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Tela de 1968 feita por Jo Jong-Man em exposição no American University Museum | Jo Jong-Man/American Uniersity Museum
Tela de 1968 feita por Jo Jong-Man em exposição no American University Museum| Foto: Jo Jong-Man/American Uniersity Museum

Joseph Stalin teria entendido na hora as imagens da exposição “Contemporary North Korean Art: The Evolution of Socialist Realism” [Arte Contemporânea na Coreia do Norte: a Evolução do Realismo Socialista]. Mas Norman Rockwell também.

A exposição no American University Museum é a primeira nos Estados Unidos que inclui obras de arte como essas, das quais muitas são de um estilo de realismo tão reconhecível quanto o das ilustrações de revistas antigas, mas numa escala épica.

Apresentada ao mesmo tempo com uma exposição de arte recente da Coreia do Sul, ela traz pinturas de tinta sobre papel de arroz produzidas por um estúdio de artes administrado pelo governo, supostamente a maior instituição do mundo que opera assim. O alto nível do domínio técnico é inversamente proporcional ao da variação estilística.

Também foram incluídas umas imagens de natureza num registro que é mais tradicionalmente coreano – o que quer dizer chinês. Mas a maioria das pinturas retrata cenas de determinação e heroísmo de grupos de soldados, trabalhadores ou camponeses. Há alguns protagonistas solitários, como um homem montado num cavalo saltando sobre uma parte destruída de uma ponte (parece uma cena de storyboard de “Velozes e Furiosos: Desafio em Pyongyang”). Há também uma pintura impressionante de um tigre que salta sobre o observador, o que revela a influência do cinema sobre essa versão turbinada do “chosonhwa” tradicional coreano.

Propaganda política

Um documentário exibido aqui no mês passado, chamado “Under the Sun”, acompanha o treinamento de uma jovem norte-coreana na arte da propaganda política. Ela e outros colegas homenageiam ritualmente veteranos de guerra cobertos de medalhas e vivem sob as sombras de imagens gigantes do ditador Kim Jong Un e seu pai e avô. Apesar de os Kim não aparecerem nessa seleção específica, a veneração do seu regime pelos militares é claramente evidente.

As duas maiores imagens são panoramas de ações coletivas, executadas também coletivamente. São tão vastas e cheias de detalhes que exigiram os esforços de múltiplos artistas e representam cenas como o resgate de marinheiros cujo barco está prestes a ser atingido por um oceano violento. É possível que essa vinheta não seja metafórica de propósito, mas poderia muito bem representar a Coreia do Norte, isolada num mar de hostilidade. Não é por acaso que não há espaço para a individualidade artística. É uma tempestade ideológica tão poderosa que qualquer um que enfrentá-la sozinho irá certamente se afogar.

Comprar ou confrontar?

Já a arte em “South Korea: Examining Life Through Social Realities” [Coreia do Sul: uma Observação da Vida Através de Realidades Sociais] também é meio familiar, mas de um modo diferente. Essa exposição de 10 artistas inclui retratos de Abraham Lincoln e Audrey Hepburn, além de nus feitos em fibra de vidro preta brilhosa, que combinaria com a decoração de qualquer lugar onde as pessoas assistem anime e compram roupas em lojas de departamento. Essa Coreia preferiu comprar o Ocidente, em vez de confrontá-lo.

Os artistas expostos abrem mão da abstração, mas poucos são realistas no sentido típico da palavra. Há algo de surreal em alguns dos seus destaques, como os grandes quadros de Lee Jin-ju, que representam ao mesmo tempo cenas internas e externas, acima e abaixo do solo, animais, humanos e máquinas. Igualmente complexa e estranha é a obra “Confrontation” de Lee Eun-sil, com duas figuras nuas e sexualmente ambíguas.

São convencionais os retratos fotorrealistas, feitos por Kang Hyung-koo, de Hepburn e Lincoln, exceto por seus olhos estranhamente refletores e brilhantes. As pinups 3D de fibra de vidro de Byun Dae-yong incluem uns toques esquisitos, porém sem nada de sombrio. Uma delas desliza dentro de uma piscina, mas não tem problema: é tão improvável se afogar nessa pequena bolha de fibra de vidro azul quanto numa das latas de sopa de Warhol.

Pop-art

Há também um toque de pop-art na exposição “The Looking Glass: Artist Immigrants of Washington” [O Espelho: Artistas Imigrantes de Washington], que apresenta 10 artistas locais com raízes na América Latina. Ric Garcia atualiza Warhol ao retratar, com muita cor, produtos alimentícios do mercado latino, que têm rótulos mais estilosos do que qualquer um feito pelas marcas Brillo ou Campbell.

“Contemporary North Korean Art: The Evolution of Socialist Realism”; “South Korea: Examining Life Through Social Realities”; e “The Looking Glass: Artist Immigrants of Washington”

Em exibição até 14 de agosto no American University Museum, 4400 Massachusetts Ave. NW., Washington, D.C., (+1) 202-885-1300.

Dentre as outras obras, há esculturas e instalações com conteúdo político, o que inclui os desenhos anti-Castro de F. Lennox Campbello e o vídeo de uma garçonete amordaçada de Carolina Mayorga. As mais tradicionais são os blocos de madeira e linoleogravura sobre temas de imigração de Naul Ojeda, artista que nasceu e foi criado no Uruguai, mas viveu em Washington desde o final da década de 1970 até sua morte em 2002.

Há peças grandes e de impacto feitas por Irene Clouthier, cujos aviões de papel estão pendurados acima da entrada, e Joan Belmar, que tem sua montagem circular de copos plásticos num dos cantos. Os “pictógrifos”, de estilo ousado, de Frida Larios, têm sua inspiração no folclore da América Central e, no entanto, alguns deles foram feitos em vinil. São, ao mesmo tempo, míticos e tão modernos quanto uma lata de sopa de feijão preto Goya.

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