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Hamilton e seu bandolim de dez cordas: primeiro “concerto” foi aos quatro anos | Marcos Portinari/ Divulgação
Hamilton e seu bandolim de dez cordas: primeiro “concerto” foi aos quatro anos| Foto: Marcos Portinari/ Divulgação

Há dez anos, Hamilton de Holanda pediu ao luthier Virgílio Lima pensar nas medidas de um bandolim de oito cordas, dividir uns centímetros por quatro, multiplicar outros por cinco, fazer as compensações necessárias afim de colocar duas cordas a mais no simpático instrumento. Tudo com madeira "baratinha" – vai que dava tudo errado. Um tempo depois, o instrumento estava pronto. As dez cordas lhe dão uma sonoridade única e esse é hoje o bandolim oficial do músico carioca, reconhecido como um dos maiores instrumentistas do país. O ponto inicial disso tudo, acredite, foi a solidão.

"Depois de anos tocando com meu pai, meu irmão e amigos, fui morar na Europa, sozinho. Foi a solidão que me fez encontrar essa técnica e que me motivou a criar o instrumento", disse o artista, hoje aos 34 anos, de sua casa no Rio de Janeiro. Explica-se.

Diferentemente do bandolim de oito cordas, normalmente usado como instrumento melódico único, o de dez proporciona uma "flexibilidade sonora" muito maior. As variações de harmonia e ritmo são mais perceptíveis, e é possível até mesmo utilizar a polifonia – quando mais de uma nota ressoa em um mesmo momento. "É como uma mini-orquestrinha", conta Holanda.

O instrumento foi então aperfeiçoado pelo luthier Tércio Ribeiro, figura que constrói os violões de Yamandu Costa e que foi o responsável pela reforma nos instrumentos de Jacob – o do Bandolim –e proporcionou a liberdade que levou Hamilton de Holanda aos palcos do mundo. Sozinho.

O mais recente registro disso, que visa de certa forma a comemorar os dez anos da invenção, é Esperança – Ao Vivo na Europa, disco gravado durante apresentações na Finlândia, Áustria, Alemanha, França e Suíça entre março e abril deste ano.

"Escolhi as músicas meio ao acaso. Dei uma ouvida geral e senti que a qualidade do registro estava ótima para um disco ao vivo", explica o instrumentista. "Os países você pode diferenciar, ouvindo os aplausos, ao final das músicas", brinca.

São nove as faixas. Quatro com­­posições próprias – "Negro Samba", "Esperança", "Pros Anjos" e "Etienne", esta dedicada à menina de 16 anos que sobreviveu depois de ficar 17 dias soterrada sob os escombros resultantes do terremoto que devastou o Haiti no início de 2010. E cinco releituras sóbrias de músicas já consagradas. Uma escolha conservadora, por assim dizer, já que há "Vou Vivendo" (Pixinguinha), "7 Anéis" (Egberto Gismonti), "O Que Será" (Chico Buarque) e "Canto de Iemanjá" e "Canto de Ossanha", ambos afrossambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

"Para mim, o moderno é a tradição. Estou no meio dessas duas coisas. Penso lá na frente, em fazer coisas novas, mas tenho a tradição de Pixinguinha, por exemplo, na minha vida. É algo balanceado", explica o músico, que dispensa as gravadoras.

Hamilton forma com Marcos Portinari, seu empresário e parceiro artístico, uma dupla e tanto. Portinari assina as fotos de divulgação do disco, filma todos os shows, entrevistas, bastidores, encontros, comentários de Hamilton e tudo mais. E ainda edita as imagens, que alimentam a tevê on-line TVHH, um dos conteúdos do site www.hamiltondeholanda.com.

O novo álbum, aliás, sai pelo próprio selo Brasilianos, já uma referência para a nova safra da música brasileira instrumental. Que vai muito bem, obrigado. "Houve um tempo em que tocar música instrumental era uma coisa meio que de funcionário público. As pessoas não davam a devida importância. Hoje é o contrário. Depois de grandes nomes surgirem, como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Baden Powell, a utopia de ser um trabalhador na música de alto nível e viver disso não existe mais", conta o músico.

E mais três lançamentos estão a caminho para engrossar a carreira do instrumentista. O CD Gismontipascoal, homenagem à música de Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal, com a inédita presença dos dois em um mesmo trabalho; o DVD Hamilton de Holanda Quinteto com Hermeto Pascoal ao Vivo no Parque do Ibirapuera – resultante do projeto Encontro com a Música; e o DVD Hamilton de Holanda Quinteto Brasilianos 2 ao Vivo na França.

Serviço:

Esperança – Ao Vivo na Europa. Hamilton de Holanda. Brasilianos. Preço médio: R$ 23,20.

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