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Bioy Casares: um dos mais importantes autores da Argentina | Alicia D. Amico/Divulgação
Bioy Casares: um dos mais importantes autores da Argentina| Foto: Alicia D. Amico/Divulgação

Perfil

Saiba mais sobre a trajetória de Adolfo Bioy Casares:

Primeiras letras

O escritor nasceu na Rua Tucuman, no bairro de Palermo, em Buenos Aires, no dia 15 de setembro de 1914. Aprendeu as primeiras letras tanto no idioma espanhol quanto no inglês, por imposição de sua avó inglesa. Bioy Casares cresceu em uma família de posses, o que lhe possibilitou, desde pequeno, acesso irrestrito a bens culturais.

Obras

O seu texto mais conhecido é o do romance A Invenção de Morel, de 1940, mas ele escreveu pelo menos outras nove narrativas longas. Também transitou pelo conto, e o leitor brasileiro pode conhecer os seus textos no gênero por meio da coletânea Histórias Fantásticas. Ele é autor de Sete Sonhadores, texto para teatro. Chama atenção, também, os livros que escreveu em parceria com Jorge Luís Borges, entre os quais Seis Problemas para Don Isidro Parodi, livro de 1942 com autoria atribuída a Bustos Domecq. Entre os ensaios de Bioy Casares, destaque para Uma Outra Aventura, de 1969.

Adeus

Bioy Casares morreu no dia 8 de março de 1999, em uma clínica de Buenos Aires, vítima de insuficiência respiratória e coronária.

Uma das marcas da literatura latino-americana é, pelo menos a partir do século 20, o fantástico. Autores como Gabriel García Márquez, Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares, entre outros, são co­­nhecidos pelos enredos engenhosos que inventaram. Não há limites para a imaginação desses escritores. Em suas obras, pode acontecer uma chuva de pássaros ou uma guerra entre porcos.

Há muitas explicações para esse componente da prosa latina, e a tese mais difundida aponta que, na parte sul e pobre da América, a realidade é tão absurda que os escritores, até por reação a essa falta de sentido, acabam elaborando tramas fantásticas para fazer alusão ao real. As metáforas seriam uma maneira de os ficcionistas criticarem o que acontece no cotidiano.

Um dos expoentes dessa escola literária é o argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999), autor de contos, ensaios e romances, que também escreveu em parceria com Borges. Bioy Casares é lembrado, principalmente, pelo romance A Invenção de Morel, de 1940, mas alguns leitores e críticos preferem a longa narrativa Diário da Guerra do Porco, de 1969.

O escritor Rubem Fonseca é um entusiasta de Diário da Guerra do Porco. "Embora A Invenção de Morel seja o livro mais famoso de Bioy, eu ainda prefiro o Diário da Guerra do Porco. Nele, o escritor fala do compromisso que o ser humano tem com a vida", escreveu Fonseca, em texto inédito, publicado na contracapa da nova edição desse romance, em tradução inédita de José Geraldo Couto, publicado pela Cosac Naify.

A exemplo do que afirma Rubem Fonseca, o livro de Bioy Casares trata justamente de um compromisso que, inevitavelmente, todo humano tem de ter com a vida. Diário da Guerra do Porco é uma obra sobre a velhice. O enredo mostra o calvário de Isidoro Vidal, um idoso que está inserido em contexto no qual as pessoas, os jovens em especial, não respeitam os mais velhos. O "porco", presente no título, é a maneira como os garotos se referem a quem já tem rugas e cabelos brancos.

Vidal e outros personagens de idade avançada são perseguidos, atacados, desrespeitados, enfim, por onde quer que vão. Eles precisam se esconder para escapar da fúria juvenil. Em meio a descrições de movimentos e reflexões, a voz narrativa traz uma série de argumentos que comprovam que ser velho é algo considerado ruim em diversas sociedades. "Não é à toa que os esquimós ou os lapões levam seus velhos ao campo para que morram de frio", diz um idoso, no livro de Bioy.

O leitor não sabe, exatamente, onde se passa a história, e isso abre espaço para um viés mais universal. Apesar do discurso e das políticas em benefício da hoje chamada "melhor idade", basta ligar a televisão e mesmo conferir outdoors e anúncios: o mundo parece dizer que há vez apenas para os jovens. E isso está muito evidente na ficção que o autor argentino publicou no fim da década de 1960. "O que me aborrece nessa guerra ao porco é o endeusamento da juventude. Estão como loucos porque são jovens. Que estúpidos."

Dividido em capítulos breves, de quatro ou cinco páginas no máximo, simulando um diário, o texto inventivo mostra como o avanço inevitável na vida é um caminhar em direção a um estado, ou estágio, no qual a sobrevivência não é nada fácil. GGGG

Serviço:

Diário da Guerra do Porco, de Adolfo Bioy Casares. Tradução de José Geraldo Couto. Cosac Naify, 208 págs. R$ 55.

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