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Marília Vargas: com a ajuda do pai, redescobriu partituras valiosas, matéria-prima para gravar Todo Amor Desta Terra | Francisco Martins/ Divulgação
Marília Vargas: com a ajuda do pai, redescobriu partituras valiosas, matéria-prima para gravar Todo Amor Desta Terra| Foto: Francisco Martins/ Divulgação

Músicos dos pinheirais

Saiba mais sobre alguns compositores paranaenses que tiveram suas obras relidas na voz de Marília Vargas.

Augusto Stresser (1871-1918)

O curitibano foi o autor de Ópera Sidéria, primeira ópera do Paraná. Além de compositor, também foi desenhista, pintor, poeta e jornalista.

Benedito Nicolau dos Santos (1878-1956)

Curitibano, escreveu "Sonometria e Música", livro de quatro volumes em que lançou novas bases para o sistema musical. Possuiu a cadeira número 19 da Academia Brasileira de Letras.

Bento Mossurunga (1879-1970)

Nasceu em Castro, morou em Curitiba e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez carreira como violinista, compositor e maestro. É de sua autoria o hino do Estado do Paraná, composto em 1903.

Wolf Schaia (1922 – 2002)

Cantor, maestro e professor, era ligado em ópera. Fundou o Grupo de Operetas do Paraná e deixou mais de 600 peças para canto e piano.

Alceo Bocchino (1918)

Nasceu em Curitiba e atualmente vive no Rio de Janeiro. Amigo de Heitor Villa-Lobos, ajudou a formar a Orquestra Sinfônica Nacional, da qual foi titular.

Foi depois de conversar com familiares, pesquisar em museus e literalmente abrir baús que a curitibana Marília Vargas conseguiu a matéria-prima necessária para lançar Todo Amor Desta Terra – Canções Paranaenses. O tempo entre a procura por partituras dadas como perdidas e o lançamento do disco foi de dois anos. E o álbum já pode ser considerado um dos mais completos e importantes registros da música erudita paranaense.

Acompanhada pelo pianista Ben Hur Cionek, amigo de infância, Marília canta composições dos maestros Bento Mossurunga e Augusto Stresser, e resgata músicas de José Penalva e Alceo Bocchino. Obras de Wolf Schaia, Benedito Nicolau dos Santos, Fagundes Varela, Tomás Antônio Gonzaga e Menotti del Picchia também estão no disco, que já no encarte diz a que vem: a imagem que aparece na capa do CD é um cromo – filme fotográfico positivo – de uma foto de 1909. É possível ver como era a Catedral, o Passeio Público e a Praça Garibaldi há exatos cem anos.

"A ideia partiu do meu pai. Ele tem uma coleção grande de discos e nós percebemos que havia poucos registros de música paranaense. Fizemos uma pesquisa e diversas buscas para achar partituras e algumas poucas coisas que haviam sido gravadas", diz Marília, vigorosa soprano.

Movida pela "vontade de fazer com que as coisas que estão guardadas apareçam", Marília e o pai, Paulo José da Costa, proprietário do sebo Fígaro, trabalharam tanto para reconstruir partituras como para fazer a seleção das 22 faixas do disco. Isso porque o resultado foi melhor do que o esperado. Marília já tem, inclusive, material para mais um álbum dedicado à terra das araucárias, previsto para o ano que vem.

"Conseguimos uma quantidade grande de partituras. Sentei com Ben Hur e definimos um critério: o primeiro disco seria só em português", explica a cantora.

Os versos das canções retratam o Paraná de outrora, mas ainda são capazes de tocar e criar identificação em quem os ouve.

"Depois do concerto de lançamento, no aniversário de Curitiba, tive muitas surpresas. Pessoas vieram, emocionadas, falar sobre a música ‘Sapecada’ por causa do verso ‘olha o pinhão sapecando na fogueira de São João’. Elas disseram que faziam isso (jogavam o pinhão na fogueira) quando eram crianças", diz Marília, referindo-se à música de Bento Mossurunga e João Barros Cassaí.

Carreira

A menina que tocou seu primeiro acorde com cinco anos hoje é dona de uma carreira internacionalmente respeitada. Formou-se em canto barroco na Schola Cantorum Basiliensis, na Suíça, em 2001. Especializou-se em Lied e Oratório na classe de Christoph Prègardien, no Conservatório de Zurique, em 2005. Foi premiada no 2º Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão e no 6º Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas. A soprano mora na Suiça há 13 anos e participa de diversos projetos com alguns dos maiores nomes da música erudita do mundo. Mas nunca esquece sua terra.

"Às vezes acho que o paranaense não tem identidade forte, somos mais tranquilos nesse sentido. Mas, nesse trabalho, o nosso regionalismo apareceu como nunca", comenta Marília, que alterna longas estadas na Europa com visitas rápidas a Curitiba e São Paulo.

Com sua experiência internacional, a cantora consegue, hoje, ter um olhar crítico sobre a música erudita e suas variantes geográficas.

"Lá, na Europa, é mais comum. Esse tipo de música faz parte do dia-a-dia, está muito próximo das pessoas. Por aqui, ainda parece ser muito especial", diz Marília, lembrando de um caso marcante em sua carreira.

Certa vez a cantora regia um coral de idosos no interior de Alagoas. Sua estrela brilhou quando cantou para eles. Uma senhora, depois de ouvir a voz da paranaense, disse: "Fiquei mais perto de Deus".

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