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Los Padres Terribles: melodrama assume o ridículo para fazer rir | Guilherme Santos/PMPA
Los Padres Terribles: melodrama assume o ridículo para fazer rir| Foto: Guilherme Santos/PMPA

Porto Alegre - É tradição no Porto Alegre em Cena a presença em quantidade de espetáculos vindos de países vizinhos. No caso da Argentina, uma parcela expressiva das produções tem revelado o pendor portenho a dramas realistas precisos, feitos com economia de recursos cênicos e valorização do trabalhos dos atores.

O grande nome desse teatro é o diretor Daniel Veronese (Espía una Mujer Que se Mata), que este ano, por conta de uma homenagem, trocou a capital gaúcha pelo festival Mirada, em Santos, onde apresentou três montagens.

O Uruguai não desfruta da mesma solidez na cena teatral, mas também comparece. Nesta 17.ª edição, se faz representar, por exemplo, por uma montagem de Los Padres Terribles, um melodrama familiar escrito pelo francês Jean Cocteau em 1938. Os conflitos vividos no interior de uma casa – particularmente, em um quarto – envolvem um relacionamento semi-incestuoso entre uma mãe superprotetora e o filho frágil, traições do pai e artimanhas da tia. Nada realmente chocante, mas boas razões para recorrer ao psicanalista.

A encenação dirigida por Alberto Zimberg remonta a trama em tons de vaudeville, aguçando o tom alterado dos personagens, e leva a plateia às gargalhadas pelo timing cômico dos atores em cenas dinâmicas. Um teatro que entretém o público. E só.

Esse é, em síntese, o problema do atual teatro de seu país, na opinião do crítico uruguaio Jorge Arias, convidado pelo décimo ano a acompanhar o Porto Alegre em Cena. "Não que eu queira um teatro do aborrecimento, mas ele pode ser mais do que isso."

Arias escreve desde a década de 1980 para o jornal La República. Conta que o realismo como ainda se vê no teatro argentino foi quase completamente abandonado nos palcos de Montevidéo, a capital do país, à qual o teatro uruguaio fica praticamente circunscrito.

"O defeito mais grave [dos espetáculos] é que a ação acontece em um lugar não identificável, sem nenhuma relação com a situação uruguaia de hoje. É consequência da despolitização pós-ditadura militar, que terminou em 1985", diz. Até ficção científica com alienígenas ocupa o espaço do discurso sobre a vida cotidiana do país, inexistente segundo o crítico.

Entre 1960 e 71, o Uruguai teve um teatro político e combativo, encabeçado pelos grupos Teatro Circular e El Galpón – então, braço cultural do partido comunista, mas com "qualidade estética superlativa", diz o crítico. Hoje, eles perderam essas características e sobrevivem, segundo Arias, como em­­presas comerciais "em que não se adivinha uma direção estética nem política com claridade."

O maior grupo em atividade é a Comédia Nacional. "Burocratizada", diz Arias. A atriz China Zorrilla, de 86 anos, é a "Fernanda Montenegro" deles. Pode ser vista em filmes como Elsa e Fred. "Ela tem uma intensidade que poucos têm."

Da parcela do teatro brasileiro que conheceu ao longo da última década, especialmente o gaúcho, Jorge Arias se encanta pelo trabalho do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz. "É o meu maior interesse no teatro, a união da combatividade com a perfeição artística".

*A repórter viajou a convite do 17º Porto Alegre em Cena.

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