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Thomasin (Anya Taylor Joy), a irmã mais velha da família de “A Bruxa”, é o personagem central da trama que testa os nervos do espectador. | Divulgação
Thomasin (Anya Taylor Joy), a irmã mais velha da família de “A Bruxa”, é o personagem central da trama que testa os nervos do espectador.| Foto: Divulgação

Desde que foi lançado no Festival de Sundance do ano passado, “A Bruxa”, longa de estreia de Robert Eggers, causou furor. Críticos empolgados saíram cravando títulos como “o filme mais assustador dos últimos tempos” ou “uma produção que revolucionou o cinema de horror”. Até Stephen King, o mestre do terror, disse nas redes sociais que o filme o assustou “pra caramba”.

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Quando um filme ganha um falatório nessas proporções, a tendência sempre é desconfiar. Será tudo isso mesmo? No caso de “A Bruxa”, nem oito, nem oitenta. Não estamos diante do “Cidadão Kane” do horror, mas é inegável que o filme traz um novo fôlego ao gênero.

Em se tratando de terror, há a velha convenção de que, quanto mais assustador, melhor. Mas “A Bruxa” não é um filme que assusta. Há algumas cenas capazes de fazer o espectador mais desavisado dar um salto na poltrona, mas não são elas que fazem a diferença.

O diferencial para a plateia é o desconforto, o incômodo permanente. É aquela sensação de atravessarmos um local escuro e desconhecido, quando estamos cientes de que o perigo existe. Só não sabemos onde e quando.

Hoje, as bruxas não significam nada além de decoração brega no Halloween, mas, para a mente do século 17, eram tão reais quanto uma árvore ou uma pedra.

Robert Eggersdiretor de “A Bruxa”.

A ação se passa na Nova Inglaterra, na década de 1630. Uma família é expulsa da comunidade onde vive por não seguir as diretrizes religiosas do local. O casal com os cinco filhos se instala então próximo a uma floresta, onde tenta sobreviver a duras penas. As coisas se complicam de vez quando o bebê da família desaparece, levado por uma mulher (a tal bruxa do título?).

Desde o início, a atmosfera é opressora. A fotografia é escura, o cenário inóspito e até a voz do pai (Ralph Ineson) é de uma gravidade amedrontadora. Poderia ser mais um filme que investe no jogo de esconde-esconde entre humano e sobrenatural, mas tem mais. Só não sabemos o quê, exatamente.

Há uma certa tensão sexual entre Thomasin (Anya Taylor Joy) e Caleb (Harvey Scrimshaw), os irmãos mais velhos. Existe o conflito religioso, a dúvida de que os acontecimentos que atingem a família seriam ou não um castigo divino. Na maior parte do tempo o espectador fica às cegas, tão angustiado quanto os personagens.

“A Bruxa” não abusa da sanguinolência nem tem efeitos visuais mirabolantes. Baseado em contos populares dos séculos passados, inova ironicamente ao voltar no tempo, à época que para botar medo nas pessoas, bastava o talento de saber contar uma história até o fim.

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