Produtos & Ingredientes
Fast-food à base de plantas? Não se deixe enganar
Para atender o interesse das pessoas em reduzir o consumo de produtos animais sem adotar o vegetarianismo ou veganismo, a indústria alimentícia trouxe à tona uma nova alternativa: carnes “de laboratório” com base em plantas.
Mas, ao contrário do que a nomenclatura indica, essa indústria, ao invés de focar em substituir os produtos animais por vegetais, frutas, leguminosas e castanhas, tem desenvolvido hambúrgueres ultraprocessados, feitos de proteína de soja ou ervilha, metilcelulose e maltodextrina. Outra tendência são os “ovos líquidos”, feitos da proteína isolada do feijão mungo e goma gelana. Depois de prontos, esses alimentos ultraprocessados são coroados desmerecidamente como saudáveis.
Nos Estados Unidos e alguns outros países, cadeias de fast food têm aderido à moda. É o caso do Burger King, com o hambúrguer vegetariano “Impossible”; o Subway, com a almôndega sem carne “Beyond Meat”; e do KFC que, em parceria com a Carl Jr’s, vai testar o frango frito vegano.
O sabor desses alimentos “à base de plantas” é formulado para parecer idêntico ao original, reafirmando aos consumidores a virtuosa decisão de escolher plantas sobre a carne, sem abdicar do gosto que ela tem. Mas, considerando valores nutricionais, o quão processados esses alimentos são e como eles afetam o planeta, será que são uma alternativa tão promissora?
Perspectiva nutricional
Em cursos de nutrição, alunos aprendem a calcular o valor nutricional baseando-se na quantidade positiva de fibras e vitaminas e na quantidade negativa de sódio e gordura trans. Alimentos à base de plantas, ou sintéticos, não se enquadram nos parâmetros considerados aceitáveis ao terem seus nutrientes calculados.
O leite sintético, por exemplo, na tentativa de “imitar” o original, é enriquecido com cálcio e vitamina D. Enquanto isso, hambúrgueres sintéticos são ricos em proteína feita de ferro e zinco para se aproximarem do sabor da carne. Mas essas opções nem sempre são feitas para reduzir a presença dos nutrientes menos saudáveis; às vezes, sódio e gorduras saturadas serão mais encontrados.
Apesar disso, poucas pessoas se preocupam com a quantidade isolada de cada nutriente dos alimentos. Por isso, pesquisadores têm se ocupado em medir o nível de processamento desses produtos, o que se provou uma característica de mais interesse social e que impacta diretamente na saúde.
Não processados, processados e ultraprocessados
Para determinar o nível de processamento, usa-se uma classificação que divide os alimentos em quatro categorias: não processados ou minimamente processados; ingredientes culinários processados (como sal e manteiga); processados, que possuem dois ou mais ingredientes; e ultraprocessados, fórmulas industrializadas com cinco ou mais ingredientes que incluem açúcar, gordura, sal, proteínas isoladas, sabores artificiais, estabilizadores e conservantes.
Sendo assim, uma maçã é um alimento não processado; geleia de maçã com açúcar é processada; e uma barrinha de cereais de maçã é ultraprocessada. E as três opções são feitas “à base de plantas”.
Os americanos, em média, consomem 58% das calorias diárias através de alimentos ultraprocessados. Esse consumo é relacionado com maiores riscos de síndromes metabólicas, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Por outro lado, dietas com abundância de alimentos que realmente são à base de plantas – e especificamente não ultraprocessados – são associadas a diminuição de problemas cardíacos e diabetes do tipo 2.
Causas ambientais
Finalmente, algumas pessoas optam por opções sintéticas por não concordarem com a criação de animais para abate ou para reduzir o impacto ambiental relacionado à emissão de gases e ao desperdício de água. Muitas pesquisas defendem que, de fato, a alimentação à base de plantas é melhor para o meio ambiente; mas não se pode afirmar o mesmo quando se trata de alimentos ultraprocessados.
Não se engane
Dessa forma, usar o termo “à base de plantas” em etiquetas da indústria de fast foods é apenas outra tentativa de reconstruir o conceito de fast food. A verdadeira alimentação à base de plantas significa incluir opções nutritivas, como feijão preto, brócolis e arroz integral. Por todos esses motivos, não se deixe enganar pela nomenclatura e, acima de tudo, entenda a diferença entre comidas à base de plantas e comidas feitas “à base de plantas”.