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Carlos Alberto Mercer, um dos clientes mais assíduos da Video 1 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Carlos Alberto Mercer, um dos clientes mais assíduos da Video 1| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Elas já foram um grande negócio. Rentáveis para seus proprietários. Pontos de encontro e refúgio seguro de famílias em noites chuvosas. Hoje estão em processo de extinção.

Em 2016, as videolocadoras parecem ter chegado a seu ocaso, o pior momento desde o surgimento na década de 1980. Um processo irreversível que afeta tanto às grandes redes quanto às pequenas lojas de bairro.

Porém, mesmo neste cenário adverso, algumas locadoras resistem apostando em estratégias como diversificação de novos produtos e serviços, segmentação do acervo e, principalmente, na relação com clientes que ainda valorizam o ritual de procurar filmes em suas prateleiras .

319

empresas seguem registradas na Junta Comercial de Curitiba no ramo de “aluguel de fitas de vídeo, DVDs e similares. Porém, segundo estimativa das distribuidoras de vídeo cerca de apenas 100 continuam ativas nos negócios. Em 2005, haviam cerca de 500 locadoras ativas.

Um hábito quase obrigatório para muitas pessoas entre as décadas de 1980 e 2010 e hoje substituída pelo vasto catálogo de downloads na internet (legais ou não), DVDs piratas, serviços de streaming como o Netflix e o acesso cada vez mais facilitado da TV por assinatura que além de agilidade e conforto, oferecem vantagens financeiras.

Com o preço de três locações na Video1, aberta em 1980 e hoje a videolocadora mais antiga em atividade na América Latina, é possível pagar a assinatura mensal do Netflix e assistir filmes e séries sem se preocupar com a multa de devolução.

Pioneiro no negócio, o empresário Luiz Renato Ribas conta que a sobrevida do mercado superou sua expectativa de que as lojas físicas estivessem extintas em 2015. Ele reconhece porém, que melhor momento já passou. Ribas crê, porém, que enquanto os estúdios e distribuidoras seguirem produzindo dvds, o mercado das locadoras resistirá, ainda que cada vez menor.

A última

No início de 2014, em plena crise que já tinha levado centenas de locadoras a fecharem as portas no Brasil, o empresário Luciano Ramos abriu a videolocadora Vincere Vídeos no centro de Curitiba. Com um acervo segmentado de obras raras e filmes de arte a locadora foi, provavelmente a última loja do segmento a abrir em Curitiba. (A Junta Comercial não divulga os dados de datas de abertura e fechamento de empresas do setor). A Vincere Videos deixou de funcionar em outubro de 2015.

“O modelo de negócio está esgotando. O público jovem está ligado na Netflix e similares. Ainda que eles tenham quatro mil filmes disponíveis e nos tenhamos 34 mil títulos”, compara.“Não há o que fazer. Brinco com meus amigos que nós vamos virar um sebo. Mas nunca fecharemos”, conclui.

Na última década, os espaços especializados em aluguel de DVDs em Curitiba e Região Metropolitana diminuíram em cerca de 250%.

Segundo a Junta Comercial do Paraná ainda há um total de 319 empresas registradas em Curitiba no ramo de “aluguel de fitas de vídeo , dvds e similares”. Porém, grande parte delas saiu dos negócios nos últimos anos sem dar a baixa em sua inscrição.

Em uma estimativa, das distribuidoras de DVDs que atuam em Curitiba, em 2005 haviam cerca de 500 locadoras. Hoje o número de lojas não chega a 100.

Heróis da resistência: empresários resistem ao declínio das videolocadoras

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Três atos

Do início dos anos 1980 até hoje, as videolocadoras passaram por três fases que definiram a trajetória do negócio. A primeira foi a era dos pioneiros como a Video 1 e a Cartoon Video, (para citar duas sobreviventes), que formataram este modelo empresarial e viraram referencia no mercado para uma legião de seguidores que replicaram a experiência em menor escala nos bairros da cidade.

Locação

80 reais é o preço médio de compra de um lançamento para as videolocadoras. Pela média dos preços de locação cobrados, um DVD precisa ser locados cerca de 10 vezes até começar a dar lucro.

O segundo momento ocorreu com a chegada da rede internacional Blockbuster, que profissionalizou o mercado na metade da década de 1990. O momento de euforia durou até meados da década seguinte, quando a pirataria digital estourou e a Blockbuster fechou boa parte de suas franquias e no Brasil foi vendida à rede de lojas Americanas. Muitas videolocadoras foram pelo mesmo caminho.

O terceiro ato começou perto de 2010 , quando os canais de streaming e downloads chegaram com força no Brasil. “A gente está ‘sobrevivendo’ desde 2015 quando a queda do mercado ficou mais acentuada. O negócio ainda está saudável, porém menor. São os clientes que vão ditar até quando vamos manter a locadora aberta”, analisa Neivo Zanini, proprietário da Cartoon Vídeo.

Clientes valorizam ritual da locação

Duas vezes por semana, o médico aposentado Carlos Alberto Mercer dirige dois quilômetros e usa parte de sua tarde escolhendo os seis filmes que levará para casa. Um dos clientes mais assíduos da locadora Video 1, Mercer conta gasta cerca de R$ 170 por mês com locação de filmes. “Meu extrato do cartão de crédito só tem gastos com locadora e farmácia”, brinca.

Para ele, ir a locadora é um hábito e um prazer. “O que eu gosto é o contato com as pessoas. É também uma oportunidade de sair de casa um pouco”, disse.

Aos 70 anos, Mercer conta que é assinante de teve a cabo, mas ainda resiste a ideia de aderir aos serviços de streaming. “Estou amadurecendo a ideia. Não quero perder o prazer de vir aqui, ficaria muito caseiro. Aqui tem mais opções de filmes e você conhece pessoas boas. É melhor do que ir a algum bar”, observa.

O perfil de clientes fiéis a videolocadoras inclui gente com a mesma faixa etária de Mercer, mas é mais variado segundo Neivo Zanini. Desde pessoas que não sabem baixar filmes na internet a quem tem aversão a pirataria. Há ainda quem gosta de indicações dos funcionários especializados da casa ou quer o título que estava em cartaz há pouco no cinema porque ele demora um pouco para chegar na tevê a cabo.

Há ainda cinéfilos atrás de títulos raros como o advogado Jorge Larri, de 44 anos. “Eu gosto do ritual, de mexer nas prateleiras e achar alguma surpresa, algum filme que sempre quis ver e nunca consegui. E depois, sentar no sofá da minha casa e relaxar”, conta.

SM
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