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O cineasta Hector Babenco: exímio diretor de atores e autor econômico na narrativa | Victor Soares/Agência Brasil
O cineasta Hector Babenco: exímio diretor de atores e autor econômico na narrativa| Foto: Victor Soares/Agência Brasil

Consagração

Confira as indicações e prêmios internacionais conquistados por Pixote, a Lei do Mais Fraco

Globo de Ouro (1982)

Indicado ao prêmio de melhor filme estrangeiro

Festival de Locarno (1981)

Prêmio de melhor diretor – Hector Babenco

Festival de San Sebastian (1981)

Prêmio OCIC – Honra ao Mérito

Prêmio do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York (1981)

Melhor filme estrangeiro

Prêmio da Sociedade dos Críticos de Cinema de Boston (1982)

Melhor filme

Melhor atriz – Marília Pêra

Prêmio da Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles (1981)

Melhor filme estrangeiro

Prêmio da Associação Americana dos Críticos de Cinema (1982)

Melhor atriz – Marília Pêra

  • Fernando Ramos da Silva interpreta um menino que vive na rua em Pixote – A Lei do Mais Fraco
  • A brasileira Sônia Braga e Raúl Julia em cena do premiado O Beijo da Mulher Aranha

O Brasil é uma pátria de órfãos, abandonados pelos pais, pela sociedade e, sobretudo, pelo Es­­tado. Alguns dos filmes mais im­­portantes realizados a partir da Retomada (1995) da produção nacional tratam do tema: Central do Brasil (1998), Cidade de Deus (2002) e o documentário Ônibus 174 (2002) o discutem, cada um a sua maneira. Antes disso, no entanto, outro longa-metragem, talvez o mais importante produzido no país na década de 80, havia abordado magistralmente o assunto. Trata-se de Pixote – A Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco.

O filme, inédito até agora em DVD no Brasil, finalmente chega às locadoras como parte do relançamernto – em edições restauradas e remasterizadas quadro a quadro, em Los An­­geles – da filmografia do cineasta argentino naturalizado brasileiro.

Neste mês, também serão lançados pela Europa Filmes para locação o campeão de bilheterias Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) e a produção internacional rodada na Amazônia Brin­­can­­do nos Campos do Senhor (1991). Em novembro, será a vez de O Rei da Noite (1975), estrelado por Marília Pêra e Paulo José, e O Beijo da Mulher Aranha (1985), que deu a Babenco uma indicação ao Oscar de direção e ao norte-americano William Hurt a estatueta de melhor ator.

Para 2010, a Europa prepara uma caixa com oito títulos do diretor.

Além dos cinco já citados, estarão presentes na coleção Coração Iluminado (1996), Carandiru (2003) e O Passa­­do (2007), já disponíveis no mercado. Apenas um filme ficou de fora: Ironweed (1987), adaptação do romance vencedor do prêmio Pulitzer Vernônia, do americano William Kennedy. Babenco (e a distribuidora brasileira) não conseguiu negociar os direitos de lançamento em DVD da produção, estrelada por Jack Nicholson e Meryl Streep, ambos indicados ao Oscar por suas atuações, Nos EUA, o filme foi distribuido nas telas pela TriStar, estúdio integrante da Columbia Pictures (hoje pertencente à holding Sony Pictures).

O mais fraco

Pixote, a Lei do Mais Fraco parte do livro A Infância dos Mortos, de José Louzeiro, para contar a história de um grupo de meninos que vivem rua, com idades entre 10 e 14 anos, que se aproximam numa instituição correcional (a Febem) de São Paulo: Pixote (Fernando Ramos da Silva, morto na juvantude em um assalto), Lilica (Jorge Julião), Dito (Gilberto Moura), Diego (José Nilson dos Santos) e Chico (Edilson Lino).

Depois de testemunharem e sofrerem na pele a violência dos guardas do reformatório e a agres­­sividade dos próprios companheiros de confinamento, os garotos fogem e passam a sobreviver de pequenos furtos que acabam desembocando em crimes de maior gravidade e desfechos trágicos para quase todos os integrantes do bando.

Primeiro envolvem-se com o traficante de drogas Cristal (Toni Tornado), que os encarrega de fazer uma entrega de cocaína no Rio de Janeiro – a sequência da chegada dos meninos à Ci­­dade Maravilhosa, onde muitos veem o mar pela primeira vez, é antológica.

Há uma grande confusão du­­rante a transação e eles terminam por roubar dinheiro, que usam para se tornarem cafetões da prostituta Sueli (Marília Pêra, em brilhante desempenho, premiado internacionalmente), cujos clentes também passam a assaltar. Pixote, o mais jovem da gangue, acaba estabelecendo com Sueli com relação filial, um vínculo de proteção.

Rodado com extremo realismo e sem os malabarismos estéticos utilizados por Fernando Meirelles em Cidade de Deus, Pixote atesta tanto o talento de Babenco como exímio diretor de atores quanto como um autor econômico na narrativa, que escapa da tentação do melodrama e resulta perturbadora, enxuta e nada maniqueísta.

Quando lançou o filme, Ba­­benco vinha do enorme sucesso comercial de Lúcio Flávio, o Pas­­sageiro da Agonia, eletrizante dra­­ma policial que conta a história do assaltante carioca, vivido por Regi­­naldo Faria, conhecido como "o bandido dos olhos verdes". O êxito fora do país de Pi­­­xote, que chamou a atenção do mundo para a questão das crianças de rua no Brasil e tem fãs incondicionais como o diretor Spike Lee, fez do cineasta um nome em ascensão e disputado.

Por conta dessa notoriedade, chegou às suas mãos a possibilidade de rodar a adapatação para o cinema do best seller O Beijo da Mu­­lher Aranha, do argentino Ma­­nuel Puig (1932-1990). A primeira opção para interpretar o ho­­mossexual Molina, que divide cela com o prisioneiro político Valentin (Raúl Julia) numa prisão latino-americana, foi Burt Lancaster, mas o veterano ator de O Leopardo não pôde fazer o papel.

William Hurt o substituiu e acabou ganhando o Oscar e a o prêmio de melhor interpretação masculina no Festival de Cannes. O longa, que alavancou a carreira internacional da brasileira Sonia Braga, foi indicado ao prêmio da academia em três outras categorias: filme, direção e roteiro adaptado.

O êxito de bilheteria e de crítica de O Beijo da Mulher Aranha e o prestígio alcançado por Ironweed renderam a Babenco um convite do prestigiado produtor Saul Zaentz (de Amadeus) para dirigir a adaptação do romance Brin­­cando nos Campos do Senhor, de Peter Mathiessen, com Tom Be­­renger, John Lithgow, Aidan Quinn, Ka­­thy Bates e e Daryl Hannah.

A história, considerada por muitos infilmável, foi rodada na Floresta Amazônica e retrata a trágica experiência de dois casais de missionários americanos no inferno verde do norte brasileiro. Apesar de vigoroso, o filme foi um fracasso comercial que merece uma revisão atenta agora, em seu retorno à cena no formato DVD.

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