredientes
4 formas de comprar hortifruti e itens coloniais que aproximam produtor e consumidor
Comer é um ato político. A frase cunhada pelo autor norte-americano Michael Pollan, uma das maiores autoridades quando o assunto é comida e alimentação consciente e justa, é cada vez mais considerada pelo consumidor. Saber de onde vem um produto, como e por quem ele é feito tem se tornado natural na cadeia de consumo. Além disso, fora a feira tradicional, hoje é possível contar com opções totalmente orgânicas, comprar direto do produtor e também receber tudo sem precisar sair de casa. Curitiba tem cada vez mais oferecido opções para quem está empenhado em entender mais sobre o que come e valorizar quem produz:
Da roça para todo o Brasil
Produtos únicos – seja um queijo da Serra da Canastra ou um creme de avelã com Baru de Goiás – são alguns dos itens disponíveis da Caixa Colonial, com sede em Curitiba. O serviço de assinatura, que trabalha com uma aproximação entre o campo e a cidade, possibilita que se receba mensalmente, em qualquer lugar do Brasil, uma caixa com quitutes da roça, garimpados pelos empresários Jeferson Jess e Andréa Sígolo. São eles quem percorrem o país e selecionam o que há de melhor em cada região, direto dos produtores rurais no interior do Brasil.
Geléias, pães, patês, bolachas e embutidos são alguns produtos disponíveis de forma recorrente. Além disso, no site da Caixa, há uma breve história de cada produtor mês a mês, o que ajuda o comprador a entender a origem e a história por trás do produto.
A Caixa Colonial pode ser adquirida com assinatura mensal ou, ainda, comprada individualmente pelo site.
Serviço: A assinatura da Caixa Colonial é feita pelo site caixacolonial.club a partir de R$ 109 mensais ou R$ 129 por kit.
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Orgânico zen
Há três anos, Jary Jorge, coordenador do projeto de educação ambiental Orgânico Zen, um dos programas do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), começou sozinho uma horta em uma propriedade da instituição em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba. Hoje, com dois funcionários, entrega cerca de 60 cestas com vegetais orgânicos semanalmente para clientes em Curitiba.
Toda a semana, quem contrata o serviço da cesta tem disponível: uma fruta, legumes, uma raiz, tempero, folha quente (para refogado) folha fria (salada), um chá e uma PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais – nesta semana os clientes receberam, por exemplo, o peixinho). “A gente chegou neste modelo porque fica mais fácil logisticamente e o comprador sabe o que terá na semana” diz Jorge. Como a Orgânico Zen integra a Rede de Agroecologia Ecovida (que congrega outros grupos de agricultores), a cesta também oferece excedentes de produtos de vizinhos como ovos, tofu, algumas conservas e sucos. Dessa forma, o cliente consegue personalizar a cesta, mas também entender que não há todos os tipos de alimentos sempre. “O alimento disponível o ano todo tem um alto custo social e ambiental” ressalta Jorge.
Cliente da Orgânizo Zen, o designer Carlos Felipe Urquizar conta que precisou ativar a criatividade nos últimos meses para dar conta das couves chinesas que chegavam semanalmente na cesta. Nesta semana, o grupo de clientes no WhatsApp discutia se fazer o peixinho (PANC) na Air Fryer ficaria bom ou não – quem testou e aprovou já negociava o empréstimo do eletrodoméstico com os demais.
Essa troca de experiências sobre o alimento e percepção da sazonalidade são algumas vantagens apontadas por ele, que já tem contato com produtores há anos. Sua motivação para consumir orgânicos é política e também econômica. “Você sabe que é um alimento bom, limpo e justo. Os preços são muito compatíveis a de outros lugares, e também tem a questão das liberações de agrotóxicos” fala. Urquizar se refere às autorizações pelo Ministério da Agricultura de registros de novos agrotóxicos. Só este ano, foram 382.
Ativar a criatividade é outra vantagem citada pelo designer. “Às vezes vem uma coisa muito diferente e isso me força a sair da zona de conforto. É tipo prova de MasterChef”, brinca ele, que também costuma presentear amigos com os itens da cesta ou com suas receitas.
Serviço: A Cesta Orgânico Zen custa R$ 135 mensais (em média). A entrega é feita às terças-feiras por R$ 10 em Curitiba. O cliente tem a opção de retirar a cesta sem custo no CEBB (R. Conselheiro Carrão, 1.155). As informações são repassadas via WhatsApp: (41) 9679-6415.
Agricultura familiar
Pensando em resolver o problema de pequenos agricultores que têm bom preço, quantidade, mas não conseguem vender para grandes redes, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes di Paraná (Abrasel-PR) criou a Feira de Hortifrúti da Abrasel, em parceria com a Arcos Cooperativa Agroindustrial, formada por 23 produtores de Balsa Nova. Além de abrir uma nova frente de venda, a feira, que iniciou na segunda-feira (18) passada e fica instalada no pátio do restaurante Dona Helena, no Alto da XV, em Curitiba, também possibilita aos donos de restaurante mais uma opção de compras. A ação é aberta para toda a comunidade e oferece, além das barracas com verduras e frutas, foodtrucks com atrações gastronômicas.
Presidente da Arcos, Marcos Debrinski conta que a maior dificuldade dos pequenos produtores é, justamente, conseguir compradores que vão adquirir quantidades maiores de produtos. “Formamos a cooperativa para organizar os agricultores e conseguir oferecer uma gama mais variada para o mercado. A feira foi uma experiência muito positiva para todos.”
Segundo o presidente da Abrasel, Luciano Bartolomeu, a primeira feira teve quase R$ 5 mil em vendas de hortifrútis. “Esperamos dobrar na próxima semana. Muitos restaurantes foram apenas ver a mercadoria e se surpreenderam com a qualidade e preços. Unimos o útil ao agradável. Os restaurantes consomem muito hortifruti e agra contam com mais uma opção além do Ceasa. O gera economia, principalmente em relação ao tempo”, salienta.
Serviço: Feira de Hortifrúti da Abrasel. Segundas-feiras, das 9h às 17 horas, no estacionamento do restaurante Dona Helena (Rua XV de Novembro, 1.951 – Alto da XV).
Aos sábados: Passeio Público
Para os compradores de produtos orgânicos “raiz”, a Feira do Passeio Público, realizada aos sábados no parque no centro de Curitiba, é uma parada semanal obrigatória. O início foi no final dos anos 1980 com três barracas junto com a Feira do Largo da Ordem. O formato atual iniciou em 1993 e, desde então, só ganhou adesão, de novos feirantes e público.
Fora as compras do dia a dia – há frutas, verduras, ovos, peixe, carnes e até cosméticos orgânicos – o café da manhã na barraca da Marfil Agroecológicos, de Bocaiúva do Sul, é um dos mais concorridos. A família, que trabalha com orgânicos desde 1992, começou com comercialização de frutas e verduras (que mantém até hoje) em 1994. Em 2000, o foco da produção mudou para frutas e processamento orgânico (de feijão, arroz, grãos, farinha de trigo e fubá), até então inexistente entre os produtores da região.
Em 2010, a chef Amanda Marfil montou com a ajuda dos pais uma cozinha na chácara, para trabalhar com o excedente da propriedade e de vizinhos. Começou com geleias, molhos e também fornecimento de produtos para o Programa de Alimentação Escolar (PNAE). Formada em Filosofia, a paixão por cozinha vem desde criança e, em paralelo com a faculdade, iniciou sua formação gastronômica.
A venda de seus salgados e bolos começou despretensiosamente junto com a barraca do pai. Logo veio a sugestão de outro feirante de colocar uma máquina de café espresso. E aí o espaço ficou pequeno para a demanda. Desde então, Amanda comanda a barraca de lanches, disputada aos sábados, que serve salgados ovolactovegetarianos, opções veganas, tortas integrais (sem açúcar refinado), cafés e outras bebidas, além de pães de fermentação natural. “Nossa proposta é oferecer uma alimentação integrativa. A gente fala que o alimento agroecológico mantém a saúde desde a terra. E ele tem que ser saudável e trazer vida para quem está consumindo”, acredita.
Convivendo com a produção orgânica desde a infância, Amanda enxerga o momento como promissor pelo espaço e visibilidade. “Se hoje os consumidores acessam de uma forma mais fácil, é porque foi uma construção política. Não foi só um movimento que simplesmente aconteceu”, frisa.
Serviço: Feira Orgânica do Passeio Público. Aos sábados, no Passeio Público em Curitiba (Rua Presidente Faria, 563). Das 7h às 12h30.
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