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Saló, Salomé impulsionou a carreira internacional do grupo, que se estabeleceu em Lisboa nos anos 90 | Fotos: Reprodução
Saló, Salomé impulsionou a carreira internacional do grupo, que se estabeleceu em Lisboa nos anos 90| Foto: Fotos: Reprodução

Trajetória

Confira a história dos Satyros desde 1989, quando Ivam Cabral e Rodolfo García Vazquéz criaram o grupo em São Paulo

Lisboa – Os Satyros estrearam com o infantil Arlequim e, em seguida, o adulto Sades ou Noites com os Professores Imorais. Saló, Salomé, de 1991, começou a definir a pesquisa do grupo e o levou a festivais europeus. Em Lisboa, abriram uma sede de onde partiam para se apresentar na França, Espanha, Inglaterra, Escócia e Ucrânia. Por lá encenaram Sappho de Lesbos e a rodrigueana Valsa nº 6, além de Woyzeck, Hamlet-Machine e Divinas Palavras.

Curitiba – A capital paranaense se tornou uma segunda sede em 1994, com espetáculos como De Profundis, Quando Você Disse Que Me Amava, Prometeu Agrilhoado, Electra, Killer Disney, A Farsa de Inês Pereira e Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte, entre outros.

São Paulo – No final de 2000, uma nova sede é instalada em São Paulo, e o grupo vai e volta entre as duas capitais brasileiras. Na paulista, faz Antígona, A Filosofia na Alcova, Transex e A Vida na Praça Roosevelt. Na paranaense, Kaspar, Faz de Conta Que Tem Sol Lá Fora, Sobre Ventos na Fronteira e Cosmogonia – Experimento 1. Em 2005, foi inaugurado o Espaço dos Satyros Dois, na Praça Roosevelt, 124. Vieram Joana Evangelista e Os 120 Dias de Sodoma, Inocência, Divinas Palavras, Vestido de Noiva, Liz e Justine.

Novos

Este ano, estrearam Roberto Zucco (de Bernard-Marie Koltès) e Hipóteses para o Amor e a Verdade.

Estante

Entre diversas indicações, os principais prêmios recebidos pelos Satyros:

Primeiros

A Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) elegeu Ivam Cabral melhor ator em 1989, pelo infantil Arlequim. Em 1991, a APCA indicou Saló, Salomé como melhor espetáculo.

Gralha Azul

As indicações foram muitas entre 1995 e 2005. Levaram o troféu: Electra (1997) – melhor atriz (Silvanah Santos); Killer Disney (1997) – espetáculo, ator (Ivam Cabral) e diretor (Marcelo Marchioro); A Farsa de Inês Pereira (1999) – ator (Tadeu Peroni); Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte (2000) – ator (Ivam Cabral); Quinhentas Vozes (2001) – espetáculo, direção (Rodolfo García Vázquez), autor (Zeca Corrêa Leite) e atriz (Silvanah Santos).

Shell

O prêmio contemplou Rodolfo García Vázquez pela luz de Sappho de Lesbos (2001) e pela direção de A Vida na Praça Roosevelt (2005); e o indicou pela direção de Antígona (2003); Inocência (2006); e Justine (2009).

Outros

Inocência ganhou melhor espetáculo da APCA, que havia dado o prêmio especial da crítica ao evento Satyrianas (maratona teatral de 72 horas), em 2007. Liz (2008) foi eleito melhor espetáculo estrangeiro pelo Prêmio Villanueva, em Cuba.

  • Ivam Cabral em Kaspar ou A Triste História do Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz, de 2004

Nas páginas do livro Os Satyros, lançado pela Imprensa Oficial de São Paulo, 20 anos de atuação nos palcos curitibanos, paulistas e lisboetas se traduzem em imagens fortes. Perpetuam a memória iconográfica da companhia fundada em 1989 pelo paranaense Ivam Cabral e o paulista Rodolfo García Vazquéz, num momento do teatro brasileiro em que as duas principais forças eram Gerald Thomas e Antunes Filho.

Os Satyros, desde o começo, perseguiram outra ideia, a de um teatro dionísico, a exemplo de José Celso Martinez Corrêa, que então lutava por reerguer seu Teatro Oficina. "Os Satyros surgem buscando essa visceralidade, a embriaguez, o sexo e a perturbação que o teatro tem de ter", diz Ivam. Mas há uma diferença básica, segundo o ator: "O dionísico do Oficina é carnavalesco e alegre, o dos Satyros, triste e sem perspectiva."

A distinção serve à maneira como os dois grupos tratam a libido, muito presente em seus espetáculos – como se vê pela quantidade de atores e atrizes nus nas fotografias do livro memorial. "É impossível falar das entranhas, sem pensar no sexo, porque ao mesmo tempo que é prazeroso, é um horror. Encarar isso no palco e na vida é fundamental", defende o ator. "O Zé usa a libido como libertadora, eu não acredito que seja. Acho que estamos muito travados, e sofremos com isso."

A postura desafiadora de pudores assumida pelos Satyros nem sempre foi bem recebida, especialmente na conservadora Curitiba dos anos 90, quando nem o teatro de grupo havia se espalhado ainda pela cidade. Produziram aqui o espetáculo Sades ou Noites com os Professores Imorais. "Era um trabalho muito violento, fazíamos xixi no palco. Todo mundo tinha certeza de que fazíamos sexo explícito em cena. Nunca fizemos, mas brincávamos com atores ilusionistas para que acreditassem. Perdi amigos depois dessa estreia, achavam que eu tinha enlouquecido. Já tínhamos uma característica muito política e questionadora", recorda Cabral.

Em Curitiba, Sades não foi o maior sucesso. Mas em São Paulo, onde o grupo ocupou o espaço abandonado de um antigo teatro no bairro do Bixiga, a peça aconteceu. E, depois dela, Saló, Salomé, que abriu ao grupo a chance de viajar à Europa e se estabelecer em Lisboa – um "exílio voluntário", num período crítico da economia e da política brasileira, a Era Collor.

Ao voltar ao Brasil, Curitiba foi o destino mais viável financeiramente. Aqui, Ivam Cabral havia cursado Administração na FAE – conhecimento que Rodolfo Vazquéz partilhava e certamente fez diferença para que o grupo alcançasse a visibilidade da qual desfruta hoje na Praça Roosevelt, em São Paulo –, trabalhou em empresas como a Trombini e se formou em teatro.

Nesse retorno, investiu na formação de atores em oficinas, então raras. A primeira sede dos Satyros se estabeleceu na Rua Comendador Macedo, quase esquina com a Doutor Faivre. Por fim, se instalaram na Rua Westephalen, onde o projeto curitibano sofreu sua "derrocada". Atraídos pela Fundação Cultural, que pretendia dinamizar o Novo Rebouças, o grupo se mudou para o bairro mas não conseguiu levar seu público nem se sustentar.

"Foi uma experiência frustrante", diz Cabral. "Engraçado, em São Paulo, o que não conseguimos fazer em 12 anos em Curitiba (1994-2006), fizemos em três." O artista acredita que o conservadorismo local pesou – e que companhias como a CiaSenhas e a Silenciosa teriam reconhecimento assegurado se saíssem desse contexto curitibano.

Em 1999, recorda Ivam, o grupo tentou realizar a maratona de peças Satyrianas na Casa Vermelha. "Numa das madrugadas, chamamos travestis e transexuais para fazerem uma performance. A responsável pela Casa Vermelha na época – não vou dizer o nome – baixou lá com a polícia. Achou ‘absurdo’ porque estavávamos ‘denegrindo um espaço publico’. Me lembro de ter ficado assustado, era muito preconceito."

Cabral acha que a cidade está diferente, no bom sentido, por causa do movimento teatral fortalecido ao longo dos anos 1990 e 2000 – nos 80, o teatro paranaense mais forte era o londrinense, acompanhado na capital por Fátima Ortiz e o início do grupo Delírio, de Edson Bueno.

Presente

Agora, Ivam Cabral dirige a São Paulo Escola de Teatro, com verba estadual de R$ 10 milhões ao ano, e que deve ganhar um prédio de 11 andares na Praça Roosevelt, onde Os Satyros mantêm dois espaços teatrais. Além das peças de repertório, como Justine e A Filosofia na Alcova, puseram em cartaz este ano a autoral Hipóteses para O Amor e a Verdade e a montagem de Roberto Zucco, último texto de Bernard-Marie Koltès, sobre o serial killer italiano.

Esta, dificilmente virá a Curitiba porque mobiliza duas dezenas de atores e uma plateia móvel. Hipóteses... é mais provável que chegue até aqui – e as duas ficaram de fora do livro, fechado no fim de 2009, mas com lançamento adiado por causa do estado de saúde do ator e crítico teatral Alberto Guzik, morto em 26 de junho.

O que já está acertada é a participação de Ivam Cabral no Festival de Curitiba de 2011, em um espetáculo ainda em definição, dirigido por Aimar Labaki a partir de textos do argentino Copi – sobre quem a Cia. Brasileira realizou uma mostra em 2007.

Serviço:

Livro Os Satyros, de Aimar Labaki. Imprensa Oficial de São Paulo. Preço (com desconto): R$ 40 no site www.imprensaoficial.com.br.

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