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Só Fernando Meirelles e Walter Salles têm vez quando se fala dos diretores brasileiros que obtiveram maior projeção no mercado internacional na última década. Mas no "vamos ver" matemático, em que lucratividade é mais importante que popularidade ou que indicações ao Oscar nem o diretor de "Cidade de Deus" nem o de "Central do Brasil", encheram tanto as salas de exibição quanto o carioca Carlos Saldanha. Apesar de já ter rendido cerca de US$ 305 milhões aos cofres dos estúdios da 20th Century Fox com seus dois primeiros longas-metragens, "A Era do Gelo" (2002) e "Robôs" (2005), ambos co-dirigidos por Chris Wedge, o nome deste nativo da Barra da Tijuca, de 37 anos, que mora nos EUA há 15, raramente é mencionado quando se faz um balanço das recentes conquistas do audiovisual verde-e-amarelo no exterior.

E olha que até na fila dos oscarizáveis ele esteve: em 2004, concorreu à cobiçada estatueta careca na categoria de melhor curta animado com "Gone nutty", provando que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood o vê como gente que faz. E faz bem. E pelo que o cronograma de estréias de grandes produções deste primeiro semestre indica, Saldanha vai emplacar mais uma. No dia 31 de março, estréia nos cinemas americanos e brasileiros "A Era do Gelo 2" ("Ice Age 2 — The meltdown").

O filme é a inevitável seqüência das aventuras do mamute Manfred (dublado por Ray Romano), a preguiça Sid (John Leguizamo) e o tigre-de-dentes-de-sabre Diego (Dennis Leary) pela Terra ainda em sua idade glacial.

— Desta vez, o mundo está descongelando, e eles têm que superar os medos e desafios pessoais para ajudar outros animais a sobreviverem a uma grande enchente que está por vir — diz Saldanha, em conversa por telefone com O GLOBO.

Saldanha garante a volta de Scrat, o faminto esquilo-rato, que se tornou o símbolo do filme original, mesmo sem ter nada a ver com o enredo central. Aliás, "Gone nutty" era um "solo" de Scrat. Assim como "A Era do Gelo 2" é um solo na carreira do animador brasileiro, que agora não divide os créditos de direção com ninguém. Conquistou essa oportunidade, mesmo sem a fama de que alguns de seus conterrâneos gozam.

— Não sei se meu nome não é badalado por preconceito contra o tipo de produção que faço. Acho que há uma diferença na cabeça das pessoas entre os que fazem filmes e os que fazem filmes de animação. Mesmo aqui, não se fala do John Lasseter (diretor de campeões de bilheteria como "Toy story" e "Vida de inseto") do mesmo jeito que se fala do Spielberg — diz o diretor, esbaforido, enquanto corre com os preparativos para o lançamento de "A Era do Gelo 2" nas praças americanas. — Dirigir sozinho foi uma oportunidade que a Blue Sky me ofereceu. Meu cronograma e o do Cris estariam apertados demais para que pudéssemos dirigir juntos. Essa chance foi um desafio para mim.

A Blue Sky a que Saldanha se refere é uma das produtoras que mais cresceram no mercado de animação por computação gráfica nos anos 2000, em parte graças aos bons resultados que os filmes do brasileiro tiveram nos EUA. No Brasil, a carreira de ambos também foi lucrativa. "A Era do Gelo" vendeu 2.493.808 ingressos, e "Robôs", 1.449.175. Foi graças à boa arrecadação do primeiro longa estrelado por Manfred e cia. que a Fox conseguiu se firmar em um mercado antes loteado pela Pixar (então ligada à Disney) e pela PDI (braço da DreamWorks, que fez "Shrek"). Antes de "A Era do Gelo", o estúdio fundado por Daryl F. Zanuck e Joseph M. Schenck tentou uma vaga no concorrido terreiro da animação com "Anastácia" (1997) e "Titan" (2000). Em ambas as vezes, deu com os burros na indiferença dos espectadores. Só as manhas virtuais da Blue Sky surtiram bons resultados no bolso alheio.

— Animação 3D ainda é a técnica mais popular na indústria atualmente. E espero que continue assim — diz o animador, que há 14 anos integra o quadro de funcionários da Blue Sky, tendo feito animações para filmes com atores reais como "O clube da luta", de David Fincher, em que Saldanha criou o pingüim virtual da cena em que Edward Norton entra em seu inconsciente.

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