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Diego (à esq.), Cristiane e Rafael: “poética da inação” rende mais um espetáculo | Chico Nogueira/Divulgação
Diego (à esq.), Cristiane e Rafael: “poética da inação” rende mais um espetáculo| Foto: Chico Nogueira/Divulgação

Sem rótulos

Autor de O Jogo da Amarelinha introduziu a metalinguagem

Considerada a principal obra de Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha completa meio século neste ano. O argentino escreveu o livro em quatro anos e publicou Rayuela, título em espanhol, em 1963. A obra tem uma estrutura inédita: as dezenas de capítulos podem ser lidos em ordens aleatórias, havendo algumas sugeridas pelo autor e que permitem revoluções na trama.

Cortázar forma com Borges o núcleo duro da alta literatura argentina e é fortemente inspirado pelo realismo fantástico, estilo tão apreciado pelos latino-americanos e que se presta a tantas metáforas sociais e políticas. Na vida pessoal, seu posicionamento contra o governo Perón o levou a exilar-se em Paris, onde morreu em 1984. O escritor desafiou os rótulos: tendo sido considerado um exemplo para a esquerda, perdeu a estima de Fidel Castro e companhia quando questionou sobre o paradeiro de um militante.

Seu último livro é póstumo, Papeles Inesperados (Alfaguara, 2009), fruto de centenas de páginas encontradas em suas gavetas.

Teatro

Veja este e outros espetáculos no Guia Gazeta do Povo.

Pouco antes de morrer, o escritor Julio Cortázar (1914-1984) empreendeu uma viagem de um mês a bordo de uma Kombi com a mulher, a escritora Carol Dunlop (1946-1982). Não iriam muito longe, realizando o trajeto Paris-Marselha (660 quilômetros) com paradas em todas as áreas de descanso da estrada – experiência relatada pelos dois em Autonautas da Cosmopista. Carol havia sido desenganada pelos médicos e os dois queriam estender o tempo, viver os minutos.

Esse prolongamento da existência, aliado ao realismo fantástico do qual Cortázar é um dos expoentes latino-americanos, é um dos temas de Cronópios da Cosmopista, espetáculo que estreia hoje no Teatro Novelas Curitibanas (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). A peça, com direção de Rafael Camargo, do Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio, é inspirada em diversas obras do autor argentino – Cortázar nasceu na embaixada de seu país em Ixelles, na Bélgica, e morreu em Paris, em 1984.

O texto do espetáculo foi escrito por Camargo sob a influência da leitura de Bes­­tiário, O Jogo da Amarelinha, Histórias de Cro­­nópios e de Fa­­mas e Au­­­­to­­nautas.

Ele próprio está em cena, ao lado de Cristiane de Macedo (que fez, com a Cia. Brasileira, A Volta ao Dia em 80 Mundos, também inspirada em Cortázar) e Diego Marchioro (de Buraco da Fechadura, com trechos de Nelson Rodrigues e direção de Rafael Camargo).

Assim como no espetáculo baseado em Nelson, neste Camargo busca uma "estética da inação", em que tenta comunicar por outros meios que não os movimentos do ator.

"O corpo é massacrado a vida inteira para que ele se molde. E as pessoas se escondem muito atrás dos gestos", explicam Rafael e Cristiane.

Postados diante das três portas de madeira no palco do Novelas, os atores ganham objetos simbólicos da inércia: chinelos de pedra, uma canoa sem rio e um ninho onde mora um homem.

"O cenário passa a sensação de estar parado, mas, com a imaginação, a pessoa pode ir a vários lugares", conta o cenógrafo Gabriel Gallarza.

Aproximação

O texto passeia entre esses atores praticamente imóveis. Em alguns momentos apenas, eles simulam uma aproximação ou cantam juntos – daí o subtítulo da peça: Um Antimusical Psicodélico.

As histórias são apenas inspiradas em Cortázar, criador de um mundo habitado pelas criaturas fantásticas cronópios, esperanças e famas, cada uma com seu estilo peculiar de agir e pensar.

A direção musical e os arranjos são de Leonardo Pimentel e inspirados em várias referências, entre elas o tango. Quando a música sobe, exige dos atores alguma reação, e ela vem numa coreografia mínima: as mãos é que dançam.

Grupo estreia peça escrita a partir de escritor argentino

“Cronópios da Cosmopista” fica em cartaz de 22 de agosto a 29 de setembro, no Teatro Novelas Curitibanas. Com texto inspirado na obra de Julio Cortázar, ícone da literatura latino americana, a peça propõe um jogo de espelho entre Cortázar, sua obra e o olhar do grupo de artistas que participam da pesquisa.

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