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Jornalista com pós-doutorado pela Sorbonne, Felipe Pena publica o seu romance e diz: “Escrever fácil é muito difícil” | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Jornalista com pós-doutorado pela Sorbonne, Felipe Pena publica o seu romance e diz: “Escrever fácil é muito difícil”| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Opinião

Um caminho para o futuro da literatura

Marcio Renato dos Santos, Repórter do Caderno G

A realização de um projeto literário como o de Felipe Pena aponta para uma boa-nova: a literatura pode ser viável no Brasil.

Pena, há quatro anos, traçou um plano de voo. Delineou um tema.

Obviamente, a partir do projeto inicial, o desenrolar do romance, como o de toda obra, seguiu ao ritmo do acaso que são as interações entre os personagens, entre outros fatores.

Mas, aqui, é preciso apontar para o resultado.

Pena fez um romance fluente, bom de ser lido do início ao fim. E é bom porque o texto literário alia informações colhidas na realidade reprocessadas por meio de linguagem refinada. E é refinada porque foi burilada, afinal, o texto é simples, e todos sabem que o mais difícil é o "escrever fácil".

O romance reconstrói um Rio de Janeiro contemporâneo. A Barra da Tijuca, tão criticada por ser, em tese, apenas reduto de novos-ricos, é apresentada como cenário tão agradável como já foi Copacabana na época da Bossa Nova.

Mas, além dos cenários, o que se impõe são os conflitos problematizados.

O narrador apresenta uma história de amor: o amor da filha da empregada com o filho do patrão.

Simultaneamente, personagens secundários têm seus momentos de protagonistas, e entram em cena traficantes, empresários, professores e outros.

A maestria do narrador evidencia-se porque nenhum personagem é julgado. Nem os adúlteros. Os seres, até os ficcionais, apenas são. Nem mesmo os que entram em cursos de Psicologia, não para estudar, mas para tentar se curar, são questionados.

Por tornar o ato da leitura de um romance algo tão prazeroso como sorver um sorvete de morango em uma tarde de verão, Felipe Pena prova que a literatura brasileira, muitas vezes hermética, e em outros casos rala, é sim acessível a todo e qualquer leitor. GGGG

  • O romance de Felipe Pena chega às livrarias com tiragem de 10 mil exemplares, bem acima da média (três mil).

2010 é um ano de mudança para Felipe Pena. Durante os seus 39 anos, esse carioca se tornou mais conhecido pelo seu trabalho de pesquisa e como professor de Jorna­­lismo. Ele já escreveu sete livros acadêmicos, entre os quais, Jorna­­lismo Literário (Editora Contexto), título lido e estudado em cursos universitários em todo o Brasil. Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), orienta, neste momento, duas alunas: uma no pós-doutorado e outra no mestrado. Depois que terminar essa missão, pretende lecionar apenas na gradução. O motivo? A literatura.

Em 2008, ele publicou O Anal­­fabeto Que Passou no Vestibular (7Letras), romance que tem como argumento o grande negócio que se tornou o ensino superior particular no Brasil. Se a obra não foi um arrasa-quarteirão, ao menos chamou a atenção de leitores, críticos e editores para a verve ficcional do, até então, "apenas" estudioso e teórico do Jornalismo.

Desde 2005, Pena cursava Psi­­cologia. Não queria somente o di­­ploma. O objetivo era escrever um outro livro. O jornalista disfarçado de aluno frequentou as várias disciplinas e, com o faro de repórter ligado, viu o que muitas vezes passa despercebido. Mais do que uma grande reportagem informal e sem prazo, surgia, dia após dia, o argumento para um novo romance.

Pena confessa que, quando era menino, não acreditava nos depoimentos do escritor Jorge Amado, que dizia que os pesonagens de um romance, depois de inventados, adquirem vida própria. Agora que é ficcionista, Pena sabe que os seres da ficção são autônomos, fazem, dizem e pensam o que querem, independentemente da vontade do autor. "O romancista não tem controle sobre o desenrolar de uma trama", conta.

O Marido Perfeito Mora ao Lado, que acaba de sair do parque gráfico da editora Record, com tiragem inicial de 10 mil exemplares, é o resultado daquela pesquisa de campo que Pena fez durante quatro anos em um curso de Psicologia.

A longa narrativa é, na definição do escritor, um romance profissional. E é profissional porque Pena arquitetou todo um projeto e, acima de tudo, escreveu e reescreveu o texto diariamente, durante quatro anos, das 5 às 8 horas, incluindo sábados, domingos e feriados.

Depois dessa aventura criativa, ele pretende se dedicar exclusivamente à ficção. Mas, como enfatiza, levando na bagagem, a experiência que teve como repórter no jornal O Dia e na TV Manchete.

Hoje à noite, na Universidade Positivo, ele deve falar sobre onde o jornalismo se encontra com a literatura. O que é, na prática, o processo que resultou neste romance que ele estará autografando depois do bate-papo.

Mas, se o leitor da Gazeta do Povo não puder participar do encontro, Pena faz um resumo do que será discutido: "O objetivo de quem escreve é seduzir o leitor". Simples assim? Aparentemente, sim. Mas, na realidade, realizar essa sedução é, mais do que uma batalha, uma Guerra de Troia.

No início de fevereiro, Pena articulou, com outros autores cariocas, o "Manifesto Silvestre". Trata-se, acima de tudo, de uma defesa da narrativa, do entretenimento e da popularização da literatura. "Em literatura, entretenimento não é passatempo. É sedução pela palavra", diz o primeiro dos dez pontos dessa profissão de fé.

Pena anuncia que o grupo do "Manifesto Silvestre" vai se movimentar em 2010. Enquanto isso, ele viaja pelo Brasil para divulgar o novo romance. Já passou por São Paulo e Belém e, depois de Curitiba, estará em Belo Horizonte, Porto Alegre e outras capitais.

Com o laptop por perto, já es­­creve o próximo romance, O Apai­­xonado Não Pede, Se Oferece, mais um projeto com a finalidade de seduzir leitores.

Serviço:

O jornalista e escritor Felipe Pena faz palestra sobre jornalismo e literatura. Auditório do Bloco Azul da Universidade Positivo (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5,300 - Campo Comprido), (41) 3317-5300. Dia 8, às 19 horas. Entrada franca. Após o bate-papo, haverá sessão de autógrafo. O Marido Perfeito Mora ao Lado será vendido pelo preço promocional de R$ 30.

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