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Ao contrário de Simon Axler, o personagem de O Último Ato, Al Pacino não perdeu a habili-dade de interpretar. | Divulgação
Ao contrário de Simon Axler, o personagem de O Último Ato, Al Pacino não perdeu a habili-dade de interpretar.| Foto: Divulgação

Filme

O Último Ato

Filme está em cartaz no Cinépolis, do Shopping Pátio Batel (Avenida do Batel, 1.868), (41) 3243-3755, com sessões às 18h e 20h30. Mas sempre é bom dar uma ligada para o cinema antes de sair de casa. De 2ª a 5ª, assinantes da Gazeta do Povo têm desconto de 50% na compra de até 2 ingressos.

Diz o Nobel de Economia Daniel Kahneman que existem diferenças importantes entre viver um momento e se lembrar dele mais tarde. É o embate entre experiência e memória.

Pesquisas mostraram que o mais importante para a memória é o que ocorre no fim da experiência. “O que define uma história são as mudanças, os momentos significativos e os desfechos”, disse Kahneman numa conferência para a fundação TED. Isso quer dizer que você pode ir a um restaurante e ter um jantar perfeito até a chegada da sobremesa e, se ela for ruim, toda a memória do jantar ficará comprometida.

A ideia faz sentido também no cinema. Fazia tempo que um fim de filme não me impressionava tanto como em O Último Ato, uma adaptação do livro A Humilhação, de Philip Roth, protagonizada por Al Pacino. O filme estreou em Curitiba na quinta-feira (26) em apenas uma sala, do Cinépolis, no shopping Pátio Batel.

E eu tinha lido o livro antes de ver filme, sabia como ele ia terminar e mesmo assim o desfecho foi impactante.

A história fala de um ator, Simon Axler (Pacino), que perde de uma hora para outra a habilidade de interpretar. A crise o derruba e ele passa a vagar pelos dias como quem espera a morte.

Até que a jovem Pegeen Mike Stapleford (Greta Gerwig) aparece na porta da casa de Simon: ela é filha de um casal de amigos e quer ajudar o ator nesse momento de crise. Há uma tensão entre os dois e você demora a entender o que se passa – se rola atração, se é um lance mais paternal ou se o mistério não tem nada a ver com relações assim.

O senhor Al Pacino, hoje com 74 anos, interpreta um ator que não consegue mais interpretar. Não parece coisa fácil de fazer. Ele envelheceu e mudou muito – há algo na boca que transformou sua fisionomia, como se os dentes da frente tivessem se desgastado muito (ou como se estivesse usando uma ponte dentária) – e, no processo, virou um personagem de si mesmo, o que acontece com alguma frequência em Hollywood.

No papel de Simon Axler, Pacino é teatral porque seu personagem é um ator de teatro. Ainda assim, você não vai vê-lo berrar (demais) como parece estar berrando desde que fez Perfume de Mulher (1992). Ele é teatral e ao mesmo tempo contido. E dá gosto ver Pacino com espaço dentro de um filme bom.

O mérito pelo filme vai um tanto para o diretor Barry Levinson, de Rain Man (1988) e Bom Dia, Vietnã (1987), e outro tanto para os roteiristas: Buck Henry, que escreveu A Primeira Noite de um Homem lá em 1967, e Michal Zebede, uma jovem estreante que deve ter ajudado muito nas partes da história relacionadas à Pegeen. Nos últimos anos, Levinson trabalhou também na televisão, dirigindo You Don’t Know Jack (2010) para a HBO, sobre o “Dr. Morte”, um médico que ajudava os pacientes a morrer.

Dizem que livros bons rendem filmes ruins e vice-versa. Foi o cineasta Jean-Luc Godard quem disse isso. O Último Ato é uma bela exceção.

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