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Gene Wilder e Richard Pryor em “Loucos de Dar Nó”, segundo dos quatro filmes que fizeram juntos | Divulgação/
Gene Wilder e Richard Pryor em “Loucos de Dar Nó”, segundo dos quatro filmes que fizeram juntos| Foto: Divulgação/

Alguns dos trabalhos mais memoráveis de Gene Wilder, que morreu semana passada devido a complicações relacionadas à síndrome de Alzheimer, veio de sua parceria cômica com Richard Pryor.

Wilder e Pryor entregavam um bom tanto de magia nas telas, e estavam entre as duplas de comédia inter-raciais mais bem sucedidas de Hollywood.

Wilder e Pryor estrelaram juntos em quatro filmes ao todo. “O Expresso de Chicago” (1976) e “Loucos de Dar Nó” (1980) foram grandes sucessos em termos comerciais, faturando juntos mais de 150 milhões de dólares em bilheteria. Seus filmes posteriores, “Cegos, Surdos e Loucos” (1989) e “Um Sem Juízo, Outro Sem Razão” (1991), não foram tão bem comercialmente ou na recepção da crítica.

Eis aqui uma olhada por sobre sua parceria:

Como se conheceram

Wilder estrelou em “Banzé no Oeste”, o clássico de 1974 escrito por Pryor e Mel Brooks, entre outros. Era suposto que Pryor integrasse o elenco do filme, mas sua reputação com drogas e álcool aparentemente fez os estúdios recuarem. O papel foi para Cleavon Little.

Mais tarde, o chefe da 20th Century Fox procurou Wilder para oferecer um papel em “O Expresso de Chicago”. Wilder queria pegar o papel, mas falou para o estúdio que, para o personagem que contracenava com ele, “vocês vão enfrentar muitos problemas se não pegarem a pessoa certa para o papel. (...) A única em que consigo pensar é Richard Pryor”, Wilder lembrou em uma entrevista de 2005 no programa “Fresh Air”, da Rádio Pública Nacional americana. Os executivos do estúdio concordaram.

“Conheci ele pela primeira vez em Calgary, no Canada, em uma reunião bem pacata e modesta”, Wilder disse a respeito de Pryor em 2005. “Trocamos um abraço. Ele disse o quanto me admirava e eu disse o quanto o admirava, e começamos a trabalhar na manhã seguinte.”

Como eles trabalhavam juntos

Pryor “me ensinou como improvisar diante da câmera”, Wilder disse em 2005, uma lição que começou no primeiro dia da filmagem de “O Expresso de Chicago”.

“Ele disse sua primeira fala, eu disse minha primeira fala, então vem essa outra fala dele próprio”, Wilder lembrou em uma entrevista de 2007. “Não tinha ideia de onde tinha vindo. Mas não questionei, apenas respondi naturalmente. Não tentei pensar em uma fala sagaz. (...) Uma grande armadilha mortal para atores, quando se está improvisando, é dizer ‘vou pensar em uma fala que é ainda mais engraçada que essa, ou mais sagaz que essa’.”

Pryor retornaria ao roteiro, assim como Wilder, e então Pryor sairia do roteiro novamente e Wilder reagiria com o que fazia sentido. “Tudo que fazíamos juntos era desse jeito”, disse Wilder.

À época de seu terceiro filme juntos, Wilder disse em uma entrevista de 1989, “apenas nos fazemos confortáveis na situação, ou desconfortáveis se for o caso, e reagimos um ao outro”. Apenas acontecia de as pessoas rirem do resultado, Wilder acrescentou.

Sobre a cena da graxa de sapato em “O Expresso de Chicago”

Em uma cena icônica, o rosto de Wilder é coberto em graxa de sapato em uma tentativa fazê-lo passar-se por negro. Ele está ouvindo música, tentando gingar e, da maneira como foi inicialmente escrita, um homem branco entra e pensa que Wilder é negro.

“Era a cena a respeito da qual eu estava mais preocupado, e pensei ‘bem, se Richard não se importa de eu passar graxa de sapato para me passar por negro, então isso deve ser OK porque ele é o professor aqui”, Wilder lembrou em 2005.

Durante a leitura da cena, Pryor ficou “cada vez mais taciturno”, Wilder lembrou, e Pryor disse a ele: “vou magoar muitos negros com essa cena.”

Pryor mais tarde explicou o problema para Wilder: Você está no banheiro dos homens, e você está passando graxa de sapato no seu rosto e um homem branco entra e não acha que há nada de estranho porque é assim que negros se comportam, certo?”

Wilder pediu que Pryor explicasse como a cena deveria ser: “Deveria ser um homem negro entrando, que vê o que você está fazendo, sabe de imediato que você é branco e está fazendo isso porque deve estar em algum tipo de encrenca. E diz ‘não sei qual seu problema, senhor, mas você tem de acompanhar a música’.”

A dupla chamou o diretor e a cena foi alterada.

A relação fora das telas

Muitos relatos retratam uma relação fria e difícil entre os dois fora das telas, em parte por causa do abuso de álcool e drogas de Pryor.

De acordo com relatos, Wilder disse que eles não eram bons amigos, e que não era agradável estar perto de Pryor quando ele tinha problema com drogas.

“Loucos de Dar Nó”, dirigido por Sidney Poitier, saiu no mesmo ano do infame episódio em que Pryor ateou fogo a si mesmo quando fumava pasta base de drogas. Em uma entrevista no set de filmagem, durante a qual Pryor estava supostamente sob efeito de cocaína, ele mencionou que Wilder usava um termo ofensivo para se referir a gays.

Durante esse filme, “Richard era o garoto rebelde”, Wilder disse em 2013. “Ele chegaria ao set 15 minutos, 45 minutos, uma hora, uma hora e meia atrasado e isso nos incomodava a todos. Eu não queria dizer nada porque queria que as filmagens andassem.”

“Trocando as Bolas” foi originalmente escrito tendo Wilder e Pryor em vista, mas depois do episódio da pasta base, os papeis foram para Eddie Murphy e Dan Aykroyd, o diretor John Landis disse em 2013.

Após a morte de Wilder, a filha de Pryor disse que seu pai respeitava Wilder.

“[Wilder] era um ser humano muito atencioso, mas sei que ele não andava muito com meu pai simplesmente porque não – meu pai era diferente”, Rain Pryor disse ao Hollywood Reporter. “Eles tinham naturezas diferentes. O senhor Wilder era o mais velho, ‘estou aqui. Estou fazendo meu trabalho e temos uma boa química. E então vou sair e ter minha vida sóbria’. Era um cara normal comparado ao meu pai, nesse sentido. Mas, em termos de sua generosidade e bondade, e assistir aos dois juntos, não há uma mágica que tenha sido assim em muito tempo.”

Pryor disse que seu pai se referia a Wilder: “aquele homem é um gênio, e é um bom homem, com certeza.”

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