Nas últimas duas semanas, muitos jovens caíram sob um estranho feitiço. Eles andam sem destino pelas cidades com seus telefones nas mãos em busca de pequenos animais fantásticos conhecidos como pokémons. Absorvidos pelo Pokémon Go, um jogo de celular de “realidade aumentada” no qual as pessoas se movem no mundo real para capturar animais virtuais, eles geralmente ignoram seus arredores.
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Quase de regra, essa é uma aflição dos jovens. De acordo com um relatório recentemente divulgado pela StartApp, uma plataforma que coleta dados sociais de celulares, 92% dos usuários atuais do jogo têm menos de 35 anos. Sua popularidade é suficiente para fazê-lo imaginar se é assim que o futuro será: pessoas mais velhas presas em um mundo mais velho e pessoas jovens metidas em uma versão mais nova, aumentada.
As crianças de hoje em dia vivem entre estranhas e por vezes perturbadoras novas tecnologias, e é difícil adultos saberem como esses desenvolvimentos podem mudar ou eventualmente comprometer a vida para as crianças. Mas também é bom lembrar que, por mais singular e súbita que a realidade aumentada pareça ser, a situação não é nova. Gerações mais velhas têm sempre sido desconfiadas de novas tecnologias ou de mudanças sociais que corrompem a juventude.
Juvenoia
Na verdade, há até um termo específico para isso: “juvenoia”. Em um artigo de 2011, o sociólogo David Finkelhor cunhou o termo para descrever “um medo exagerado a respeito da influência da mudança social sobre crianças e jovens”.
Os jovens de hoje não pensam em nada além de si mesmos. Não têm reverência por seus pais ou pelos mais velhos. São impacientes com qualquer restrição. Falam como se soubessem de tudo
Ele oferece algumas possíveis explicações de porque esse medo emerge: pode vir de impulsos evolucionários e de nosso desejo de proteger nossas crianças de ambientes que não compreendemos e podem ser potencialmente perigosos. Pode ser parcialmente devido ao conflito geracional que vem de pais e filhos terem experiências diferentes e interesses conflitantes. E pode vir da nostalgia dos pais, a tendência de ver o próprio passado mais carinhosamente ou mais positivamente do que ele talvez mereça ser visto.
Finkelhor tem usado o termo para falar de temores de que a internet tenha tornado a vida mais perigosas para crianças, mas ele também menciona que essa tendência de resmungar sobre “os jovens de hoje” é uma preocupação muito mais antiga. Em seu artigo, Finkelhor reproduz uma citação atribuída a Pedro, o Eremita, de 1274, mas que realmente poderia vir de qualquer época: “Os jovens de hoje não pensam em nada além de si mesmos. Não têm reverência por seus pais ou pelos mais velhos. São impacientes com qualquer restrição. Falam como se soubessem de tudo.”
Observações como essa não são tão incomuns ao longo da história. De Platão ao anos 50, aqui vão sete exemplos de quando as pessoas se preocuparam a respeito de novas tendências ou tecnologias afetando a juventude de seu tempo.
A valsa, 1816
Em uma edição de 1816, o jornal Times de Londres denunciou uma nova “dança indecente estrangeira” vista na corte inglesa. “É suficiente lançar os olhos sobre o entrelaçar voluptuoso dos membros, e a íntima compressão dos corpos (...) para ver que é de fato distante da reserva e modéstia que foram até esse momento consideradas distintivas das mulheres inglesas (...) sentimos o dever de alertar todo pai contra expor sua filha a um contágio tão fatal”, disse o jornal.
Xadrez, 1859
Em 1859, a revista Scientific American publicou uma crítica a um passatempo de “um caráter muito inferior” que estava varrendo a nação, roubando “a mente de tempo valioso que poderia ser dedicado a tarefas mais nobres, enquanto não oferece nenhum benefício ao corpo. O xadrez adquiriu uma alta reputação de ser um meio para disciplinar a mente, mas pessoas envolvidas em ocupações sedentárias nunca deveriam praticar esse jogo sem diversão; elas necessitam de exercícios ao ar livre – não essa espécie de luta de gladiadores mental”, disse a revista.
Postagem mais barata, 1871
Em 1871, um artigo na revista Sunday (que fez parte de uma boa piada da tirinha online xkcd) afirmou que “a arte de se escrever cartas está morrendo rapidamente”, em parte em razão da queda no preço da postagem que encorajava as pessoas a escrever cartas mais breves, mais frequentes e, de acordo com o autor, mais irrefletidas.
“Quando uma carta custava nove centavos, parecia justo tentar fazê-la valer nove centavos”, o autor escreve, em uma crítica que poderia facilmente se aplicar a crianças mandando mensagens de texto hoje em dia. “Agora, contudo, pensamos que estamos ocupados demais para tal correspondência antiquada. Disparamos uma multidão de bilhetes rápidos e curtos em vez de nos sentarmos para ter uma boa conversa com uma verdadeira folha de papel.”
Água-forte e fotogravuras, 1892
Essas crianças malucas e sua água-forte. Um artigo na revista do Instituto da Jamaica por volta da virada do século XX lamentava a morte da “arte de gravura em linha pura”, na qual artistas gravavam uma imagem em uma placa que podia então ser usada em um processo de impressão, em favor de outro tipo de impressão moderna que usava materiais sensíveis à luz e positivos fotográficos para reproduzir imagens.
“A arte da gravura em linha pura está morrendo. Vivemos em um ritmo muito veloz para nos permitirmos o preparo de placas como as que nossos pais apreciavam. Se uma figura captura a atenção do público, o público precisa ter uma cópia em água-forte ou fotogravura dela um mês ou dois após sua aparição. Os dias no qual gravuristas estavam habituados a gastar dois ou três anos em uma única placa se foram para sempre”, o autor escreveu.
Revistas, 1907
Na Revista de Educação e Escola, um educador do início do século XX reclamou que as crianças não estavam mais sendo ensinadas a expressar suas ideias sobre os clássicos latinos e gregos oralmente, mas em vez disso ficariam sentadas pela casa com suas famílias lendo revistas. “Nossa moderna reunião de família, silenciosa ao redor do fogo, cada indivíduo com sua cabeça enterrada em sua revista favorita, é o resultado um tanto natural do banimento do colóquio de dentro das escolas”, escreveu.
Cinema, 1926
Nos ribombantes anos 20, a crescente popularidade do cinema aborrecia os puritanos, que se preocupavam que “as mentes plásticas da juventude americana” iriam absorver inconscientemente os maus hábitos e padrões morais do cinema. Como uma revista semanal cristã publicou na época, “divórcios escandalosos, incidentes em hotéis, amor livre, tudo é relevado e tolerado pelos jovens. (...) O portão dos olhos é o mais amplo e mais facilmente acessível de todos que dão acesso à alma; tudo o que é retratado na tela é impresso indelevelmente na alma da nação.”
Revistas em quadrinhos, anos 40 e 50
Depois que Batman e Super-Homem foram introduzidos nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, revistas em quadrinhos se tornaram massivamente populares nos Estados Unidos. Mas também eram amplamente vistas como uma influência corruptora para as crianças.
Sterling North, um crítico literário do jornal Chicago Daily News, escreveu em 1940: “Mal desenhadas, mal escritas e mal impressas – um esforço extenuante para os jovens olhos e jovens sistemas nervosos – o efeito desses pesadelos de papel de baixa qualidade é o de um violento estimulante. Seus pretos e vermelhos crus estragam o senso de cor natural das crianças; sua injeção hipodérmica de sexo e assassinato torna a criança impaciente com histórias melhores, porém mais calmas. A não ser que queiramos uma nova geração ainda mais feroz que a atual, pais e professores por através dos Estados Unidos precisam se unir para acabar com a revista em quadrinhos.”
Nos anos 50, o psiquiatra Frederick Wertham ecoou essas crenças em sua famosa cruzada contra revistas em quadrinhos, as quais acusou de incentivar a delinquência juvenil. Wertham conduziu uma pesquisa de sete anos sobre os efeitos dos quadrinhos – pesquisa que foi posteriormente amplamente criticada – e tentou estabelecer um sistema de classificação que manteria revistas em quadrinhos longe das mãos das crianças. Entre suas crenças estava a de que revistas em quadrinhos perpetuariam a violência, a misoginia e o racismo, que a relação entre Batman e Robin poderia encorajar pensamentos homossexuais, e que a Mulher Maravilha tornaria as garotas lésbicas.
Editorialistas, líderes religiosos e políticos se juntaram a Wertham na crítica às revistas em quadrinhos, e algumas comunidades organizaram queimas públicas de exemplares. No fim das contas, o movimento encorajou a indústria dos quadrinhos a adotar um regime autoimposto de censura, sob o qual removeram imagens violentas e narrativas repulsivas.
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