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Dia desses, um programa de tevê universitário – o Tela Un, da Universidade Positivo –, se propôs a discutir a música autoral curitibana. O espaço que é dado a ela hoje, e o que melhorou – ou não – em relação ao passado. Leia-se divulgação, interesse e qualidade. Em um domingo vagaroso, o assunto, que sempre dá pano pra manga, foi prolongado às redes sociais. Opinião daqui, um pitaco dali, e surgiu a pergunta encafifante: o que é, afinal, fazer sucesso em Curitiba? Seriam as "terríveis" idiossincrasias da cidade capazes até mesmo de relativizar o significado da palavra "sucesso"?

Na última quinta-feira, o James recebeu uma festa em homenagem ao Korova. A atração era a banda This Charming Band, do bravo Cláudio Pimentel – ex-dono do extinto e saudoso bar laranja. Alguns, inclusive eu, vão afirmar que o bar foi um sucesso. Mas deu prejuízo e encheu a cabeça do seu proprietário.

Em 2004, a também extinta banda Poléxia lançou O Avesso, um discaço. Até abriu o show do Los Hermanos em Curitiba. Muita gente cantava, e ainda canta, as músicas do álbum de trás para frente. Acabou, todos sabem. Mas foi um sucesso. Ou não?

Pergunte a quem é mais antigo: a Blindagem de Ivo Rodrigues foi a banda de maior sucesso que o Paraná já viu. Embora sua música nunca tenha ido muito longe dos pinheirais. E a Relespública, então, que gravou o Acústico MTV e fazia shows semanais lotados. Sucesso. (?)

Agora mesmo, pipoca no Facebook o show que a banda Rosie and Me faz no Teatro Paiol, no dia 12 de maio. Uma matéria diz que o grupo – eles fizeram uma turnê nos Estados Unidos recentemente – foi "elogiada internacionalmente." Sucesso, hein? Mais um: dia desses conversei com Cassim, do Cassim & Barbária. Ele voltou de Santa Catarina e contou um punhado de histórias sobre suas turnês nos Estados Unidos e Canadá. Fez shows grandes, trocou figurinhas com bandas indiscutíveis. Fez sucesso.

Mas também há aquela banda simpática que grava um disco ok e faz shows regulares, seja aqui ou em São Paulo. Há vários exemplos, certamente você irá se lembrar de algum. E se o dito sucesso for, neste caso, exatamente isso? Fazer pequenos, mas intensos shows na sua própria cidade e conseguir, enfim, reconhecimento?

Talvez, o que falte para algumas bandas locais seja humildade, no sentido de entender e aceitar os limites de sua própria projeção. Se o sucesso possível é gravar um bom disco, que seja comemorado como tal. Se é fazer uma turnê internacional, ótimo. Se é lotar um show no Paiol, maravilhoso. Se é manter uma banda na ativa por 40 anos, melhor ainda. Todos são casos de sucesso.

Então, a pergunta não é mais como fazer sucesso, mas o que é fazer sucesso em Curitiba. Obviamente que ambição caminha junto com tudo isso e que todas as bandas que têm bom senso querem ser reconhecidas. Pelo público, pela mídia, pela crítica. Há também a questão financeira, a sobrevivência pela arte, mas esse é outro porém.

Há que se lembrar também, citando o escritor colombiano Juan Gabriel Vázquez, que, apesar da existência de moda ou correntes dominantes, o elemento mais importante dos processos de criação artística é o próprio indivíduo e suas perguntas, obsessões e dilemas. Nesse contexto, importaria menos a recepção de sua arte – e o possível sucesso almejado – do que a emissão dela naturalmente.

Por vezes falta bom senso para reconhecer que essa meta, de atingir o sucesso da forma clássica, é complexa e pode surgir de várias formas. É relativo, enfim. O reconhecimento pode vir de meia dúzia – o que não significa necessariamente sucesso como o entendemos. Mas não deixa de ser um tipo de. Tocar na rádio é outro. Tocar no Faustão é outro. Creio que racionalizar sobre essa equação, esse lugar que cada banda ocupa ou pode ocupar, é importante para que não haja frustrações futuras nem remorsos sobre o que poderia ter sido e não foi.

Um camarada, nessa mesma conversa que suscitou a discussão, disse que o curitibano vê o sucesso de maneira diferente do que um baiano ou um carioca, por exemplo. Particularidades regionais à parte, concordo. Por aqui, há quem queira ter sucesso e busque isso a todo custo. O triste é que às vezes esse mesmo artista não se dá conta de que os louros já chegaram – e que também já foram embora – justamente por conceber a ideia de sucesso da forma cristalizada e universal como a conhecemos.

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