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Elas pegaram três varas e começaram a pescar ansiosas, a todo minuto tirando os anzóis da água. Mas, com o sol castigando, acabaram com as varas pendidas já começando a bicar a água.

Então convidei para sentarem no meu banco, na sombra de árvore, e elas vieram agradecidas. Mostrei como colocar a isca cobrindo todo o anzol, e como puxar rápido e forte quando a bóia fosse puxada, não antes quando o peixe apenas beliscasse.

Elas voltaram a pescar com as varas empinadas de esperança.

A mãe foi a primeira a pegar seu peixe, as duas meninas pulando. ela tão alegre quanto aflita, sem saber como tirar o peixe da água. Recue, falei, recue e vá erguendo a vara, e ela foi recuando.

Mas não recue tanto, falei, que vá cair na outra lagoa, e ela riu feito menina. Tirei o peixe do anzol, botei no samburá, as meninas ficaram erguendo o samburá acima da água para ver o peixe.

Não façam amizade com ele, falei, senão depois vão ter dó de comer. Elas voltaram para as varas, olhos grudados nas bóias.

Com voz baixa, a mulher contou que o pai delas sempre prometia virem ao pesque-pague, mas antes acabou saindo de casa e agora atrasava a pensão, mas com a graça de Deus "e meu trabalho", falou firme, não faltava nada para as meninas, só um pouco de diversão.

Contou também que, com o décimo-terceiro, primeiro pagou umas contas, o material escolar das meninas, o imposto do Fufu, o fusca que o marido deixou quando foi embora com o carro maior, e só então falou filhas, hoje vamos ao pesque-pague.

Então a menina maior fisgou um peixe, e as três pularam e gritaram, e tiraram o peixe da água numa alegria louca.

Quando voltaram a pescar, a mãe ficou consolando a caçula, dizendo que o importante é pescar, não pegar peixe, mas a menina continuou a olhar a bóia com tristeza.

A mãe contou também que agora está fazendo curso de informática, para ganhar mais, e, com a graça de Deus, tudo vai melhorar – e, quando falou, isso, a caçula fisgou seu peixe.

Se a alegria de uma criança pudesse ser medida por notas, a alegria da menina merecia nota doze. Ela tremia de satisfação, com as mãos juntas, enquanto a mãe fez questão de tirar o peixe ela mesma, "a gente tem de aprender".

Depois foi pegar o cardápio no bar, contou o dinheiro da bolsa e pediu refris e sanduíches, comeram trocando olhares de ternura e confiança.

Pegando o samburá, a mãe perguntou como as meninas queriam os peixes, assados ou fritos, e depois de muita conversa resolveram que um seria assado, outro frito e outro cozido, mesmo que desse mais trabalho, "vamos comer peixe de todo jeito", a mãe resolveu e as filhas olharam para ela orgulhosas.

Fui pegar uma cerveja no bar e, lá do carro, elas acenaram, a mãe buzinou e descobri porque o fusca chama Fufu.

Pensei como iam dividir um peixe pequeno a cada refeição, um assado, um frito, um cozido, mas isso não deve ser problema se comerem cada peixe com a alegria com que acenavam felizes. Felizes. Fe-li-zes.

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