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Uyara Torrente e Pablito Kucarz em Com Amor, dirigida por Nina Rosa Sá | Elenize Dezgeniski
Uyara Torrente e Pablito Kucarz em Com Amor, dirigida por Nina Rosa Sá| Foto: Elenize Dezgeniski
  • Renato Sbardelotto em Laranja Mecânica: Cia. de Bife Seco investe no surrealismo

Sem premeditação, a 6.ª Mostra Cena Breve revelou linhas de pensamento em comum entre os grupos que se apresentaram no Teatro Novelas Curitibanas, de quinta-feira a domingo. Tome-se de exemplo a última noite, quando o acaso alinhou três cenas dominadas pela afetividade masculina.

A ação performática realizada pelos Cães Lacrimosos (Ricardo Nolasco e Clovis Cunha) começou por um anúncio de jornal que clamava por afeto. Por dias, os atores esperaram em locais públicos da cidade. As respostas recebidas foram narradas ao público após a confissão de um rompimento amoroso.

Os relatos percorrem o tê­­nue limiar entre a relação afetuosa de parte dos atores com aqueles que atenderam ao anúncio e a situação de expô-los a um público elitizado, que rirá do comportamento popular. Ironia maior: o último pedido de "ação, música ou aconselhamento" acontece diante da plateia, que não se move, mas aplaude.

Também o amor entre dois homens inspirou os mineiros do grupo As Medeias, mas, eles tratam ainda da rejeição do sentimento por outro do mesmo sexo antes que exista uma relação.

Para encerrar a noite de domingo, o ator Gabriel Gorosito encarou solitário uma suposta coletiva de imprensa, como o treinador de um time convocado a falar de um ano profissional ruim – mas também negativo no âmbito pessoal, pela perda de um amor. O texto de Will Eno se mostrou catártico ao depurar complicações experimentadas pela Pausa Companhia nos últimos tempos. Espera-se que demarque uma nova fase do grupo curitibano.

As três cenas reforçam a forte tendência sociológica – e que chega às artes – de problematizar os sentimentos masculinos, depois de décadas de atenção à questão feminina. Talvez por isso a cena baiana "Calçolas", apresentada por Lisa Vietra, tenha parecido datada, por mais que a atriz desse peso e verdade ao discurso sobre a libertação individual da mulher. Falta sutileza e uma gama maior de alternativas às oposições que se criam entre o vestido de noiva e o desnudamento, a dependência e a autonomia.

Outra característica notável no conjunto das cenas é a quantidade de trabalhos em que os atores pouco interagem entre si, falando voltados à plateia. Se a relação interna no palco se enfraquece, a do ator-público sai revigorada. Destaque pa­­ra Com Amor, do Teatro de Breque: essa "distância" entre os atores Pablito Kucarz e Uyara Torrente sublinha o desencontro amoroso. A tensão, aqui, está na tentativa de conciliação entre o amor romântico e o sexual.

Vale lembrar ainda os solos Laranja Mecânica, nas quais a Companhia Bife Seco arma a cena com elementos surreais (banco suspenso, maquiagem impactante), e Pig Lalangue, com Gustavo Bitencourt, do Couve-Flor, a contar uma história pessoal em língua incompreensível, fazendo com que o espectador questione a necessidade de entender os sentidos do texto em troca de outras formas de percepção.

Entre todas, a Cia. Subjétil foi a responsável por expandir a mostra para além das paredes do casarão, tomando o estacionamento e a rua com uma cena livremente inspirada em Édipo Rei.

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