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O tempo esteve formidável, mormaço de praia com ventinho. Mas, na contramão da meteorologia, teve chuva de papel picado, chuva de lasers, chuva de batidas supersônicas graves nos ouvidos, chuva de bailarinas na passarela, chuva de elogios ao Brasil e até chuva de calcinha atirada da plateia.

A estreia da turnê do grupo Black Eyed Peas no Brasil, na sexta à noite, na Praia de Iracema, em Fortaleza, foi um show de precisão tecnológica e de entretenimento leve, calculado, milimetricamente coreografado. Tecnologicamente, é como se fosse um cruzamento de um show de Kanye West com Madonna - reúne o delírio operístico do primeiro com as engenhocas que fundem a dança orgânica com a dança eletrônica da segunda.

É a maior turnê de um artista internacional (no topo) no Brasil, com 9 capitais no roteiro e 300 mil ingressos vendidos. Detalhe: não se trata de um artista decadente. Eles estão no auge, são provavelmente a banda de maior sucesso nos Estados Unidos atualmente. Chegam ao Morumbi no dia 4 de novembro. No meio do show, após elogios às "bundas" brasileiras, à ginga nativa, aos nobres sentimentos nacionais, o líder dos Black Eyed Peas, Will.i.am (um gênio da produção, diga-se), chegou a prometer que vai morar aqui um dia.

O "conceito" do show é retrofuturista (casacos de generais prussianos e vestidos que pareciam desenhados pelo cartunista Moebius se juntam a robôs de luz e naves interplanetárias). O grupo entra e sai de um contêiner de portas automáticas no centro do palco, sob a banda. E conta com apoio de grupo competentíssimo de bailarinas (às vezes quatro em cena, às vezes oito) que usam costumes de HQs na maior parte do tempo, e fazem mélange pós-moderno de elementos da cultura egípcia, Ray Bradbury, Terminator, Japão medieval, a Elektra de Frank Miller e por aí vai.

É um show marcadamente eletrônico e que vai progressivamente se "desnudando" até o final. No início, a banda (dois guitarristas, baterista, DJ e tecladista) toca num platô no fundo do palco (da altura de um prédio de seis andares), e só os quatro líderes vocais ficam à frente (Fergie, Will, Taboo e Apl.de.Ap). No meio do show, o guitarrista desce e 'sola' no chão. Depois, dois violonistas acompanham Fergie pela passarela (em forma de ferradura). O grupo, à moda de banda de jazz, tem solos individuais de todos os integrantes.

Mas o momento mais marcante é quando Will.i.am surge dentro de armadura de robô e vai até o centro da 'ferradura', no meio do palco. Ali, há apenas um laptop e equipamento de DJ. Um elevador hidráulico o ergue a uns três metros de altura no meio do público e ele manda uma sequência pop de FM, riffs ultraconhecidos de rock e de dance, culminando com uma pequena homenagem a Michael Jackson (que Will ajudava a produzir na época da tragédia). Em Fortaleza, a banda ficou por 2h10 no palco. A banda convidou ao palco, durante a execução de "Mas que Nada", de Jorge Benjor, 19 bailarinas brasileiras para mostrar a 'ginga' genuinamente nacional.

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