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Biógrafo de Clarice Lispector e agora de Susan Sontag, Benjamin Moser responde, de sua casa em Utrecht, na Holanda, a perguntas enviadas por e-mail.

Depois de escrever sobre Clarice Lispector, por que decidiu biografar Susan Sontag? Existe algum ponto de contato entre as duas?

A Sontag foi a intelectual mais proeminente dos Estados Unidos durante várias décadas. De certa forma, não tem nada a ver com Clarice. Falta, por exemplo, a parte mística de Clarice. Também não é, como ela própria sabia, uma grande artista. Era uma pessoa muito cerebral, muito intelectualizada, o contrário da Clarice. Mas é muito interessante ver os pontos de contato. As duas se perguntavam como se vivia num mundo de violência e crueldade, e, mais que nada, como as palavras, a linguagem, os lugares comuns que a gente fala sem pensar, reflete e amplia essas crueldades. E – essa parte me interessa muito – as duas eram belas mulheres. Como é ser vista como mulher? Em que grau a beleza, a aparência física, afeta a percepção de uma mulher? São assuntos que acho que a gente mal tocou ainda.

Qual é o texto de Susan Sontag que você mais relê?

Creio que é justamente Sobre Fotografia. Nele, a Susan se pergunta como é que vemos, como é que somos vistos, o que escolhemos não ver, como é que a nossa visão muda e perturba as coisas que vemos? Quem prestou atenção à Clarice Lispector entenderá que são perguntas muito, muito similares às perguntas da Clarice: mas ela as coloca de outra maneira.

Qual é o aspecto da personalidade da Susan Sontag que a define melhor?

Ela era uma pessoa séria, que queria ser séria. Não ficou nunca descansada ou falou: chega, já fiz o suficiente, já li todos os livros, já fiz o que pude, e basta. Pelo contrário. Sempre fazia mais e mais e mais e sempre nos instiga a fazer mais: a aprender mais, a estudar mais, a ler mais, a conhecer mais, a viajar mais. E fazendo isso nos deu uma bela impressão do tamanho do mundo. O entusiasmo dela para o mundo e para a cultura é uma grande inspiração para mim e para muita gente.

O que mais chamou sua atenção nos diários? Houve alguma descoberta impressionante? Bom, são mais de cem cadernos que eu já li no original no arquivo dela na Califórnia. Mas diria que a impressão mais forte é justamente que essa mulher, que nos Estados Unidos e no mundo sempre foi vista como uma estátua impressionante, um monumento à força, à seriedade, era uma pessoa extremamente insegura, sofrida, e que ela, como todos nós, estava sempre tateando no escuro.

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