
Joelson Medeiros era aluno de Lala Schneider, no curso de Artes Cênicas da PUCPR, quando montou uma peça de Bertolt Brecht: Um Homem É um Homem. Depois desse primeiro contato, ainda amador, o curitibano nascido no bairro do Prado Velho demoraria a dar voz novamente a um texto do dramaturgo alemão.
Até chegar ao elenco de A Alma Boa de Setsuan, espetáculo que encena ao lado de Denise Fraga neste fim de semana, no Guairão, o ator participaria de algumas das principais companhias de teatro do país e ganharia espaço na Rede Globo.
Aos 21 anos, formado, o curitibano partiu para São Paulo, onde trabalhou por oito anos com o Teatro da Vertigem, participando de montagens históricas como O Livro de Jó e Apocalipse 1.11. Viajou o mundo com esses espetáculos, da Colômbia à Polônia e à Dinamarca. Saiu do grupo do diretor Antônio Araújo para se juntar a Felipe Hirsch na Sutil Companhia, e atuar em Avenida Dropsie e Temporada de Gripe.
Chamado para a novela Páginas da Vida em 2006, trocou a capital paulista pela carioca. Depois, o quiseram na minissérie Queridos Amigos, na qual contracenou com Denise Fraga.
"Já conhecia a Denise porque gravei muito o Retrato Falado, do Fantástico, mas em Queridos Amigos a gente se aproximou mais", diz o ator. O passo seguinte seria o convite da colega para integrar o elenco de A Alma Boa..., sob a direção de Marco Antônio Braz. Um admirável sucesso de público em São Paulo, endossado pela crítica.
No espetáculo indicado a cinco categorias do Prêmio Shell, Joelson Medeiros é o aviador. Um homem que resiste a engrossar o bando de miseráveis e oportunistas da cidade de Setsuan que Brecht situou na longínqua China, mas poderia ser aqui ao lado.
"A cidade inteira está corrompida e Chen Tê (a prostituta interpretada por Denise Fraga) se vê cercada por uns urubus aproveitadores, até que encontra o aviador, que quer sair da cidade porque não aguenta mais ver o caos. Ele quer um trabalho, mas não há empregos no pós-guerra. Prestes a se matar, encontra a prostituta e eles se apaixonam", conta.
Esse não é um final feliz. "A maldade é uma espécie de incapacidade", diz a certa altura Chen Tê, e a frase cabe ao personagem de Medeiros. A prostituta recebe uma quantidade significativa de dinheiro e passa a ser vista pelo amado como uma porta de saída da miséria. O debate ético que se segue recorre ao humor.
"Como a Denise fala, a comédia tem esse poder de enfiar a faca na barriga das pessoas sem elas perceberem, enquanto riem", diz Medeiros, escalado para viver um padre na novela Caras e Bocas, que estreia em abril, às 19 horas na Globo. Será amigo de infância do personagem de Malvino Salvatore, protagonista da trama de Walcyr Carrasco, e circulará pelo núcleo dos judeus ortodoxos, discutindo questões filosóficas.