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Espetáculo se sustenta em diálogos intensos entre a dupla, que faz um casal que é pura máscara | Marcos Morteira/Divulgação
Espetáculo se sustenta em diálogos intensos entre a dupla, que faz um casal que é pura máscara| Foto: Marcos Morteira/Divulgação

Entrevista

Você considera que a peça revela a tensão dos relacionamentos?

Sim, e a prova disso é que o público se identifica muito com os personagens. É um texto que trata de pessoas comuns, acredito que existam diversos Paulos e Marias.

Você se identifica com a comédia?

Gosto muito de fazer, acaba que sempre vejo humor em tudo. É fundamental na vida e no trabalho.

Como você se adapta à tevê e ao teatro?

Digo que são jogos diferentes, e é também uma questão de concentração. O mais difícil é criar dois personagens ao mesmo tempo, mas isso não aconteceu: quando comecei a compor o Cadinho [de Avenida Brasil], o Paulo já existia.

Você citou a novela, em que faz um cafajeste. Não é seu primeiro personagem nesse estilo. Curte o papel?

Se for um personagem bem desenvolvido, sim.

Como você lida com o assédio de quem confunde o personagem e o ator?

Gosto do contato com as pessoas, me considero simpático, e muitas mulheres, claro, se sentem à vontade em vir falar comigo. Procuro quebrar o distanciamento com o público.

É possível conviver com três mulheres ao mesmo tempo?

Sinceramente acho difícil. Uma já não é fácil, três então...(risos)

Peça

Eu Te Amo

Teatro Regina Vogue – Shopping Estação (Av. Sete de Setembro, 2.775), (41) 2101-8293. Dias 25, às 21 horas, e 26, às 19 horas. R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada). Classificação indicativa: 16 anos.

À primeira vista, Eu Te Amo, que passa pelo Teatro Regina Vogue no fim de semana, poderia parecer uma peça de oportunidade, trazendo atores conhecidos, que estão fazendo novelas no momento, numa obra que se sustenta no diálogo entre eles. Essa seria só a primeira impressão, já que o texto marcou a dramaturgia moderna brasileira. Filmado em 1981 pelo autor, Arnaldo Jabor, tinha no elenco Sônia Braga e Paulo Cesar Pereio, que atraíram 3 milhões de espectadores no que foi um grande sucesso de bilheteria.

Em 1985, a montagem para os palcos teve Paulo José e Bruna Lombardi no papel de um casal que se conhece por acaso, cada um vivendo um momento difícil, e mentindo durante um bom tempo sobre suas identidades.

Se nos anos 1980 o encontro acontecia nas ruas, onde Paulo acredita que Maria é garota de programa, na versão com Juliana Martins (Lia, de Cheias de Charme) e Alexandre Borges (Cadinho, de Avenida Brasil) eles se conhecem numa sala virtual de bate-papo. Ela, casada, está decepcionada com a vida que leva, se apresenta com nome falso e munida da decisão de dormir com o primeiro que aparecer.

Já no estúdio dele, que faz um cineasta também decepcionado com a vida e a profissão e finge ser rico, a dupla mantém momentos sensuais e de abertura da alma, sugerindo o quanto se sentem sozinhos. Em meio às revelações das duas partes, a ex de Paulo, atriz que o rejeitou, surge em projeções que remetem à memória.

Em tom de deboche e mantendo aparências irreais, a dupla leva as máscaras até onde é possível, mas percebe que passar do acordo em torno da mentira para um relacionamento sincero é praticamente impossível.

Atual

A ode à tecnologia presente no filme de Jabor, em que luzes se apagam quase que pela força da mente e imensos aparelhos de som passam a ideia de pujança, dá lugar a surpresas que a diretora Rosane Savartman prefere não revelar.

Apesar de o texto já ter mais de 30 anos, ela acredita que a obra não mudou tanto assim. "A primeira coisa que notamos foi como os diálogos continuam atuais", contou Rosane, em conversa com a reportagem. Ela divide o trabalho com Lírio Ferreira, no que foi a estreia da dupla na direção de teatro.

"Topei porque a peça foi escrita por um cineasta, dirigida por ele, está no meio do caminho [com o teatro]. Me pareceu um começo natural para mim nesse mundo, apesar de já ter escrito três peças", acrescenta Rosane.

Linguagens

Os fãs de Juliana e Ale­xandre que assistirem a Eu Te Amo poderão notar mais diferenças relacionadas às mídias artísticas. A atuação no palco, na definição de Rosane, "tem tintas mais fortes que as da televisão".

Já assistir ao filme hoje é voltar no tempo e entrar em sintonia com as preocupações daquele momento. "O texto do Jabor tem a ver com a televisão, o jornal e a crônica. Ele é uma espécie de cronista de sua época. Os diálogos cabem bem na boca do público", acredita Rosane.

Ela revela um tipo de encantamento que acomete grande parte das pessoas que põem as mãos no mundo do teatro. "A mágica é que cada espetáculo é único. É incrível como cada vez que se assiste é uma peça diferente, enquanto o filme se cristaliza", comenta.

O espectador, por sua vez, é atraído pelos paetês de Maria, que fazem referência ao figurino de Sônia Braga naquele início dos anos 1980, sugerindo uma "nostalgia atualizada" que também fala muito dos casais de hoje.

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