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James Cameron reina nas bilheterias desde Titanic, em 2007 | Reuters
James Cameron reina nas bilheterias desde Titanic, em 2007| Foto: Reuters

      Maior bilheteria do cinema mundial, com US$ 2,08 bilhões acumulados até a última sexta-feira (5), "Avatar" já se consolidou como o novo marco comercial da indústria para este início de século XXI. Desde sua estreia, em dezembro de 2009, o épico futurista de James Cameron já coleciona uma série de recordes de desempenho e, na semana passada, tornou-se oficialmente o filme que mais arrecadou na América do Norte (EUA e Canadá) em todos os tempos, com US$ 606,5 milhões em ingressos vendidos na região até sexta. O recorde teve um gostinho especial para James Cameron: foi marcado em cima de outro de seus filmes, o gigante "Titanic", que permanecia intacto no trono desde 1998.

      Os números são, de fato, impressionantes. Não é todo dia que um blockbuster rompe a barreira dos US$ 500 milhões nas bilheterias norte-americanas, ainda mais quando se trata de uma franquia totalmente inédita - sucessos mais recentes como "Batman - O cavaleiro das trevas" e "Shrek 2", por exemplo, tinham a seu favor o fato de já estarem no imaginário do público. Mas, quando se olha por outro ângulo, o do número de pessoas que efetivamente compraram seus ingressos e entraram em uma sala de cinema para assistir ao filme, "Avatar" está ainda a léguas de distância do campeão absoluto desde 1939, o clássico "E o vento levou".

      O principal motivo da distorção é fácil de entender: desde o início da tabulação do desempenho dos filmes no mercado norte-americano, sempre se contou os resultados em dólares arrecadados, nunca em tamanho de público, como se faz no Brasil, por exemplo. De acordo com o site especializado na indústria cinematográfica da região BoxOfficeMojo.com, simplesmente não há dados 100% seguros sobre número de espectadores de um filme neste que é certamente o maior mercado de cinema do mundo. O site, que é o mais confiável do setor, criou no entanto um método prático para se calcular o número aproximado de espectadores de um filme, dividindo-se o total arrecadado pelo preço unitário médio do ingresso na época do lançamento.

      Ginástica matemática

      Por meio desse cálculo, estima-se que cerca de 202 milhões de norte-americanos tenham visto "E o vento levou" quando o ingresso custava em média US$ 0,23. Na outra ponta, "apenas" 61 milhões de pessoas viram "Avatar" até agora na América do Norte. Justiça seja feita, o filme de Cameron está em cartaz há oito semanas, enquanto que "E o vento levou" foi exibido durante anos em sua versão original e teve pelo menos sete relançamentos. Ainda assim, se atualizarmos os US$ 0,23 do ingresso de 1939 para os US$ 7,61 de 2010, o clássico estrelado por Clark Gable estaria com US$1,5 bilhão em bilheterias - só na América do Norte.

      Também em valores atualizados, "Avatar" fica atrás de superproduções como "Star wars" e "E.T.", que ocupam a segunda e a quarta posições, respectivamente, e do próprio "Titanic", na sexta colocação.

      Por fim, outro fator que contribui para dificultar as comparações entre o sucesso de "Avatar" e o de outros blockbusters no passado está ligado a uma característica peculiar do primeiro: trata-se concretamente do primeiro grande lançamento a ocupar mais salas 3D e de tecnologia IMAX do que as tradicionais, e o preço do ingresso nessas instalações mais modernas também tende a variar para mais.

      Segundo relatório do BoxOfficeMojo, 64% da renda de "Avatar" na América do Norte foi feita em salas 3D, 16% em IMAX e outros 19% em cinemas convencionais. Com preço médio de US$ 14,58, um ingresso de sala IMAX equivale a praticamente o dobro de um ingresso normal; o de uma sala 3D gira em torno de US$ 10.

      Com isso, é compreensível que "Avatar" acumule cifras mais altas que "Titanic", por exemplo, mas que continue na 53ª posição em público estimado, contra o 6º lugar do drama romântico de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

      Ducha de água fria?

      Apesar de todas as ponderações necessárias, o desempenho comercial de "Avatar" na América do Norte e no mercado internacional continua impressionando mesmo os profissionais do setor.

      "Avatar é um fenômeno. Não há a menor dúvida. Ele pode estar atrás de 'Titanic' ainda em termos de espectadores, mas 'Titanic' tinha um público mais amplo, que ia desde as garotas adolescentes até a terceira idade. Avatar tem um público mais direcionado", opina Pedro Butcher, editor do Filme B, site brasileiro sobre o mercado de cinema do país.

      Por aqui, "Avatar" já acumula R$ 77,8 milhões arrecadados e um público de 7,2 milhões de espectadores, segundo dados de sexta-feira do Filme B. Para efeito de comparação, "A era do gelo 3", filme mais visto no país em 2009, rendeu R$ 81 milhões nas bilheterias e foi assistido por 9 milhões de brasileiros.

      Segundo Butcher, talvez o principal feito de "Avatar" não esteja nos números mas em transformar o hábito dos cinéfilos no mundo todo. "'Avatar' é realmente um marco do cinema digital e 3D. O que acontece agora é que o próximo "Harry Potter" e "Fúria de titãs" serão convertidos em 3D. Se o lançamento tiver o mesmo público-alvo de "Avatar" vai ficar estranho não sair também em 3D", conclui.

      James Cameron, claro, sabe disso tudo há muito tempo e já promete, para breve, uma versão em 3D de "Titanic". De uma forma ou de outra, parece que o diretor megalômano vai continuar reinando no mundo do cinema por um bom tempo.

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