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O advogado Donald Burris em  Curitiba: recuperação de quadros roubados pelos nazistas aumentou . | Hugo Harada/Gazeta do Povo
O advogado Donald Burris em Curitiba: recuperação de quadros roubados pelos nazistas aumentou .| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

A austríaca Maria Altmann (1916-2011) já tinha mais de 80 anos quando comprou a briga judicial mais importante do mundo das artes.

Refugiada nos Estados Unidos, ela conseguiu recuperar, em 2006, cinco quadros que haviam sido roubados de sua família pelos nazistas, em 1938.

Entre eles estava o “Retrato de Adele Bloch-Bauer”, sua tia, uma das obras mais famosas de Gustav Klimt (1862–1918), hoje exposta na galeria Neue, em Nova York.

Um dos advogados deste caso, o norte-americano Donald Burris, esteve em Curitiba na semana passada em um encontro sobre cultura e propriedade intelectual, promovido pela OAB Paraná.

Burris e seu sócio, Randol Schoenberg, processaram o governo austríaco por oito anos e recuperaram o quadro. A história virou um filme, “A Dama Dourada”, estrelado por Helen Mirren em 2015.

“Eu gostei do filme, ainda que o roteiro tenha esquecido de me mencionar. Este caso deu certo muito pela perseverança da nossa cliente. Talvez outro cliente tivesse desistido antes. E também por que a gente trabalhou duro”.

A partir deste processo, seu escritório passou a ser uma das referências mundiais em recuperação de obras desaparecidas e confiscadas durante a Segunda Guerra Mundial.

O quadro “Retrato de Adele Bloch-Bauer”foi recuperado por Donald Burris.

Reprodução

Ele conta que o número de casos de restituição de coleções de arte roubadas no período tem crescido na última década.

“Há grupos que se dedicam a investigar o destino de obras de arte roubadas e em muitos casos eles nos procuram. É uma das áreas do direito que jovens advogados atrás de oportunidade deveriam pensar em se especializar”.

Burris estima que 25% das obras existentes na Europa nas décadas de 1930 e 40 tenham sido roubadas pelos nazistas. Muitas foram vendidas, distribuídas entre o alto comando nazista ou destruídas “quando não se enquadravam no padrão de arte aceitável imposto por Hitler”.

Gengis Khan e Trump

Ele explica que o trauma da guerra fez com que os sobreviventes judeus só fossem tentar reaver os bens usurpados muitos anos depois.

“Quem entrou nessa lacuna foram os advogados, que passaram a atuar nesses casos em que seria possível o reconhecimento dessas pessoas como proprietárias legítimas e com o direito de reivindicar as obras de arte”.

O nova-iorquino Burris, tem a mesma idade, cresceu no mesmo bairro (Brooklyn) e tem o mesmo nome do novo presidente americano. Mas as semelhanças acabam por aí. “Espero que ele reveja alguns pontos de vista e seja um presidente de todos. É o que eu posso falar publicamente”.

Burris conta que espera que as circunstâncias que tornaram seu trabalho possível não aconteçam jamais.

“O que estamos falando aqui é sobre a destruição da cultura que ocorreu através dos séculos. Gengis Khan, Alexandre, o Grande, todos eles davam ordens para destruir a cultura. Durante a História tivemos muitos casos, mas os nazistas refinaram e levaram isso ao estado da arte. Eles decidiram que todos, com exceção dos alemães nazistas, eram uma sub-raça. Os judeus tinham muita arte concentrada nas mãos, e os nazistas queriam não só matá-los, mas destruir a cultura”.

Ele identifica um situação semelhante nas obras de arte roubadas ou destruídas pelo estado Islâmico em cidades do Iraque e espera que elas possam ser recuperadas em menos tempo do que as roubadas pelos nazistas. “O clima é melhor agora e há o papel da imprensa, mostrando o que está sendo roubado e destruído”.

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