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A resposta mais frequente de um palhaço à pergunta "em quanto tempo se forma um palhaço?" é: "a vida toda". De fato, a formação do palhaço tem um componente prático muito forte em que ele trabalha o improviso e a capacidade de ganhar a plateia. É o que diz o ator Mauro Zanatta: "Existem duas formas para o aprendizado do palhaço: a escola e a praça. São dois espaços complementares. O palhaço precisa sempre estar produzindo seu espaço prático, senão ele fica burocrático. Nas escolas de palhaço, todos os exercícios práticos são relacionados com a plateia, ainda que seja uma plateia formada por outros palhaços".

Porém, o ensino acadêmico do palhaço é importantíssimo para quem leva a brincadeira a sério. Escolas como a Oficina do Ator Cômico e a Cia. dos Palhaços, para citar dois exemplos paranaenses, pesquisam a fundo a arte do palhaço por acreditar que a expressão cômica do clown exige a total entrega do ator: "Todo mundo tem um palhaço dentro de si, mas poucos conseguem descobri-lo. O palhaço é você mesmo, aumentado, aceitando as suas características. É difícil encarar a si próprio sem máscaras, com todos os seus defeitos, e colocar-se em cena. Algumas pessoas pensam que é só chegar lá maquiado e fazer palhaçadas. É preciso conversar com pessoas experientes e ler muito sobre o assunto".

Um exemplo da busca por essa expressão interior é o palhaço Chic-Chic, tradicional figura paranaense interpretada por Otelo Queirolo, falecido em 1967. O jornalista e pesquisador Luiz Andrioli, autor do livro O Circo e a Cidade – Histórias do Grupo Circense Queirolo em Curitiba (Fundação Cultural de Curitiba) fala dessa peculiaridade: "O Otelo era um cara muito educado e gentil, falava várias línguas e lia muito. Era muito culto, mas muito ranzinza. E ele era o chamado ‘palhaço azedo’, que fazia todo mundo rir. Ele revelava no personagem a sua própria fragilidade".

Zanatta, fundador da Oficina do Ator Cômico explica que não há um programa de longa duração para formar clowns – a arte é ensinada por meio de cursos e workshops, ou mesmo módulos dentro da escola dramática. Tendo estudado com o diretor francês Philippe Hottier, ex-membro da Companhia Théâtre du Soleil, Zanatta afirma que a principal condução na formação de um palhaço é a figura de um professor. Porém, segundo ele, essa é uma demanda ainda não completamente atendida no Brasil. "Faltam escolas e faltam muitos professores também. Com isso, a gente encontra muito mais profissionais medianos do que bons. A figura do palhaço se espalha pelo país de forma rápida, mas ainda vai demorar para chegar a um nível de qualidade satisfatório", explica.

Delicadeza

Para Felipe Oliveira, fundador da Cia. dos Palhaços, a falta de preparo pode comprometer a imagem da arte: "Muitas pessoas fazem trabalho voluntário em hospitais e se vestem de palhaço sem ter estudado. Se o palhaço abordar um paciente de uma maneira agressiva, isso pode gerar um trauma irreparável para a vida das pessoas e para o trabalho dos artistas profissionais". Por essa razão, uma das principais qualidades de um palhaço é saber se adaptar ao seu público. "Se ele consegue fazer com que a plateia entre em seu jogo, ele pode fazer o que quiser. Pode ser agressivo, ou debochar de alguém. Mas, para isso, é preciso que ele tenha a sensibilidade para saber até onde a plateia está disposta a acompanhar a brincadeira", complementa Zanatta. (YA)

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