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Alan Moore, criador do Coringa que inspirou Heath Ledger, se aposenta

Criador de “Watchmen” e decisivo na cronologia de Batman, roteirista marcou prazo para o fim da carreira

Heath Ledger como Coringa em “Batman - Cavaleiro das Trevas”: inspirado em quadrinho de Alan Moore | /
Heath Ledger como Coringa em “Batman - Cavaleiro das Trevas”: inspirado em quadrinho de Alan Moore (Foto: /)

Considerado um dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos, o britânico Alan Moore – de obras como “Watchmen”, “V de Vingança” e “Batman: A Piada Mortal” – anunciou discretamente em um pequeno evento na Inglaterra que irá se aposentar aos 62 anos. “Vou terminar ‘Cinema Purgatório’, há ainda uma outra série que tenho que preparar e depois eu e Kevin O’Neill vamos finalizar ‘A Liga Extraordinária’. Calculo umas 250 páginas de quadrinhos, depois vou fazer qualquer outra coisa que eu tenha vontade”, disse Moore num bate-papo, no último dia 20, com John Higgs, escritor britânico que mediou o encontro.

Moore entrou para a história da Nona Arte com sua postura anti-industrial, mas que ao mesmo tempo ofereceu alguns dos principais roteiros das HQs. Seu primeiro grande destaque foi com o “Monstro do Pântano”, da DC Comics, quando abraçou personagens de terceiro escalão em histórias com misticismo e questionamentos religiosos. A temática adulta em um meio até então infantilizado mexeu com muita gente.

Em “A Piada Mortal”, insinuou abuso sexual e deixou a Batgirl paraplégica, após levar um tiro do Coringa. Mas foi mesmo em “Watchmen”, quando questionou todo o paradigma dos super-heróis, humanizando-os e colocando-os em situações triviais, ao mesmo tempo em que escancarava como um ser superpoderoso poderia romper com a realidade, que Moore se consagrou.

O anúncio da aposentadoria fecha um ciclo dos quadrinhos no qual autores de sucesso atualmente beberam sem dó, casos de Joss Whedon, Mark Waid e Brian Michael Bendis, entre outros.

“Super-heróis são um desastre cultural”

Polêmico, Moore redefiniu a indústria dos super-heróis e rasgou o verbo contra eles em diversas ocasiões, como em uma entrevista ao diário inglês The Guardian de 2014: “São um desastre cultural. Muitas pessoas parecem ter desistido de tentar compreender a realidade em que vivem ao mesmo tempo sendo capazes de compreender os universos finitos e sem sentido da DC e da Marvel Comics.” Sua obra recente, “Cinema Purgatório”, foi toda financiada por meio do site Kickstarter, um centralizador de crowdfunding em que os leitores aportavam dinheiro diretamente para financiar a história.

O selo Avatar entrou na campanha e manteve a série underground. Lançado em abril, o título traz contos de horror, é trabalhado em preto e branco e reúne vários outros conhecidos dos quadrinhos, como Garth Ennis, que fez sucesso com o violento Justiceiro, da Marvel.

“Gostava mais quando as pessoas odiavam os quadrinhos”

Esse perfil o colocou entre os maiores do segmento em todos os tempos, comparável a Carl Barks (que fez do Pato Donald um sucesso mundial), Art Spielgmann (que ganhou um Pulitzer com Maus, uma HQ), Will Eisner (criador de The Spirit e dono da primeira editora em que trabalharam os igualmente importantes Jack Kirby e Bob Kane, criador do Batman), Frank Miller (seu contemporâneo de revolução visual e de roteiro), a dupla Albert Uderzo e René Goscinny (multipremiados com Asterix), os sul-americanos Maurício de Souza e Quino (de Mafalda) e a Stan Lee (a alma da Marvel Comics), entre outros, algo que ele nunca gostou muito de ouvir.

“Eu não consigo respeitar Stan Lee. Quando eu era pequeno eu o respeitava como o maior escritor em inglês. Mas quando você começa nessa indústria você começa a ter outra percepção. Jack Kirby criou aqueles personagens. Kirby e Joe Simon criaram o Capitão América, Lee tinha 12 anos! Ele não diz que Steve Ditko criou o Homem-Aranha. Eu fico louco com isso!”, disparou em 2012.

“Mago Supremo”

Incomum em vários sentidos, Alan Moore decidiu se declarar um mago há pouco mais de 20 anos. Isso gerou uma série de especulações sobre seu comportamento, induzindo fãs a imaginar um lado sobrenatural no escritor. As explicações dele são bem mais simples. “Eu acredito que um artista ou um escritor são o mais perto do que as pessoas podem conhecer hoje em dia sobre ser um mago”, contou no documentário “The Mindscape of Alan Moore”, de 2012. “A arte, assim como a magia, é a ciência de manipular a consciência com imagens ou palavras”.

As lendas sobre o comportamento de Moore inspiraram o brasileiro Caio Oliveira, cartunista do Cantinho do Caio – que faz paródias sobre Marvel e DC, com mais de 13 mil curtidas – a lançar uma série chamada “Alan Moore O Mago Supremo”: “Fiz uma grande brincadeira com o assunto, e com a rivalidade que o Grant Morrisson tem com ele. Moore é o maior roteirista de quadrinhos de todos os tempos. Nenhum autor que eu tenha lido atingiu sua excelência em suas melhores obras.”

As brincadeiras de Caio Oliveira poderiam até cair no gosto de Moore, que também começou a carreira com paródias. A seriedade do tema atualmente é um dos pontos que o farão parar. “Algo que me tirou dos quadrinhos e é uma confissão da minha imaturidade é que hoje os quadrinhos são aceitáveis. Eu realmente gostava mais quando as pessoas os odiavam e aquela mídia genial nos permitia fazer coisas fantásticas. A arte é isso, não o que o público deseja, mas sim o que eu quero”, justificou Moore, sobre a aposentadoria.

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