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Se 2009 fosse 1969 e se a beatlemania ainda estivesse em seu auge, os dias de hoje seriam um prato cheio para os formuladores das inúmeras teorias da conspiração ligadas ao universo dos Beatles.

Seriam os versos number 9... number 9... number 9..., repetidos à exaustão na faixa Revolution 9 do Álbum Branco, uma premonição da banda sobre o que viria a acontecer neste próximo dia 9, do mês 9 do ano de 2009?

É provável que não. Mas, às vésperas das comemorações dos 40 anos de Abbey Road, último disco de estúdio do quarteto de Liverpool, lançado em 26 de setembro de 1969, é difícil imaginar que os marketeiros da indústria do entretenimento fossem perder a chance de aproveitar a data sugestiva para promover uma nova revolução na história dos Beatles.

Pois a data 9/9/9 marca justa e definitivamente a entrada de uma das bandas mais populares do mundo, no século XX, para o século XXI. Se já eram revolucionários na década de 60 participando de filmes e desenhos animados em que apareciam como super-heróis psicodélicos, na próxima quarta-feira (9), os Beatles mergulham finalmente no mundo dos videogames – a indústria de entretenimento mais lucrativa destes tempos em que vivemos.

The Beatles: Rock band, jogo musical produzido pela Harmonix em parceria com a Electronic Arts e a MTV, transporta pela primeira vez na história John, Paul, George e Ringo para os domínios do mundo virtual. No game – uma versão temática do já popular "Rock band" –, o jogador entra na pele dos integrantes do Fab Four e revive sua trajetória meteórica desde as apresentações no The Cavern Club, em início de carreira, passando pelo programa de TV "Ed Sullivan show", até os concertos no Budokan (Japão) e no antológico Shea Stadium, em Nova York. A jornada termina no telhado da gravadora Apple Records, onde os Beatles fizeram sua última e memorável performance em... 1969.

Capitaneado por Dhani Harrison e Giles Martin – legítimos herdeiros do guitarrista George Harrison e do lendário produtor George Martin, considerado o quinto beatle –, "The Beatles: Rock band" atualiza 45 dos maiores sucessos do grupo para as novas gerações. Aprovado por Paul e Ringo e pelas viúvas de Lennon e Harrison, o jogo foi descrito em artigo recente do jornal "The New York Times" como "nada menos do que um divisor de águas cultural", que "pode se provar quase tão influente quanto a famosa aparição da banda no ‘The Ed Sullivan show’ em 1964".

A prova dos nove será conferida na próxima quarta, quando milhares de fãs de videogame – e dos Beatles – devem formar longas filas nas lojas especializadas dos EUA e da Europa à espera de uma chance para garantir uma cópia da disputada caixinha com o DVD do jogo (para Xbox 360 e PlayStation 3) ou da luxuosa versão completa do game, que inclui ainda réplicas idênticas das guitarras Rickenbacker e Gretsch, de John e George, e do contrabaixo Hofner, imortalizado por Paul. No Brasil, o DVD do jogo só deve chegar, em versão importada, no próximo dia 19 – e sem os instrumentos especiais.

Discografia remasterizada Na mesma data em que "The Beatles: Rock Band" chega às lojas, a EMI e a Apple Corps lançam mundialmente todo o catálogo original dos Fab Four digitalmente remasterizado pela primeira vez em CD.

Além de estilosas embalagens digipack e encartes cheios de fotos raras, cada um dos discos será embalado com uma réplica da arte que ilustrava o álbum original. Entre as novidades estão os minidocumentários dirigidos por Bob Smeaton com cerca de quatro minutos que foram incluídos nos CDs. Cada um deles conta a história da produção do álbum a partir de filmagens de arquivo, fotografias e conversas dos Beatles em estúdio.

Boa parte do material - conforme o G1 constatou em audição realizada para a imprensa na última terça (1º), em São Paulo - está na série "Anthology", mas a edição esperta faz com que os pequenos filmes, feitos para ser assistidos no computador, soem frescos até para os fãs mais exigentes.

Os CDs avulsos estarão à venda no Brasil por R$ 30, em média. A EMI lança, ainda, duas caixas importadas. A caixa Estéreo (R$ 950) compreende todos os 12 álbuns dos Beatles gravados em estéreo, com as listas das faixas e a arte como foram lançados originalmente no Reino Unido, e o "Magical mystery tour", que se tornou parte do catálogo principal da banda quando os CDs foram relançados pela primeira vez em 1987.

Naquela época, os discos foram apenas digitalizados. Desta vez, uma equipe de engenheiros do estúdio Abbey Road, em Londres, passou quatro anos trabalhando com equipamentos antigos de estúdio para manter a autenticidade e a integridade das gravações analógicas originais.

Além disso, as coleções "Past Masters Vol. I e II" foram compiladas em uma única edição, com um total de 14 títulos em 16 CDs. Este projeto marca a primeira vez em que os quatro primeiros álbuns dos Beatles – "Please, please me", "With the Beatles", "A hard day’s night" e "Beatles for sale" – estão disponíveis em estéreo e no formato CD.

Já a caixa "The Beatles in mono" tem 10 álbuns com as gravações originais em mono, além de dois outros discos com cópias em mono (registros semelhantes às faixas em estéreo dos "Past Masters"). Como bônus, os organizadores embutiram nos discos "Help!" e "Rubber Soul" as mixagens originais de 1965, nunca lançadas em CD. Esses álbuns serão lançados em CDs, réplicas de minivinis, incluindo adesivos e design original.

Vendas digitais

Mas, enquanto a versão para videogames e o relançamento do catálogo remasterizado dos Beatles caminham a todo vapor (?!), a presença oficial dos rapazes de Liverpool nas fibras óticas da internet ainda não foi concretizada. Desde o surgimento do iTunes, maior loja de downloads de músicas do mundo, cinco anos atrás, a promessa de digitalização dos álbuns dos Beatles para venda na rede permanece no ar.

A dificuldade de entendimento entre a loja da Apple, a gravadora EMI e os empresários responsáveis pelos direitos do grupo é considerada como o principal entrave para que a música dos Beatles seja comercializada livre e legalmente na internet.

No final do ano passado, em uma entrevista coletiva de lançamento de seu trabalho solo mais recente, o ex-beatle Paul McCartney anunciou que as negociações estavam perto do fim. Mas ponderou: "Nós estamos afim. Eles [a EMI] querem algo que não estamos preparados a dar", declarou Paul à época. "Ei, isso soa como a indústria musical", ironizou.

Em uma entrevista publicada no diário inglês "The Guardian", em abril deste ano, o executivo do site de streaming de músicas Spotify Jim Butcher descreveu o significado de o grupo romper a última barreira que os separa do mundo digital. "Outros artistas como Radiohead e Black Sabbath já permitiram que os usuários do Spotify tenham acesso às suas músicas. Acrescentar os Beatles só ajudaria a demonstrar que a mudança para o digital é algo que, se feito corretamente e para o bem dos fãs, dos artistas e da indústria em geral, só poderia ser positivo."

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