Restaurantes
Conheça a história da sorveteria do Gaúcho
A tradição e os sabores da sorveteria Sorvetes Gaúcho, mais conhecida como sorveteria do Gaúcho, são sólidos e não derretem com o tempo. Fundada em 1955, pelo gaúcho Adalberto Pinto dos Santos, a sorveteria até hoje mantém detalhes da inauguração da época. Essa herança cultural, aliada ao sabor inconfundível dos sorvetes, atrai centenas de pessoas por fim de semana na Praça do Gaúcho.
A praça, aliás, originalmente chamada Praça do Redentor, ganhou a alcunha por conta da sorveteria. Histórias ali não faltam. São casos de amor e de família que se formaram ao longo dos mais de 60 anos de existência. O proprietário atual que o diga. Filho do fundador, Airton Luiz Serur dos Santos, 65 anos, cresceu na sorveteria do Gaúcho. Atualmente, ele toca a empresa ao lado de outros dois irmãos, Adalberto e Lela.
“Meu pai era do Rio Grande do Sul e veio para Curitiba estudar Engenharia Química. Não se adaptou e comprou o ponto para virar comerciante”, conta Airton. O negócio, originalmente, era uma mercearia, mas tinha uma máquina de sorvete. Com o tempo, os sorvetes foram ganhando mais força até que invadiram o balcão. Outras máquinas foram adquiridas, as mesmas que funcionam até hoje.
Mas nem tudo é igual. Além das máquinas, de origem italiana, e do mobiliário de fórmica que confortam a nostalgia dos clientes mais antigos, algumas coisas tiveram que se adaptar ao tempo. Como a própria receita do sorvete. “As pessoas dizem que o sabor não é mais o mesmo. Mas muita coisa mudou. O refrigerante que eu tomo hoje não tem o mesmo sabor da que eu tomava na infância”, brinca Airton.
Engenheiro Civil aposentado, ele resiste às intempéries (contando aí, os invernos curitibanos) para manter a sorveteria do Gaúcho. Compra pessoalmente os ingredientes e nunca por telefone. Faz cotação de preço e preza pela qualidade da matéria prima. Se intitula um herói da resistência”. “Hoje mesmo tive de dificuldade de encontrar no mercado pazinhas de madeira”, lamenta.
E a matéria-prima do sorvete, confessa, mudou, sim, com o tempo, mas à revelia da família. Antigamente, a polpa que dá sabor à iguaria era feita na própria sorveteria do Gaúcho. As frutas eram processadas ali. As uvas, morangos e abacaxi, escolhidas à dedo e o processo era todo artesanal. Por exigência da Vigilância Sanitária, que exige um procedimento padrão, o processo teve que ser modificado. “Hoje preciso comprar polpa, mas muita coisa é igual. Eu provo os sorvetes para manter a qualidade e o sabor e pouca coisa muda”, diz.
Nem os sabores mais pedidos, os mesmos desde que a sorveteria foi inaugurada: morango, chocolate e creme. A trilogia se une ao leque de mais de 40 opções, alternadas de acordo com a temporada. No verão, os de frutas são os mais vendidos e não importa o tempo e o clima, a meninada gosta dos mais divertidos e coloridos. Há também opções mais exóticas, como tapioca e maçã-verde.
LEIA MAIS
Airton gosta dos tradicionais, mas sabe que a concorrência e o sabor do sorvete “contemporâneo” é diferente do que vende na casa. Nas viagens que faz, por exemplo, está sempre provando sorvetes em países e estados diferentes. Se pensa em trazer novas receitas para a tradicional casa? “Não. Nem pensar. Mantemos a tradição”.
Até quando? Airton confessa que há especulações sobre o ponto, que é próprio, mas nada para manter a tradição da casa em abrir outra sorveteria. “A praça está virando mais um ponto para beber cervejas”, diz. Mas não reclama da segurança. “Já foi pior”.
E também já foi melhor. O proprietário conta que uma das suas melhores lembranças de infância é dicotomicamente o Dia dos Finados. Se para muita gente, essa data é uma lembrança triste, para Airton, é a lembrança da praça cheia, dos amigos reunidos, das filas que rodeavam o local, que fica em frente ao Cemitério Municipal.
Era quando a sorveteria fazia até mesmo parceria com a Caruso para vender empadinhas e colocava caixas e caixas com barras de gelo para vender refrigerantes para as milhares de pessoas que passavam pelo local. Década de 1970. Uma época em que a sorveteria reunia 6 mil pessoas por dia. Hoje nem a metade disso passa pelo balcão (que mantém as mesmas características do passado, com a diferença que há três anos passou a aceitar cartão bancário).
Sobre o futuro? A nova geração da família não deve tocar o negócio, mas Airton também não pensa em desistir – apesar do apelo da mulher, que quer viajar. “Não tem como, isso aqui é a nossa vida. Cresci aqui e vi as pessoas crescendo aqui”, salienta enquanto interrompe a conversa para cumprimentar um cliente que diz frequentar o local desde 1977. Assim como o sorvete, as histórias continuam sendo feitas ali.
SERVIÇO : Sorvetes Gaúcho – Praça do Redentor,13, São Francisco. (41) 3223-5054. De segunda a segunda, das 12 às 20h.