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Vinícola Unus Mundus produz vinhos de variedades pouco conhecidas no Brasil
Vinhos improváveis. A definição de Juliano Maluf Amui para os vinhos que produz em sua Unus Mundus, em pleno São Luiz do Purunã, não poderia ser mais exata, a começar pela localização. Posicionada entre o primeiro e segundo planaltos paranaenses e voltada para o cânion, a propriedade surpreende não só pela beleza, mas também por contrariar o que se espera de microclimas típicos e favoráveis ao plantio das Vitis viniferas, variedade usada na produção de vinhos finos.
Nascida de um antigo sonho de seus proprietários – Juliano e sua esposa Caroline Gama, ambos psicólogos de Curitiba – a Unus Mundus também contraria a lógica quando o assunto é variedade. Em vez de focar em cepas populares entre os brasileiros, aposta em escolhas não prováveis. Isso quer dizer que você não encontrará entre os rótulos um Cabernet Sauvignon ou um Merlot, mas, sim, varietais ainda desconhecidas do grande público, como a Rebo, a Marselan (cruzamento entre a Cabernet Sauvignon e a Grenache) e a Ancellotta (uva nativa da Emiglia Romagna usada nos famosos lambruscos).
Mesmo entre as mais conhecidas, romper com o tradicional também é regra, como vemos no Pinot Noir, que é mais encorpado.
Atualmente, são 12 variedades, distribuídas em 1,2 mil pés, que resultam em dois mil litros produzidos anualmente. A produção, aliás, também destoa do que se espera de uma vinícola usual. “Como a produção é toda artesanal, feita pela nossa família desde o plantio até a colocação dos rótulos, não existe um padrão de produtos. Por isso, a cada ano temos resultados únicos, com produtos diferentes”, afirma Juliano.
Atualmente, são 12 variedades, distribuídas em 1,2 mil pés, que resultam em dois mil litros produzidos anualmente. A produção, aliás, também destoa do que se espera de uma vinícola usual. “Como a produção é toda artesanal, feita pela nossa família desde o plantio até a colocação dos rótulos, não existe um padrão de produtos. Por isso, a cada ano temos resultados únicos, com produtos diferentes”, afirma Juliano.
O ciclo dos vinhos
O trabalho começa antes mesmo do plantio manual, com a escolha das árvores, todas vindas da Itália. “As mudas têm até passaporte”, brinca Juliano, que conta que elas vêm da região do Trento, refrigeradas e transportadas por navio. “Elas passam por toda a burocracia, ficam em quarentena e depois são entregues, muitas vezes com atraso. Mas a qualidade ainda compensa”, garante.
Para depender menos deste processo, a família está estudando como multiplicar as próprias videiras. “Estamos investigando enxertos”, diz Caroline, que ainda explica por que simplesmente não lançam mão da compra de produtores nacionais. “As uvas podem até parecer as mesmas, mas entre uma variedade há determinados clones que se adaptam melhor a lugares específicos. A sangiovese do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por exemplo, é diferente da sangiovese grosso do Brunello di Montalcino”, afirma.
Após serem recebidas, as mudas ganham vista para a escarpa devoniana, propositalmente protegidas do vento cruel da região e plantadas em um solo especial. “Preparamos o solo com três anos de antecedência, com técnicas de agrofloresta, para evitar a erosão. E depois fazemos o plantio todo manual, já que o próprio terreno íngreme não permite a chegada de um trator”, detalha Caroline.
E o trabalho árduo não fica no plantio. Anualmente, entre o fim de julho e o início de agosto, o casal e os dois filhos, Yuri e Nathan, se dedicam à poda. “Este é o momento que abre um novo ciclo. São podas longas, drásticas, em que fazemos com que um pé que daria em torno de 20 quilos produza apenas dois quilos de uva, mas com a qualidade de que precisamos”, diz Juliano.
Podadas, as plantas seguem o ciclo natural até a época da colheita, exposta às intempéries. “Talvez seja um momento de exceção, mas desde que começamos a vinícola, em 2016, estamos tendo mais seca do que chuva”, diz Caroline, que ainda fala que um dos maiores perigos para a qualidade das frutas são as chuvas torrenciais do fim de verão. “No fim de fevereiro, quando se aproxima a colheita, ficamos atentos, pois uma chuva em excesso pode comprometer todo o trabalho de um ano.”
E se as condições climáticas não podem ser domadas, os outros fatores controláveis ficam sob os olhos atentos do casal. “Esta é vantagem de termos uma produção pequena e artesanal. Acompanhamos a planta e só usamos fungicidas quando é realmente necessário. Para se ter uma ideia, se comparado à média, o nosso uso chega a ser de 80 a 85% menor”, garante Juliano.
Na garrafa
Como a proposta do casal é ofertar novas experiências mesmo para os mais entendidos de vinho, a aposta é em uvas que vão além das mais consumidas no país. Entre as 12 variedades, por exemplo, é possível encontrar tannats, alvarinhos, gewustraminers e petit verdots. A maioria rende varietais (ou seja, feitos apenas com um único tipo de uva), mas há também cortes.
Um deles, junta sete tipos de uva para formar um rosé batizado pelo casal de Solis Occasum. “Foram produzidas 140 unidades apenas, o primeiro vinho do mundo a ser envasado nesta garrafa importada da França”, diz Caroline, orgulhosa. Os nomes, aliás, são repletos de inspiração e significado, muitos deles buscados até na área de atuação profissional de ambos, a psicologia. E para completar o processo artesanal, os rótulos também são feitos pelo casal. “Desenhados à mão”, garante Juliano.
Vinhos sem cerimônias
E, mesmo sendo vinhos improváveis, o casal garante que isso não significa que sejam de difícil compreensão, já que a maioria não tem muito corpo e não levam madeira. “Estamos fazendo alguns testes com madeira, mas nossa ideia é que ela não se sobressaia, mas usá-la apenas quando a variedade pede”, diz Caroline.
Como a produção é pequena, para provar os vinhos de São Luiz do Purunã há poucos caminhos. Um deles é fazer uma visita à propriedade, onde é possível conhecer o vinhedo, papear com os donos e provar dois rótulos acompanhados por uma tábua de frios por R$ 75 (por pessoa). Além disso, nas pousadas da região também é possível encontrar alguns rótulos, fruto da economia circular. Para os que não pretendem ir até lá, há a possibilidade de encomendar os rótulos pelo Instagram (@unusmundusvinhosautorais) ou pelo WhatsApp (41 -99694-4490). As garrafas dos vinhos custam entre R$ 80 e R$ 120.