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Pintura de Georg Hallensleben para o livro Lisa no Avião, com história de Anne Gutman, parte da coleção publicada pela Cosac Naify | Reprodução
Pintura de Georg Hallensleben para o livro Lisa no Avião, com história de Anne Gutman, parte da coleção publicada pela Cosac Naify| Foto: Reprodução

Cada um dos oito livros da coleção As Catástrofes de Gaspar e Lisa poderia ser dividido em três atos. No primeiro, a escritora Anne Gutman mostra o cenário e a ação. Pode ser uma visita ao cinema ou uma viagem para Veneza.

Feito isso, surge um problema no segundo ato. As crianças querem sorvete enquanto assistem ao filme ou uma delas se perde num caiaque pelos canais da cidade italiana.

O desfecho vem com uma solução quase sempre criativa e os personagens sobrevivem ao problema, mas não necessariamente aprendem uma lição. Cada livro termina com uma retrospectiva: duas páginas mostram "fotografias" dos principais momentos da história: a ida ao cinema, o pai dormindo na poltrona, o sorvete sujando a roupa do pai, os personagens tentando lavar a roupa no banheiro.

Vendidos separadamente, os volumes são perfeitos para crianças em processo de alfabetização. Os textos são breves e a estrutura das histórias é simples – como um desenho animado de televisão. Porém, a simplicidade torna evidente a criatividade da autora francesa, que tem espaço reduzido e poucos elementos para criar um enredo que faça jus às ilustrações lindas de Georg Hallensleben.

Cada uma das páginas é, literalmente, uma pintura. Há casos em que a edição usa mais de uma imagem para compor uma ilustração – as várias atrações do museu é um exemplo – e outros em que uma única pintura ocupa duas páginas inteiras.

Encanto

O alemão Hallensleben usa pinceladas aparentes e não se preocupa em fazer retratos perfeitos de pessoas nem em reproduzir detalhes de uma figura qualquer – seja uma cabine de avião ou as fachadas dos prédios venezianos. O encanto das ilustrações está exatamente nos traços rudes usados pelo artista e nas soluções que encontra para pintar um flash de máquina fotográfica ou um suco de laranja derramado. Prestando atenção, dá para ver as manchas de tinta alaranjada, da mesma forma que se percebe a falta de de­­dos nas mãos das pessoas.

O que Hallensleben faz está longe de ser óbvio. Por pintar de maneira autêntica, consegue contar uma história paralela à narrada por sua mulher, Anne Gutman. As imagens funcionariam bem sem qualquer palavra. Ou os textos pequenos de Anne poderiam servir de títulos para as obras do marido. Em Os Pesadelos de Lisa: "Naquela noite, tive um pesadelo terrível com um lobo" e a imagem mostra uma criatura enorme seguindo Lisa; ou em Gaspar no Hospital: "Quando acordei, já era noite" para ilustrar a figura de Gaspar deitado em uma cama de hospital.

Formato

Pegue um desenho animado, o célebre Ben 10, por exemplo, exibido pelo Cartoon Network. O garoto protagonista é levado a enfrentar um problema qualquer, quase sempre relacionado a um inimigo extraterrestre que quer roubar o Omnitrix (um relógio com poderes especiais). Para encarar os adversários, Ben usa o relógio para se transformar num dos dez alienígenas e derrotar o mal. Fim da história. Essa estrutura se repete em todos os episódios.

Algo parecido acontece nos livros dos dois cachorrinhos de famílias distintas (ele, preto, ela, branca) que vivem num mundo de humanos. Depois que a situação de cada história é delineada, o problema que anuncia o ápice da aventura surge com a palavra "Catástrofe!" em letras garrafais.

Gaspar no Hospital fala do dia em que o cachorrinho engoliu o chaveiro de carro de corrida que comprou com o dinheiro economizado durante as férias. Ele o colocou na boca porque tinha medo que seus colegas da escola, "invejosos", o roubassem. E, "catástrofe!", Gaspar o engoliu.

No hospital, o sedaram para a cirurgia que removeu o chaveiro do estômago. A história termina com um presente – o cachorrinho ganha "um carro de corrida bem grande" que não tem como engolir.

Nem todos os livros envolvem os dois personagens. Gaspar tem duas aventuras solo, em Veneza e no hospital. Lisa aparece sozinha no avião – é quando derrama o suco de laranja –, nos seus pesadelos com o lobo e no nascimento da sua irmãzinha (Gaspar faz pequenas aparições nas duas últimas).

Gaspar e Lisa estão juntos nos outros três livros: quando vão ao museu de história natural, ao pensar num presente de natal para a professora e na ida ao cinema.

Ratatouille

O mais divertido é O Presente de Natal, que mostra a dupla fazendo uma capa de chuva com a cortina do banheiro. Ou esse, ou o Gaspar e Lisa no Cinema, quando o pai de Lisa leva as crianças para ver a animação Ratatouille – que não é nominada, mas aparece inclusive em uma das ilustrações. O episódio do cinema é um dos dois títulos inéditos da coleção. O outro é Lisa no Avião. Os demais foram publicados antes, mas ganham agora novo formato e novas fontes.

Serviço:

Coleção As Catástrofes de Gaspar e Lisa (8 volumes vendidos avulsos), de Anne Gutman e Georg Hallensleben. Tradução de vários. Cosac Naify, 32 págs. ilustradas, R$ 37 (cada um).

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