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Carol Bensimon: encontros e acidentes fortuitos na estrada | Arquivo pessoal
Carol Bensimon: encontros e acidentes fortuitos na estrada| Foto: Arquivo pessoal
  • Livro: Todos Nós Adorávamos Caubóis- Carol Bensimon. Companhia das Letras, 192 págs., R$ 37. Romance.

Quando uma viagem é concebida como fuga, mesmo que bem-sucedida, ela está fadada a ser temporária. É o que vivem as protagonistas do novo romance de Carol Bensimon, Todos Nós Adorávamos Caubóis, terceiro livro da escritora gaúcha, autora de Pó de Parede (2008) e Sinuca Embaixo D’Água (2009).

No centro da trama estão duas jovens, Cora e Julia. A primeira, foco da narrativa, vive em Paris. A segunda, no Canadá. Em um momento de crise pessoal mútua, ambas se lançam à realização de um projeto que acalentaram durante seus anos de faculdade: pegar um carro e sair desbravando sem direção o interior do Rio Grande do Sul.

O resultado é um romance que, a seu modo, questiona os próprios fundamentos da narrativa de estrada – gênero que floresceu com mais popularidade no cinema do que propriamente na literatura. Para começar, a jornada é protagonizada por duas mulheres – algo incomum em um tipo de aventura tradicionalmente reservado a personagens masculinos.

A narrativa de estrada, por enfocar os encontros e acidentes fortuitos a que o personagem se expõe no caminho, costuma também ser um relato composto de puro presente. No livro de Carol Bensimon, o passado imiscuiu-se o tempo todo na jornada de Cora e Julia: a vida de Cora em Paris; a ainda mal resolvida e ambígua relação amorosa que as duas viveram no passado, quando estudantes; um trauma familiar na vida de Julia; as arestas da convivência de Cora com a própria família, principalmente com o pai que, na meia-idade, casou-se com uma mulher 25 anos mais nova e está para ter um filho. A viagem, portanto, também é um bom pretexto para que Cora fuja de seus problemas familiares.

Outro ponto de tensão entre o modelo da narrativa de estrada e Todos Nós Adorávamos Caubóis é a própria disposição de ânimo de Cora. Apesar do deslocamento físico ser relatado no livro, parte do romance também se passa em espaços confinados: os hotéis em que ambas se hospedam, o carro no qual viajam e, principalmente, a cabeça da própria Cora. Embora estejam realizando o projeto de uma "viagem sem planos", e, portanto, aberta ao acaso, o fato é que Cora tem, sim, um plano: avançar para além da ambiguidade sua relação com Julia, inevitavelmente retomada ao longo da viagem.

Com esse objetivo em mente, Cora não está tão aberta assim aos que cruzam seu caminho – a certa altura do livro, sua companheira de viagem a acusa de tratar com distância superior todos os que encontram. Os contatos de Cora com os demais, se não chegam a ser hostis, também estão longe de ser amigáveis, mais semelhantes a uma perplexidade afetada.

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